Benfica, FC Porto e Sporting estão de volta ao trabalho com outros clubes nacionais, no que se pode chamar de regresso à realidade. Diminuem por ora os sonhos de contratações irreais, quando a maior parte dos emblemas tenta, sim, ainda vender algumas das pérolas, tudo na tentativa de realizar encaixes financeiros que permitam fazer frente a balanças desequilibradas. O país que Vítor Gaspar ontem abandonou à sua sorte depois de ter percebido que o tratamento de choque imposto estava a matar o paciente é o mesmo onde vivem estes clubes grandes, que ano após ano gastam mais do que podem acumulando passivos astronómicos. O Sporting foi o primeiro obrigado a pagar uma fatura que desportivamente não será fácil de minorar, mas isso permite aos outros perceber que é necessário arrepiar caminho e apostar no lado certo do deve e do haver.
Entende-se assim um pouco a falta de magia no regresso ao trabalho dos três grandes, também assentes em políticas de comunicação que afastam os craques dos adeptos e as atenções dos patrocinadores, numa espiral de decisões incompreensíveis que trouxe o futebol português onde ele hoje se encontra. Mas não é só. Jorge Jesus, Paulo Fonseca e Leonardo Jardim têm ainda muitos assuntos pendentes, impossibilitados de montar a equipa em redor deste ou daquele, pois não sabem ainda quem fica até ao fecho do mercado. No Benfica os casos de Matic, Garay ou Cardozo são cruciais, mas no FC Porto há Fernando, Otamendi ou mesmo Jackson, e esse sim, obrigaria a uma abordagem rápida para suprir a saída. No caso de Jardim e o novo Sporting, aí então as incógnitas são tantas que o técnico leonino terá mesmo de realizar um trabalho hercúleo para encontrar os tais 20 magníficos que constituirão o plantel em 2013/14.
O choque com a realidade pode doer mas é importante para quem andou demasiados anos a viver acima das possibilidades. Benfica e FC Porto continuarão poderosos. O Sporting terá de saber viver com o que tem. E acredito que pior não deverá fazer.
- Bernardo Ribeiro, jornal Record, 2 de Julho de 2013
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