quarta-feira, 3 de julho de 2013

Toni revela histórias inéditas sobre os 3-6 de Alvalade


- Em 1993/94, ganha o título como treinador principal e com um resultado histórico - os célebres 6-3 em Alvalade, num dia notável...


- Antes dos 6-3, em Alvalade, há muito para explicar! Houve o empate em casa com o Estrela da Amadora (1-1)...

- Conte lá qual foi a Mística, o segredo...

- A Mística é ganhar! O plantel de 1993/94 era um bom plantel. Nenhum treinador enjeitaria um plantel como esse!

- Mas conseguiu fazer milagres!

- Isso dos milagres... Tínhamos um plantel de grande qualidade. Ninguém consegue fazer de burros cavalos de corrida! Houve uma pré-época muito turbulenta, com a saída de dois jogadores, Paulo Sousa e Pacheco, outros estavam 'pendurados', mas o Sr. Jorge de Brito foi decisivo. Aliás, a Família Benfiquista não chegou a perceber a importância que ele teve. O Sr. Jorge de Brito é que foi um grande benfiquista, a Família Benfiquista não soube quem teve no seu seio...

- Entre outras coisas, conseguiu evitar a saída de João Vieira Pinto para o Sporting...

- Não foi só com João Pinto, que acabou por ficar! Começamos esse Campeonato por empatar 3-3, nas Antas... A propósito deste jogo, deixem-me contar-vos um episódio que ocorreu em Amesterdão, antes da jornada fantástica na Final da Liga Europa. Estava eu na parte de fora do estádio quando alguem me chamou e me disse: «Não me está a reconhecer?» Quando lhe disse que não, respondeu-me que era o árbitro, Carlos Calheiros. Disse-lhe logo: «Olá! Você ainda me gamou nalguns joguitos!» E nesse ano foi logo no 1.º jogo, nas Antas. Isto a propósito desse jogo que empatámos 3-3, nas Antas...

- Apesar de terem começado mal a época, com três empates, a verdade é que a equipa foi Campeã Nacional...

- Houve uma coisa que os jogadores do Benfica souberam interpretar e essa foi uma mensagem que foi transmitida, desde o início, a todo o grupo - tínhamos um objectivo definido e esse objectivo é sempre para aquele que o Benfica tem de partir. Ou seja, ganhar o Campeonato. Disse aos jogadores que não nos devíamos desviar desse objectivo. Houve meses mais dilatados...

- Está a falar de salários em atraso?

- Claro! Mas eu dizia sempre aos jogadores que estavam num Clube sério e que o Benfica iria assumir as suas responsabilidades.

- Na véspera dos 6-3, em Alvalade, havia jogadores do Benfica com salários em atraso...

- Sim... mas a questão estava em saber esta coisa muito simples que formulei aos jogadores - Em que Clube é que estamos? Estamos num Clube sério, um Clube que vai assumir as suas responsablidades e nós temos de assumir as nossas.

- Daí a importância do treinador que vai à cabine e sabe motivar os seus jogadores. Como é que conseguiu 'dar-lhes a volta'?

- Nós sabemos que no Futebol e a vida também nos dá essa experiência, a vitória é sempre para dividir por muita gente! A derrota é para dividir por pouca gente, normalmente fica para o treinador. No fundo, a vitória é efémera.

- O seu amigo, Carlos Queirós, ficou zangado consigo?

- Toda a gente criticou o Carlos Queirós por ter tirado o Paulo Torres... Agora pergunto eu: Quantas vezes fazemos uma substituição e elas saem ao contrário?
Nesse dia (14/5/94), o Benfica fez uma grande exibição. O Sporting tinha uma grande equipa, talvez uma das melhores equipas do Sporting, com Figo e Balakov, por exemplo. Começámos o jogo a perder, por duas vezes, e lembro-me que estava o Rui Costa a aquecer para entrar para o lugar do Kennedy e o Schwartz ia passar para lateral esquerdo, quando chegámos ao intervalo já a ganhar, por 3-2. 
No início da 2.º parte, fizemos o 4-2 e o 5-2 sentenciou praticamente o jogo. Não deixa de ser curioso, já que me falaram nesse desafio, o facto de passados 19 anos o Carlos Queirós nunca ter falado desse jogo! 
Já estivemos juntos várias vezes, estive a estagiar um mês em Manchester quando ele lá estava, e nunca falámos nesse jogo...

- Ganhou o melhor!

- Sim! Mas também houve um jogo que perdemos, por 7-1, na época 1986/87. Com todo o respeito que tenho pelo John Mortimore, quer como seu jogador, quer como seu treinador adjunto...

- E o Benfica foi Campeão nesse ano...

- É verdade! Lembro-me que quando chegámos ao Estádio da Luz estavam 300 pessoas à nossa espera. Eu era o treinador-adjunto e quando saí do autocarro, disseram-me: 'Vai-te embora! És o cancro do Benfica!'

-Extracto da entrevista de Toni ao jornal O Benfica

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