segunda-feira, 11 de março de 2013

"Aimar vintage, um luxo!"


As estrelas fazem falta ao futebol, são o alimento da alma dos adeptos e quando não jogam não podem justificar a razão porque, na hora da distribuição do talento, foram mais beneficiados que os outros. 

É claro que é inevitável o caso e morte das estrelas, uma lei do universo à qual não é possível dar a volta. Mas enquanto são visíveis, é deixá-las brilhar, para encanto dos olhos de quem as vê. E, para que fique claro, as estrelas não têm clube, são património dos adeptos do futebol, de todos os que gostam de ver a bola bem tratada. 

Podem estar de encarnado, azul, branco, preto, verde ou amarelo, não importa, Cristiano Ronaldo, Messi, Ibrahimovic, Gareth Bale são fantásticos sem fronteiras; e há outros que, mais perto do fim da carreira, continuam a espalhar talento - Giggs e Zanetti, por exemplo - fazendo com que absorvamos ainda com maior voracidade os pingos de classe que as suas chuteiras libertam. 

É nesta última categoria que está Pablo Aimar - «é o único jogador por que vale a pena pagar bilhete na Argentina», disse um dia Diego Maradona, antes de El Mago rumar a Valência - intermitente nas aparições de águia ao peito, quando está a cumprir a quinta época no Benfica. 

Há cinco anos, era Quique Flores treinador dos encarnados, o Benfica foi jogar a Guimarães e tinha 4999 golos marcados, desde 1934, no Campeonato. 

O golo 5000 foi obra de Suazo que recebeu um passe de letra de quarenta metros de Pablo Aimar e concluiu a jogada com sucesso. 

Até esse momento já tinha visto passar e cruzar de letra muitas vezes. Não tinha era visto ninguém fazer um lançamento em profundidade de letra. E foi, juro, das coisas mais espantosas a que já assisti num campo de futebol! 

Ontem, na Luz, Jorge Jesus decidiu dar alguns minutos a Pablo Aimar. O argentino entrou em campo e imediatamente pareceu um peixe fora de água, sem ritmo, sem competição, meio perdido na vastidão do relvado. 

Outro jogador qualquer não escaparia a uma assobiadela, mas como Aimar não é um jogador qualquer o Terceiro Anel poupou-o (também porque estava 4-0), foi tolerante. E acabou por receber a justa recompensa, já no último minuto do tempo de compensação, quando Pablo Aimar roubou a bola a um gilista no meio-campo encarnado, progrediu cerca de 30 metros com o esférico no pé e a cabeça no ar e fez um passe perfeito, daqueles que são geometria no espaço, que rasgou a defesa minhota e permitiu a Salvio o cruzamento rasteiro para Gaitán fixar, com o mais belo golo da noite, o placard em 5-0. 

É normal concordar-se com o facto de que os velhos roqueiros nunca morrem. É por isso que cada vez que um deles pisa o palco, a plateia estremece, à espera que aconteça alguma coisa especial. 

Foi isso mesmo que sucedeu ontem na Luz. Aimar vintage. Um luxo...
 
 - José Manuel Delgado, jornal A Bola, 11 de Março de 2013

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