Luís Sobral critica a entrevista de Jorge Jesus ao jornal Record

A entrevista de Jorge Jesus ao jornal «Record», este domingo, tem uma ideia extraordinária. Tão extraordinária que, a ser exatamente como é dita pelo treinador, é grave e demonstra como as coisas funcionam no Benfica.

Antes de expor a minha opinião, a citação em causa:

«Optei por dar mais dias de descanso para a Champions do que para o campeonato. Isso foi algo que se hoje voltasse a acontecer não faria, porque já percebi que os sócios do Benfica querem é ser campeões nacionais. Isso é a prioridade, a Liga dos Campeões é importante mas não valorizam tanto como ser campeão nacional, e pensava eu que os sócios do Benfica, como há muito tempo não chegavam lá, queriam ir longe na Champions».

Isto demonstra, do meu ponto de vista, o seguinte:

1. Os objetivos do Benfica não estavam claramente definidos antes do início da temporada. Não consigo entender como é isso possível. Os objetivos de uma equipa, um clube, uma empresa devem estar de acordo com os meios disponíveis. E devem ser claros para toda a gente. Podem ser revistos durante a «viagem», claro. Mas têm de estar definidos quando se prepara a temporada.

2. Nesta entrevista só há Jorge Jesus. Ele sentia. Ele decidia. Ele pensava. Ele. Um clube não pode ser o treinador. Muito menos quando se trata de definir os objetivos da temporada. Isso é algo que deve envolver os dirigentes, o treinador e os jogadores. E, repito, deve ser claro. No discurso de Jesus, ele aparece sempre como a pessoa que tudo decide, tudo faz, tudo sabe. E que se engana. Óbvio.

3. Os sócios. Os objetivos de um clube não devem ser escolhidos em função do que se pensa que os adeptos pensam. É para saber o que os sócios desejam que existem eleições. Mas só de tempos a tempos, caso contrário o clube seria gerido em constantes votações de braço no ar. Quando votam, os sócios delegam na direção a gestão do clube, de acordo com um programa, com ideias, com promessas. E ponto.

4. Por último, a entrevista é grave porque demonstra que Jorge Jesus não conhecia o plantel que tinha. Achava que era possível ganhar as duas competições mais importantes da temporada. Achava que tinha plantel para isso. É uma distância em relação à realidade que devia preocupar. A direção, se por acaso deseja ter alguma coisa a ver com os objetivos para 2012/13. E os sócios, que um dia destes vão ser chamados a votar.

-Luís Sobral, site Mais Futebol, 17 de Junho de 2012