João Querido Manha e o último dia do mercado: O síndroma Yannick Djaló

As últimas horas do mercado futebolístico de verão proporcionaram cenas de tensão e nervosismo indescritíveis onde quer que se encontrassem jogadores com expectativas de serem negociados. Os casos mais emotivos foram vividos no estágio da Seleção Nacional em Óbidos onde pelo menos dois jogadores, Nani e Fábio Coentrão tinham o sentido num golpe de teatro de última hora, o que acabou por ocorrer a seguir ao jantar com o lateral-esquerdo a viajar entre Madrid e Manchester, entre a desmotivação e o renascimento.

A desorganização dos clubes, muitos deles a roçarem o amadorismo puro e simples, fez gorar vários negócios, incluindo-se neste rolo caso do próprio Fábio Coentrão e, por arrasto, o do brasileiro Siqueira que veio parar à Luz, quando já se sentia a entrar no Bernabéu.

Faltam explicações e uma comunicação credível que nos façam compreender as razões que levam um clube com 50 milhões de orçamento ou mais a adiar até ao último minuto uma aquisição há muito projetada. Os clubes e os agentes demoraram (e especularam) tanto as óbvias decisões, que mais uma vez os prazos foram queimados e o síndroma Yannick Djaló, paradigma da incompetência administrativa nas transferências de última hora, generalizou-se e acabou afetando os países mais circunspectos e alguns dos clubes mais ricos.

Enquanto o Sporting passava com lucro substantivo por uma avaliação importante, com os credores a procurarem não desperdiçar as melhores oportunidades de capitalizar, o Benfica aproveitou a ocasião para confundir ainda mais os analistas da sua política desportiva, exercendo opções surpreendentes e inexplicáveis. A todas as entradas efémeras e saídas do plantel encarnado nos últimos dois meses, uma autêntica placa giratória de interesse duvidoso, acrescentou ontem um risco no nome de Cortez na lista para a Champions, em mais uma decisão incompreensível a afetar o único reforço da temporada que entrou a cem por cento nas escolhas do treinador.

Mais do que a incoerência da gestão desportiva, choca a ligeireza das opções técnicas, tornando-as incompreensíveis ao adepto comum. Muito pior que enviar jogadores em rodagem para o Abu Dhabi ou para a segunda divisão espanhola é não perceber o critério de escolha para o plantel nem a indefinição das tomadas de posição em tempo útil, de forma a evitar a confrangedora imagem comunicada na segunda-feira à noite, em que a "parceria" com os colossos de Madrid e Manchester pouco serve de atenuante ou justificação.

Quem fez o scouting de Cortez? Quem o avalizou? Quem o contratou? Quem o tornou titular o único novo titular da época? Quem o coloca fora da Champions? Quanto custam estes disparates? 

- João Querido Manha, jornal Record, 4 de Setembro de 2013