Denis Diderot, filósofo francês do século XVIII, escreveu um dia que «a imortalidade é uma espécie de vida que nós adquirimos na memória dos homens.» Assim sendo, é na memória dos homens que perdurarão figura e obra de Fernando Martins, ontem desaparecido, aos 96 anos.
Homem simples, que subiu na vida a pulso, teve o Benfica por paixão e no clube da Luz deixou marca indelével. Foi presidente do Benfica num tempo em que a engenharia financeira não tinha virado moda e soube administrar o clube sem gastar o que não tinha.
É possível encontrar paralelismo entre Joaquim Ferreira Bogalho e Fernando Martins (e estamos a falar de dois dos mais importantes presidentes do Benfica!). Ambos com forte sentido de patrimónío; um e outro de contas ao tostão; cada um deles apologista da disciplina e da ordem: ninguém podia estar acima do Benfica.
Quis o destino que me cruzasse com Fernando Martins, que até ao último dia tratei por «presidente».
Em 1982, jogava eu no Portimonense e era Fernando Martins presidente do Benfica, este convidou-me a transferir-me para a Luz «por sugestão de Lajos Baroti.» Acertámos agulhas (naquela negociação e nas duas renovações que se seguiram) e aprendi a respeitar um homem que tendo uma imagem exterior de alguma dureza, era capaz de manter a porta aberta para resolver os problemas de quem o procurava.
Depois, Fernando Martins tinha uma vertente supersticiosa muito marcada, basta dizer que para os jogos, de verão ou inverno, levava sempre o mesmo fato creme; e antes da equipa subir ao relvado, na cabina, normalmente depois do treinador dar as derradeiras instruções, Fernando Martins lá vinha avisar que estivéssemos preparados «porque todos querem ganhar ao Benfica. Ninguém dá um pontapé num cão morto. E se nos querem dar pontapés é porque sabem que mordemos.»
Era esse o momento em que, invariavelmente Carlos Manuel perguntava, «então presidente, não se esqueceu de nada?» E Fernando Martins lá dizia, «ok, o prémio hoje é a dobrar.»
Até nisso Fernando Martins andou à frente do seu tempo. Conseguiu, durante o seu consulado, implementar uma política de salários baixos (quando comparados com Sporting ou FC Porto) e prémios altíssimos. Que funcionou, ou não tivesse conquistado três campeonatos, duas Taças e levado o Benfica, 15 anos depois de Wembley, a uma final europeia.
E fechou o terceiro anel, obra ciclópica que dotou o estádio da Luz de 120 mil lugares.
A seguir, a vulgarização da TV (e o Euro 2004) acabou por justificar um estádio menor.
-José Manuel Delgado, jornal A Bola
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