Toni afirmou há dias, num debate na Benfica TV, que Portugal está cheio de treinadores de bancada, gente que tem mania que sabe de futebol e não se coíbe de opinar sobre os jogos, as equipas e as cores das botas. E para ilustrar esta afirmação, Toni deu um exemplo concreto: eu. Fez muito bem.
Fez mesmo bem, não estou a ironizar, não há melindre. Toni disse que até eu, um jornalista económico, falo de futebol. E brincou dizendo que ele próprio também gostaria de comentar a economia.
Toni tem razão: não dei conta que algum jornal tenha convidado um treinador de futebol para comentar a proposta de Orçamento do Estado que há dois dias a ministra das Finanças apresentou à Assembleia da República.
No meu caso, a humildade é prévia: nesta coluna escrevo quase sempre sobre aspetos da economia do futebol. Felizmente (às vezes infelizmente) nunca, me falta assunto. Os adeptos não têm hoje como não estar atentos a aspetos essenciais ao equilíbrio financeiro dos clubes, aos salários dos jogadores, às suas dívidas, receitas e custos. Só muito raramente escrevo sobre jogos e normalmente só para celebrar um feito da Seleção Nacional ou uma conquista europeia de um clube. Mas se me perguntarem o que acho de extremo-esquerdo qualquer, respondo na ponta da unha, com mais certezas do que Copérnico tinha sobre a centralidade do universo.
O futebol é assim, vive de paixões e de envolvimento. É natural que isso seja irritante para quem tenha estudado, para quem faça disso profissão, para quem tenha triliões de horas de jogos com braçadeira de treinador. Mas é também isso que enche estádios, que faz abrir as goelas, palpitar o coração ou gelar o sangue.
Os jogadores fazem rolar a bola, os treinadores fazem mover as equipas e os adeptos fazem girar os clubes. E não falta quem, já agora, avalie os árbitros. Começando pelos... treinadores.
Já agora: na economia não é assim tão diferente. Não há cão nem gato que não dê opinião sobre impostos, desemprego ou PIB. E neste caso, mesmo que se digam muito erros, ainda bem. Porque é importante que sintamos o que nos rodeia como nosso.
- Pedro Guerreiro, jornal Record, 17 de Outubro de 2013
Davas era um bom opinador de lambe falos!
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