segunda-feira, 29 de julho de 2013

João Querido Manha diz que Fernando Martins foi o último grande presidente que o Benfica teve


No dia 21 de setembro de 1985, o Benfica defrontou o Dínamo de Bucareste num jogo particular que assinalou a inauguração do fecho do 3.º Anel do Estádio da Luz. Acho que foi o dia mais feliz da intensa vida do benfiquista Fernando Martins, um homem de empreendimentos e obras acabadas, que lutou imenso para impor e concluir esse projeto de grandiosidade, mais tarde imortalizado nos anais da FIFA, com a enchente da final do Mundial de Sub-20 de 1991.

Ao tomar conhecimento do óbito do último grande presidente do Benfica não podia deixar de me lembrar das suas complicadas relações com a imprensa, com este jornal em particular. Lembrei-me da célebre esplanada para onde íamos desterrados, os insubmissos, e desse traço de caráter de líder centralizador e atento que assinava pelo próprio punho as credenciais de imprensa.

Não se pense, porém, que o homem, o mestre de cerimónias, o anfitrião por excelência, o relações públicas exemplar, talvez o maior hoteleiro português do século passado, violava os seus princípios de promotor de encontros e relações cordiais, por não gostar do que lia na imprensa.

Nunca tive uma discussão com ele e nem me posso queixar de que me tenha mandado perseguir, insultar ou mal informar. Pelo contrário, só recordo momentos de cordialidade e respeito, alguns de muito boa disposição, como alguns célebres jantares dos presidentes em Zurique, antes dos sorteios da UEFA, ou aquela expedição à América do Sul para contratar Careca e Menotti, quando em pleno lobby do Copacabana Palace nos explicava como escondia os dólares enrolados num saco de plástico por dentro dos calções de banho para iludir os assaltos no calçadão.

Muitos outros tentaram e continuarão a tentar condicionar o trabalho dos jornalistas. Nunca me queixarei disso, pois considero-o um osso do ofício, fruto de uma cultura e de uma educação marcadas pela ausência de liberdade, e habituei-me a enfrentar essas contrariedades com a mesma bonomia e boa disposição com que há 25 anos íamos ver os jogos na esplanada do Estádio da Luz, sujeitos à pressão dos adeptos.

Nem nessa ocasião extrema, Fernando Martins cortou as pontes para o entendimento, que surgiria mais tarde, tal como aconteceu com os presidentes do FCPorto e do Sporting, como nenhum outro conseguiu nestas três décadas. Por isso, só se pode dizer que perdemos um grande homem, um grande industrial, um referencial para o dirigismo desportivo dos nossos dias.

-João Querido Manha, jornal Record

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