Caso Cardozo: Vieira não protegeu devidamente Jorge Jesus

Não se conhece a posição do presidente do Benfica sobre Cardozo, que tem a data de regresso a Portugal prevista para hoje. A culpa até pode ser de Paulo Portas, que provocou a crise no Governo e, com isto, levou a que a entrevista com Luís Filipe Vieira já não se realizasse (talvez aí houvesse algum esclarecimento), mas se há silêncios que funcionam como ouro, não é este o caso. Do incidente ocorrido na final da Taça de Portugal só Jorge Jesus falou. O avançado nada disse e o líder do clube da Luz também não. Impunha-se que o tivesse feito, fundamentalmente por duas razões.

Ao manter-se calado, Luís Filipe Vieira não protegeu devidamente Jorge Jesus. Até se compreende que não reagisse a quente. Pelas imagens que vimos da tribuna do Estádio Nacional percebeu-se o desconforto com o que se passou no relvado, mas ao deixar passar semanas suavizou a atitude do paraguaio. A autoridade do treinador não foi reforçada. Era isso que se impunha. Por outro lado, ainda que o caso tenha sido abordado internamente, todo o plantel devia ter sido "posto em sentido" nessa altura. Neste contexto, um aviso público tinha funcionado como uma espécie de validação de regras, que não podem ser ultrapassadas em circunstância alguma, mesmo que os troféus perdidos no final da temporada tenham provocado grande descontrolo emocional em todos. No FC Porto, uma situação desta gravidade era resolvida em três tempos. E isto faz toda a diferença.

Outro erro. Teve de ser Jorge Jesus a fazer um ponto de situação, ao revelar o conteúdo (ou parte) de uma conversa com o presidente das águias. Na entrevista que deu a José Eduardo Moniz, o treinador do Benfica revelou que não pediu a saída de Cardozo. Por se tratar de um "caso disciplinar", JJ devia ter delegado responsabilidades. Já tinha dito o que pensava sobre o assunto mal acabou o jogo com o V. Guimarães, pelo que as explicações tinham de ser dadas por Luís Filipe Vieira. Ao aceitar fazer este "papel", no canal televisivo do clube, não ganhou nem mais credibilidade nem mais respeito. Embora com o apoio total de Vieira, Jorge Jesus parte para a temporada 2013/14 com mais pressão do que nunca. 

O sorteio do calendário da Liga não ajudou, os desaires de Maio ainda não foram esquecidos e o FC Porto pelo que já se viu nos jogos de pré-época e na estratégia de definição do plantel, mostra que não irá facilitar a vida aos encarnados. Bem pelo contrário. 

Mesmo com a mudança de treinador e as saída de João Moutinho e James Rodriguez para o Mónaco, a equipa dos dragões dá - pelo menos para já - mais garantias. A luta, ao contrário do que Bruno de Carvalho, presidente do Sporting, ainda quer fazer crer, será a dois. 

JJ sabe que, desta vez, não há falhanços possíveis. Nenhum será perdoado. 

- Sandra Lucas Simões, jornal Record, 16 de Julho de 2013