segunda-feira, 4 de novembro de 2013

João Querido Manha: A união Benfica-Sporting


O voluntarismo programático do presidente da Liga de promover um levantamento contra o poder de Joaquim Oliveira e suas empresas conduz o futebol nacional para uma crise perigosa. Talvez a mais importante e profunda das últimas décadas, mas, seguramente, uma grande oportunidade para mudar toda a filosofia da organização.

Ninguém pode dizer que este extremar de posições seja surpreendente, depois de tantos meses com Mário Figueiredo a provocar e a prevaricar em territórios tidos como sagrados. Eleito, sufragado e escrutinado em sucessivas assembleias, o presidente da Liga foi conseguindo manter o seu rumo em busca de soluções meio utópicas, com realce para a centralização de direitos de televisão - ou seja, retirar os direitos à central de Oliveira. 

Ao longo de mais de dois anos, enquanto se afastava ideologicamente de uma maioria de clubes dependentes do dinheiro adiantado pelo empresário, o presidente da Liga não conseguiu finalizar os seus propósitos, mas nunca deixou de lutar. Neste momento, sabemos quem são os opositores declarados, sempre com o FC Porto à cabeça, numa assunção comovente da defesa dos interesses de Joaquim Oliveira, pois os amigos são para as ocasiões. 

Sabemos de que lado está o FC Porto, mas ainda se aguarda que Benfica e Sporting saiam da sua posição envergonhada. Os grandes foram derrotados na eleição de Figueiredo, mas agora preferem ficar longe das polémicas e do desgaste que o tema sensível vai provocar nos próximos tempos. E os leões, depois de terem renegado uma coexistência pacífica de décadas com o FC Porto, também se colocaram numa posição incómoda, de equilíbrio impossível, dada a sua dependência económica de Oliveira.

A união Benfica-Sporting, ainda virtual, mal assumida e mal percebida pelos adeptos respetivos, é toda uma nova perspetiva para os próximos tempos. Como no conceito proverbial de Voltaire, mais uma vez os bons espíritos encontram-se na esquina da vida e estão condenados a entenderem-se. 

Involuntariamente, Mário Figueiredo contribui para separar águas entre os clubes de Lisboa e do Porto, os renovadores e os conservadores. 

Os interesses são antagónicos no negócio da televisão, mas têm o denominador comum da oposição direta ao FC Porto e ao seu sistema de controlo obsessivo da indústria nacional do futebol. Mais importante do que o futuro de Mário Figueiredo é saber se Benfica e Sporting conseguirão unir esforços em prol do objetivo comum de instalar uma nova ordem pelo primado da verdade desportiva. 

- João Querido Manha, jornal Record, 4 de Novembro de 2013

2 comentários:

  1. Perigoso é o actual estado de total descredibilização do futebol nacional que acabará por arrastar todos os clubes para a insolvência à qual não escapará império Oliveira. Utópico é pensar que o actual sistema é perpetuável. Decepcionante é verificar como os jornalistas e comentadores desportivos mantêm o rabinho de fora, como se fossem alheios ao que se passa no futebol nacional.

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    1. Estou de acordo. Até já vislumbro uma crise financeira em que o Oliveirinha não tem dinheiro para cumprir os seus contratos para com os clubes, a ajuizar pelas notícias isso já é uma realidade, o que poderá ter consequências bem mais graves, dívidas aos jogadores, dívidas ao Estado, aos fornecedores, etc.
      Não sei em que é que a demissão do Figueiredo neste momento iria reparar isso quando as eleições são dentro de 6 meses. Será uma manifestação de desespero? Para mim parece que sim.

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