sábado, 28 de setembro de 2013

António Oliveira: Choradinhos e compensações


A procissão ainda vai no adro e os ânimos já começaram a aquecer. Esta semana assistimos a "arrufos" e discussões que envolveram dirigentes, treinadores e até polícias. Foi deles que se falou, desviando as atenções dos verdadeiros protagonistas do futebol: os jogadores. 

Neste início de temporada, bastaram algumas arbitragens de fraco nível para que os clubes se começassem a posicionar nas suas estratégias de vitimização. Fazendo jus ao ditado que diz que "quem não chora não mama", os principais emblemas do nosso futebol já começaram com o seu habitual "choradinho" para exercer pressão e tentar capitalizar isso a seu favor em jogos futuros.

Todos procuram uma espécie de "lei da compensação", tentando evitar que arbitragens desfavoráveis se repitam. É um triste hábito do futebol nacional que acaba por dar razão à teoria de que, por norma, os maiores clubes são sempre mais beneficiados do que os outros. Precisamente por isto: pela influência psicológica e carga negativa que cedo se preocupam em transmitir para o sector da arbitragem.

Perante o que se tem passado, como se poderão comportar os árbitros nos jogos dos clubes grandes? Em lances duvidosos, a tendência será decidir a favor destes. No subconsciente dos juizes estarão sempre as críticas anteriores e isso, quer se queira quer não, acaba sempre por ter alguma influência.

Já era altura de colocar um travão a este tipo de comportamento. Os presidentes da Federação e da Liga de Clubes deviam tomar uma posição firme contra este tipo de declarações e criar condições para que o futebol jogado e falado se centrasse nas táticas dos treinadores e nas defesas, passes, remates e golos que os jogadores fazem.

Numa semana em que Estoril, Rio Ave e V. Guimarães deviam receber todos os elogios pela forma como se bateram contra as principais equipas nacionais, o seu mérito foi praticamente despercebido pelo desvio de atenções que foi gerado. Marco Silva, Nuno Espírito Santo e Rui Vitória mereciam que o seu trabalho e o dos seus jogadores fosse mais reconhecido.

FC Porto e Sporting não jogaram bem na jornada anterior e nem as arbitragens desculpam as fracas exibições que tiveram. Penso que Paulo Fonseca se precipitou a falar de Jorge Jesus e das arbitragens, porque deu força ao rival e também porque essas palavras podem vir a virar-se contra si um dia mais tarde. Louve-se a atitude de Leonardo Jardim que até agora não procurou refúgios nos homens do apito.

Quanto a Jorge Jesus, podia ter saído como o grande vencedor da jornada, depois de ter feito o seu "mind game" e ganhar pontos a dragões e leões. No entanto, no final do jogo de Guimarães identificou uma oportunidade para reacender a chama da sua ligação com os benfiquistas, depois de um dececionante final de época sem títulos e do prolongado "caso Cardozo", com muitas vozes críticas a emergirem. Acredito sinceramente que nunca lhe terá passado pela cabeça agredir um polícia, a ideia era outra, mas é um facto que se excedeu. Foi pior a emenda que o soneto.

Mas o campeonato continua. Pede-se mais futebol e menos conversa em jornada repleta de jogos que apelam à história do futebol nacional. A ver vamos se o FC Porto mostra maior qualidade na receção ao V. Guimarães, se o Benfica continua a crescer de rendimento contra o Belenenses e se o Sporting dará boa resposta em Braga, perante um adversário com argumentos para discutir a vitória. 

- António Oliveira, jornal Record, 27 de Setembro de 2013

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