João Bonzinho: Parece que os jogadores estão a fazer a cama ao treinador

 

Se os jogadores do Benfica não estão a fazer a cama ao treinador, pelo menos parece. Se a equipa está bem, como diz o treinador, então não é o que parece. Entre o que é e o que parece costuma ir uma diferença. Como diz o povo, nem tudo o que parece é. Mas esse não parece ser o caso do Benfica. No Benfica, o que parece... parece que é. Se não entendem, eu explico.

Não parece o Benfica estar mal? Parece absolutamente normal a relação entre treinador e jogadores? Será que parece que a mensagem de Jesus chega aos jogadores? Parecem eles motivados alegres, felizes? Será que se vê de fora o que ninguém vê lá dentro ou se vê perfeitamente lá dentro o que apenas não se quer admitir ser visto de fora?

Como explicar que o Benfica ainda esteja tão mal com mais de três meses de competição esta época? Como explicar que uma equipa que não perdeu um único dos seus principais jogadores e ainda se reforçou como se reforçou não seja capaz de se aproximar sequer do nível que exibiu na última temporada?

Eu digo-vos o que parece. O que parece é que o treinador do Benfica já não tem mão na equipa; ou então a equipa já não quer a mão do treinador. 

O que parece é que os jogadores estão a fazer a cama ao treinador. Ou então é o treinador que não consegue fazer uma boa cama aos jogadores.

O que parece é que os jogadores do Benfica já não ouvem o treinador. Se ouvem, então é o treinador que já não se consegue fazer ouvir. 

O que parece é que este projeto encarnado está falido. Pelo menos parece. E se está falido, já não há condições. E se não há condições é preciso coragem para o assumir.

Não se trata de julgar as capacidades técnico-táticas de Jorge Jesus. Ainda há dias aqui escrevi que Jesus é (será) um grande treinador e que isso, obviamente, não se discute, muito menos por quem não tem, como é o meu caso, qualificação para avaliar as capacidades técnico-táticas de um treinador.

Trata-se de procurar entender o que se passa com este Benfica ao cabo de mais de três meses de nova competição. Trata-se de analisar o que parece claro. Trata-se de procurar explicações para o que parece evidente.

Claro e evidente é o mau estado anímico e competitivo da equipa, que se mostrou incapaz de começar bem o campeonato, incapaz de mostrar bom futebol até no seu próprio estádio, e sobretudo incapaz de levar à montra europeia a imagem que lá deixou no final da última época, quando a Europa viu bem como o Benfica sabia jogar bom futebol.

Ora se sabia porque deixou de jogar? O treinador é o mesmo os jogadores são praticamente os mesmos, a estrutura é praticamente a mesma. Só pode, pois, ter mudado o estado emocional. Pelo menos, a mim, é o que parece.

É preocupante a derrota do Benfica em Paris? Não. O que preocupa os adeptos não é ter perdido, aposto, o que os preocupa é o modo como a equipa se deixou derrotar. Justificar aquele resultado negativo de 3-0 apenas com a capacidade da equipa francesa, como fez Jorge Jesus, parece muito fácil. O PSG é muito forte, nenhuma dúvida, mas isso não explica tudo.

Difícil será justificar verdadeiramente a pobre exibição da equipa, sobretudo na primeira parte do jogo. O Benfica jogou tão pouco em Paris que pareceu impossível. A equipa não teve atitude, não teve caráter, não foi agressiva, não foi determinada, não pressionou, jogou sem alegria e não mostrou ter ideias para discutir o jogo.

Para quem está de fora, não é realmente possível perceber, repito, se é o treinador que já não consegue fazer passar a mensagem, se são os jogadores que não conseguem ou não querem recebê-la. O que se percebe é que a mensagem não passa ou pelo menos não passa com a mesma eficácia da última época, quando o Benfica, por esta altura, jogava futebol de muito bom nível.

Não se trata de acusar o treinador ou de acusar os jogadores, trata-se de perceber se entre um e outros se está a perder alguma coisa decisiva.
Que a equipa não está nada bem, não está, e não vale a pena Jorge Jesus procurar escondê-lo, porque escondê-lo é tapar com uma péssima peneira o já de si pouco sol deste início de outono.

Neste Benfica, há o que parece, há o que é e há ainda o que não se percebe. Por exemplo, não se percebe o que quer o Benfica do jovem André Gomes, que parece destinado a jogar mais ou menos de três em três meses, e portanto não se percebe qual é a ideia do clube para o desenvolvimento do jogador.

É das coisas que menos se percebe. Em relação a jogadores, posições e opções, há outras coisas que não se percebem, mas em todos os casos tem o treinador o direito de dizer que ele é que sabe. E na verdade é.
O problema é se já não há condições. É o pior de tudo.

- João Bonzinho, jornal A Bola, 4 de Outubro de 2013