Bernardo Ribeiro: Benfica, que politica desportiva?

O Benfica tem sido a única equipa capaz de ombrear com o FC Porto na luta pelo título nas últimas épocas. Sim, o Sp. Braga tenta dar um ar de sua graça, mas só a formação orientada por Jorge Jesus se tem batido de forma constante, ainda que caindo sempre nos momentos da verdade desde o título de 2009/2010. Como pontos fortes o Benfica apresenta com este técnico o campeonato conquistado na primeira época, futebol vistoso a espaços e a presença numa final europeia. O trabalho do treinador junto à credibilização que Luís Filipe Vieira conseguiu trazer ao clube da Luz tem chegado para que ambos aguentem a soma de desaires futebolísticos consecutivos, falhando constantemente a promessa da devolução aos grandes da Europa. Afinal, o clube que não consegue dominar sequer nas competições internas.

Nem tudo corre mal no Benfica. Comparado com os tempos de Manuel Damásio ou Vale e Azevedo o clube está um luxo. Mas começa a cansar a repetição do passado para justificar os falhanços do presente. Vieira investiu já no futebol encarnado aquilo que nenhum presidente sonhou gastar. Provavelmente mais do que os três anteriores... juntos. E nem por isso a vertente desportiva tem sido um sucesso. Culpa própria ou má interpretação técnica, a verdade é que o líder é o último responsável e mesmo contando com a última entrevista à Benfica TV - até no órgão oficial do clube sofreu para dar explicações -, tem falhado em passar informação sobre casos estranhos.

É óbvio que os destinos de um clube devem ser geridos de dentro para fora e que as questões levantadas por jornalistas e opinião pública não passam disso. Mas quando a massa associativa leva anos sem ganhar e começa a ter dificuldades para perceber onde se gastam tantos milhões, então pode estar a instalar-se o cancro da dúvida algo que destrói instituições em menos de um fósforo. E é muito difícil entender neste arranque de época o que foi o mercado do Benfica. E algumas opções de Jesus. Parece estar instalada na Luz uma esquizofrenia que nada tem a ver com política desportiva mas sim com uma série de avanços e recuos e negócios por explicar que em nada abonam arautos da transparência. 

As explicações de Vieira sobre Pizzi e Fariña não colaram, mas o episódio Cortez junta ao pior da planificação uma irresponsabilidade técnica que não pode, ou não deve, fazer parte de um Benfica que gasta milhões e pretende, para além de ser campeão, chegar à final da Champions. Como é que se risca de um momento para o outro o único reforço titular? Só com explicação divina. 

- Bernardo Ribeiro, jornal Record, 5 de Setembro de 2013