1. O primeiro grande programa da Benfica TV, versão a pagar, foi escolhido a dedo: uma entrevista do treinador Jorge Jesus conduzida por José Eduardo Moniz, administrador da SAD. E o conteúdo da conversa não defraudou os fiéis assinantes. Ao contrário do que sucedeu em 2012, quando JJ teve de dar uma entrevista que justificasse a sua permanência na Luz - depois de mais um título falhado -, servindo-se da menorização do FC Porto como principal argumento, desta vez falou sem constrangimentos. Um treinador que consegue que o presidente decida a renovação do contrato contra toda a administração (incluindo o entrevistador...) adquire um estatuto acima de qualquer contestação.
2. Jesus não poupou no verbo, quando defendeu que o Benfica está cada vez mais perto de atingir a hegemonia, em Portugal, repetindo, na prática, aquele que tem sido o ideário de Luís Filipe Vieira. Na verdade, a "marca" está plena de vitalidade, a "instituição" vai resistindo aos avanços do FC Porto na soma de todos os títulos... só falta começar a ganhar campeonatos. Para Jesus, até parece fácil...
3. O fragmento mais valioso da entrevista dizia respeito ao caso de Cardozo. E aí JJ revelou um trabalho de preparação exemplar, ao empurrar o odioso da questão para o próprio Vieira. Tratando-se de caso disciplinar protagonizado por um dos ativos mais importantes da SAD, é matéria que compete ao presidente. À sua maneira, Jesus mostrou tática de mestre, apesar de ter feito saber que não mais queria ver Cardozo no Benfica. Estando mais evoluído no conteúdo, não lhe faltaram as habituais "figuras de estilo." Resumindo: só falta começar a ganhar, mas isso, para um dos oito melhores treinadores da Europa, é uma questão de tempo. E da paciência de Vieira.
4. O FC Porto escolheu para treinador o "mr. Simpatia" da Liga. Os níveis de afetividade de Paulo Fonseca em relação à audiência são tais, que se perspetiva uma nova era na exposição pública de um técnico portista. Bem ensinados, cada um dos jogadores tem-se desdobrado em declarações a fazer fé nas qualidades do novo "mr.". Merecidas, de resto.
- António Varela, jornal Record, 7 de Julho de 2013
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