Este verão são já perto de uma dezena os jogos de futebol de manifesto interesse do público que a RTP decide transmitir no seu canal reservado aos que podem pagar TV por cabo. O Estado poder marcar presença com uma estação de televisão na competição do cabo é, já de si, muito discutível.
Reservar aos que dispõem de meios financeiros para a oferta de cabo jogos de elevado interesse - o último caso foi um Benfica-Belenenses, no passado domingo -, é uma afronta aos que pagam, até na fatura da eletricidade, para que o serviço público de televisão possa existir.
Uma declaração de interesses: sou responsável pela CM TV e, por isso, diretamente prejudicado, na competição pelas audiências, que se deseja frutuosa para os consumidores, sempre que o canal público, no cabo, saca de armas como o futebol em direto, ou outro desporto com elevado índice de consumo.
Mas a opinião que publico sobre este tema há quase duas décadas sempre foi no mesmo sentido. Sempre defendi que o desporto em geral e o futebol em particular são um bem que gera elevado interesse no público.
A seu tempo, bati-me contra a canalização do futebol para ofertas de cabo. Talvez por conhecer o país real, sempre defendi que o desporto devia fazer parte integrante da oferta de um canal de acesso universal pago por verbas públicas. E sempre sublinhei a relevância do futebol português como arma diplomática, veículo de afetos entre este pequeno país europeu e as populações dos estados africanos a que deu origem. Elo entre Portugal e os que entrega à diáspora.
Mas as vistas nunca foram tão curtas. Agora já nem os mais pobres em Portugal têm direito a ver todo o futebol transmitido na televisão pública que o seu parco dinheiro ajuda a pagar.
E não venha o ministro Poiares Maduro dizer que se trata de uma mera decisão de programação. Como? Não se importa de repetir, após refletir um pouco?
- Octávio Ribeiro, jornal Record, 23 de Julho de 2013
Octávio Ribeiro tem toda a razão para estar aborrecido!
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