sábado, 22 de junho de 2013

Verão quente de 93: Raptos, esconderijos e muito suspense


À hora a que está a ler este artigo, o Verão já deve ter começado. Foi hoje às 5h04 de Portugal continental que se iniciou a estação preferida de muitos. Isto contra a "vontade" dos peritos franceses, que garantem estarmos perante o estio mais frio dos últimos 200 anos. 

Como não acreditamos nessas teorias, embora ainda estejamos a tentar perceber onde se enfiou o calor de Junho, resolvemos ir buscar o Verão mais quente dos últimos 20 anos. Não em termos meteorológicos - deixamos essas competências a outros -, mas seguramente no planeta futebolístico nacional. 

Em 1993 o Sporting aproveita as dificuldades financeiras do rival lisboeta e, de uma assentada, contrata Paulo Sousa e Pacheco. A notícia caía que nem uma bomba na Luz. O médio de 23 anos e o extremo de 26 rescindem com o Benfica, alegando salários em atraso, e são apresentados no outro lado da Segunda Circular.

"Os jogadores estavam disponíveis, não fiz mais que a minha obrigação. Sempre respeitei todos os clubes, incluindo o Benfica, mas estava a defender o meu. Lembro-me de quando cheguei ao Sporting, soube que o Benfica tinha contratado o Figo e tive de ir buscá-lo ao Algarve", recorda o antigo presidente do Sporting ao i. 

Mas recuemos um pouco; uns meses antes o então líder leonino anuncia que Paulo Futre vai regressar ao clube que o formou. Poucos dias depois, o extremo assina pelo Benfica. Apesar da conquista da Taça de Portugal no fim da época, os encarnados entram numa situação financeira perigosa. 

Sousa Cintra aproveita para se vingar e, além de Sousa e Pacheco, tenta ainda roubar, embora sem sucesso, os meninos queridos dos adeptos rivais: João Vieira Pinto e Rui Costa. "Esse Verão foi uma novela e das grandes! Os adeptos ficaram eufóricos. Depois o Benfica conseguiu resgatar o João Pinto, pagou-lhe mais. Já faz parte do passado e não quero falar muito disso", diz. 

Terá sido uma vingança? Sousa Cintra mantém uma calma diplomática: "Contratei jogadores que estavam disponíveis. Eles [Sousa e Pacheco] é que quiseram sair, ninguém lhes apontou uma pistola."

NOVELA DÁ UM THRILLER 

Se de um lado o protagonista era Sousa Cintra, não podíamos contar a história sem falar com um dos actores principais da novela. 
Manuel Barbosa, um dos empresários mais influentes do futebol português nas décadas de 80 e 90, na altura representava os dois jogadores. 

O agente FIFA garante ter negociado a transferência de Paulo Sousa para a Juventus em Abril de 1993, no dia de um jogo contra o PSG. "Só não foi anunciada logo porque eles estavam a tentar desvincular-se do David Platt. Depois, no Verão, o Paulo mandou um advogado ligar-me a dizer que ia para o Sporting. Foi uma surpresa, porque ele não tinha razão para rescindir e a Juventus tinha-lhe oferecido quatro vezes mais que o Sporting", explica. 

É aqui que a novela se transforma num thriller, com raptos, esconderijos e muito suspense. "O Paulo foi raptado, ficou escondido na casa de um sportinguista, o Reymão Nogueira, na Quinta da Marinha. Depois foi para o Algarve e esteve sempre sob controlo do actual presidente do Portimonense", conta. 

O caso de Pacheco foi mais simples. Manuel Barbosa informou a direcção do Benfica que não podia reter o jogador devido aos salários em atraso. "Um homem que tem razão não precisa de fugir." Caso arrumado. Mas a narrativa continuava emocionante, pois João Vieira Pinto foge mesmo. Para Torremolinos, "pela mão de José Veiga".

MUNDO CÃO 

Manuel Barbosa retém com facilidade os pormenores do enredo e não se furta a acusações. "Isto é um mundo cão. Ele colabora no rapto do João e mais tarde regressa ao Benfica para uma posição de destaque [director desportivo] e a receber salário do clube", afirma. Mas é então que aparece Valentim Loureiro, qual super-herói de BD a salvar o presidente do Benfica. O antigo líder do Boavista liga à avó de JVP e pede-lhe que informe o neto de que tem de voltar a casa. 

Jorge de Brito vai buscá-lo e impede-o de vestir a camisola do Sporting. "O Rui Costa foi convidado para fazer o mesmo mas recusou logo. Foi um ataque cobarde à fragilidade do momento do Benfica", acusa o empresário.

Desde a fundação dos dois clubes que vários futebolistas trocaram de emblema para o lado rival. Mas não restam dúvidas de que o Verão quente de 1993 continua a marcar a história do futebol português. 

Os adeptos benfiquistas nunca mais perdoaram a Paulo Sousa e Pacheco, mas a atitude de Rui Costa ficou para sempre nos seus corações. Em Alvalade, os jogadores roubados ao rival deram aos adeptos uma pequena vingança pela contratação de Futre. 

Porém, Sousa Cintra bem se deve ter arrependido de ter deixado escapar JVP. É o ainda Menino de Ouro da Luz, que no dia 14 de Maio de 1994, perante uma chuvada monumental no Estádio de Alvalade, faz um jogo perfeito. 

Três golos ao Sporting e vitória do Benfica por 6-3, que acabaria por conquistar o título. Mas por vezes é impossível fugir ao destino. João Pinto acaba mesmo vestido de verde e branco; dispensado por Vale e Azevedo, assina pelo rival em 2000. 

Nas deslocações à Luz é assobiado pelos adeptos que sempre o idolatraram. O futebol não é nem nunca foi o mundo da razão. Aqui manda a paixão.

-Noticia retirada do site do jornal i

2 comentários:

  1. Para mim o JVP continua a ser um dos nossos. Saiu pela porta pequena, sem culpa, e nunca o ouvi ou li algo que traduzisse algum ressentimento ou revanchismo.

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  2. Não vejo diferença nenhuma entre o JVP e o Paulo Sousa. A fazer fé no que está aqui descrito, no verão quente a única diferença é que o Jorge de Brito pôs um cheque à frente do JVP que o fez mudar de ideias, senão tinha ido juntamente com o PSousa e o Pacheco para o Sporting. Ou seja, afinal a fidelidade de JVP teve um preço e não há nenhuma diferença entre os dois. Rui Costa, esse sim é benfiquista de coração e nunca iria para outro grande em Portugal. Por alguma razão fez questão de acabar a carreira no SLB a ganhar menos, quando outros da sua geração não tiveram esse gesto com os seus clubes de formação - com Figo à cabeça.

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