Bernardo Ribeiro: Triste imagem do Benfica em Paris

A triste imagem deixada pelo Benfica em Paris avolumou o imenso mar de dúvidas em que se encontra envolta a equipa de Jorge Jesus. Desde a incapacidade de encontrar um lateral direito titular à inoperância manifestada por um meio-campo em que Fejsa e Matic parecem atrapalhar-se um ao outro, passando por um ataque onde Cardozo surge desapoiado, Djuricic demora em acertar e Lima se vê relegado para o banco quando a época passada foi o melhor marcador. Tudo isto são temas que o técnico tem de esclarecer quanto antes. Porque começa a ser difícil aos adeptos do clube da Luz continuar a acreditar que a manutenção de treinador foi uma escolha acertada de Vieira. 

O Benfica tem 8 jogos oficiais, 4 vitórias, 2 empates e duas derrotas. Isto com um score de 11-9. Pouco, medíocre mesmo, para o que é anunciado como o melhor plantel dos 30 anos, uma excitação que o presidente vai pagar cara, por andar longe da realidade.

Mas verdade é que o grupo às ordens de Jesus tem de facto, qualidade. Muita até. O que não parece estar a passar são as ideias do técnico. O Benfica está longe do futebol-espetáculo dos primeiros anos ou sequer da gestão inteligente que conseguiu fazer durante parte da época passada. E Jesus tem de fazer algo se quer acertar o passo a tempo de fazer uma boa temporada. Fica a questão se ainda irá a tempo de evitar a falência de uma equipa que, de momento, parece andar à deriva.

É possível acreditar que sim, desde que o técnico use de uma terapia de choque, não só em relação ao que alguns jogadores precisam de fazer, como no sistema que tem vindo a utilizar. A devolução de Enzo Pérez ao miolo parece urgente, assim como o assumir de um futebol mais ambicioso, em que Lima e Cardozo se encontram no ataque, numa parceria que já deu muitas alegrias. O encaixe de Djuricic e Markovic e de Fejsa e Matic urge também, provavelmente com algum deles a visitar o banco. E se neste momento Matic e Markovic são vistos como os que mais merecem a titularidade, urge também que o futebol praticado volte a fazer sentido. Porque se ainda há quem vá engolindo que são as arbitragens que estão a prejudicar o clube, essa ideia vai perder ainda mais fiéis com exibições pardacentas como a de ontem.

O Benfica escapou à goleada em Paris porque a equipa de Laurent Blanc mostrou pouca vontade de fazer mais e optou por uma segunda parte em ritmo de treino. Foi mesmo muito pouco. Principalmente se a ideia de chegar à final na Luz é para levar a sério. Tem Jesus a corda na garganta? 

- Bernardo Ribeiro, jornal Record, 3 de Outubro de 2013