domingo, 6 de outubro de 2013

Alexandre Pais: Vírus que afecta o Benfica não vai ser fácil de extinguir

 

Comparo e não vejo, avaliando percursos e aptidões técnicas individuais, que o Sporting tenha esta época um plantel melhor do que o de 2012/13. O que mudou então para o abismo que separa o rendimento de hoje da equipa com o do passado? Muitas coisas, certamente, e a liderança e a proximidade de quem decide estarão entre as mais relevantes. Mas o que se alterou radicalmente - por influência do novo "clima" que permite a afirmação da capacidade de Leonardo Jardim - foi a atitude dos jogadores em campo, que saltou de uma indiferença irritante para um foco no desempenho e uma determinação de ferro.

Esta velha história da atitude, parecendo simples - porque depende da vontade - tem que se lhe diga. E apresenta desde logo, uma característica implacável: não aceita quebras ao contrário, exige ser apaparicada todos os dias. Veja-se o que sucedeu aos leões no único dia em que abrandaram o ritmo e baixaram a guarda. Lembram-se do empate com o Rio Ave, em Alvalade? Pois é, não pode ser às vezes, terá de ser sempre.

É esse o drama atual do Benfica. Grandes executantes, o melhor plantel da década, um treinador experiente e "feito" ao clube, adeptos incansáveis, mas uma maneira amorfa e inaceitável de abordar os jogos e enfrentar os adversários. Em cada desafio são onze; o que nunca formam é uma equipa.

Insisto na teoria: a gestão do caso Cardozo - com a imposição dos 15 milhões a impedir a venda e a desvalorização do ativo a proibir a prateleira na equipa B -, e a desautorização do técnico, constituíu um péssimo fecho de temporada e marcou a fogo a seguinte. Pode Vieira ter perdoado, pode Jesus ter sido convencido, pode Cardozo ter jurado não repetir a graça, pode ter acontecido tudo em nome dos interesses financeiros. Mas os outros jogadores não esqueceram, o grupo de trabalho não voltará a ser um só, pois permaneceu no balneário e já se anichou nas cabecinhas, onde resiste, o vírus da fraqueza da autoridade e da contestação impune do líder.

Esse vírus só pode ser destruído com vitórias mas é, ele próprio, um gerador de apatias e e um fabricante de derrotas. Não vai ser fácil extingui-lo. 

- Alexandre Pais, jornal Record, 5 de Outubro de 2013

1 comentário:

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