quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Leonor Pinhão e os novos mind games do Futebol Português


Seja pelas circunstâncias, seja por esperteza, este ano os mind games estão refinados. Em comparação com temporadas anteriores registou-se um evoluir do conceito e da sua prática para patamares mais elevados, ainda que escorregadios. 

Este ano tudo gira à volta de Jorge Jesus e de Vítor Pereira. É uma dupla em dose dupla no que diz respeito aos mind games. 

Há a primeira questão do bate-papo entre os dois. E até neste capítulo há diferenças a registar. Estão ambos mais cordatos quando trocam recados através dos meios normais de comunicação, repararam? 

Já ouvimos Jorge Jesus e Vítor Pereira elogiar o alto nível da competitividade nesta Liga que é a mesma coisa do que se elogiarem a eles próprios, o que é normal, mas elogiando também o rival, coisa que não é normal na nossa praça e que até pode ser mal interpretada pelas facções mais extremistas nos dois valorosos campos. 

Com o Benfica e FC Porto a lutar pelo título num taco-a-taco bonito de se ver e com as duas equipas ainda envolvidas nas suas respectivas competições europeias - também é bonito de se ver -, os mind games da actualidade têm vindo a versar o velho axioma «não há rabo para duas cadeiras», proclamado por Bella Gutmann há mais de meio século quando foi acusado de ter perdido um campeonato para conseguir ganhar a sua segunda Taça dos Campeões Europeus para o Benfica. 

O axioma de Gutmann tinha sido desmentido pelo próprio Gutmann no ano anterior em que ganhou para o Benfica o campeonato e a primeira Taça dos Campeões. Mas, compreende-se e aceita-se o desabafo do treinador húngaro em 1962. Tinha ganho ao Real Madrid a final da prova mais importante da Europa e ainda havia benfiquistas a chateá-lo por ter perdido o campeonato para o Sporting. «Não há rabo para duas cadeiras», respondeu-lhes e foi assim que a frase entrou para a História. 

Há coisa de poucas semanas foi Jorge Jesus quem relançou o axioma de Gutmann, expressando-o pelas suas próprias palavras de uma outra forma: «Quem sair mais cedo da Europa tem mais hipóteses de ganhar o campeonato», disse o treinador do Benfica. Fez bem em dizê-lo mesmo que nada garanta que venha a ser aplicável. 

O FC Porto, por exemplo, já soube o que era perder um campeonato para o Benfica e ganhar uma Taça dos Campeões, em 1987, e somar as duas coisas com grande à vontade, como aconteceu em 2004. 

Quanto à Liga Europa, em que o Benfica está actualmente envolvido, o FC Porto já ganhou por duas vezes o troféu em anos - 2003 e 2011 - em que foi campeão em Portugal. 

A discussão é, portanto, estéril. Tratando-se de futebol, nada é certo. E é tão possível ganhar-se tudo, como aconteceu ao FC Porto no ano de Villas-Boas, como é possível perder-se tudo ou quase tudo, como aconteceu ao mesmo FC Porto em 1984, ano em que perdeu o campeonato para o Benfica e em que perdeu a final da Taça dos Vencedores das Taças para a Juventus e ano em que acabou por só ganhar a Taça de Portugal, vencendo o Rio Ave no Estádio de Oeiras. 

Tendo em consideração todos estes factos passados, que vantagem pode recolher Jorge Jesus em vir à liça com este tema? Lançando a questão, Jorge Jesus obrigou Vítor Pereira a expor-se, eis a vantagem. 

O treinador do FC Porto respondeu educadamente ao treinador do Benfica afirmando o seu desacordo frontal com a ideia de que para ganhar em território nacional é preciso perder no estrangeiro. 

São estes os novos mind games. Se o FC Porto de Vítor Pereira ganhar o campeonato e não ganhar a Liga dos Campeões - ou vice-versa -, Jesus acertou em cheio. Se perder as duas coisas, Jesus acertou duas vezes em cheio. Se o FC Porto for campeão nacional e europeu, aí o caso muda de figura... 

A segunda questão que tem ligado os dois treinadores é idêntica, trata-se da respectiva continuidade nos seus postos de trabalho em 2013/2014. 

Falamos de contratos, pois claro. A imprensa não tem deixado passar em claro que, no final desta temporada, Vítor Pereira pode sair do FC Porto e Jorge Jesus pode sair do Benfica. 

Nenhum dos treinadores tem mostrado grande vontade em espraiar-se sobre renovações contratuais, tema que por vezes lhes é colocado por jornalistas atrevidos. 

De um modo geral, a ideia da eventual saída de Jesus incomoda mais os adeptos do Benfica do que a ideia da eventual saída de Vítor Pereira incomoda os adeptos do FC Porto. 

Também a ideia da saída de Jesus do Benfica directinho para o Dragão, incomoda muito mais os adeptos do Benfica do que os do FC Porto. 

E incomodará também, necessariamente, Vítor Pereira. Isto anda esquisito. 

Este ano os mind games estão para durar.

- Leonor Pinhão, jornal A Bola, 28 de Fevereiro de 2013

1 comentário:

  1. Sou Benfiquista e não me incomoda nada que JJ vá para o porko, aliás nem o JJ nem qualquer dos milhares de jogadores que se diz já terem sido desviados. Quem prefere jogar num clube assumidamente corrupto está lá bem, muito bem.

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