António Salvador é, por natureza e formação, um pragmático. Mesmo que não contasse a sua condição de empresário, ficaríamos esclarecidos com o seu "modus operandi" desde que é presidente do Braga acima de tudo, tem em conta os benefícios para a agremiação.
Jardim escolheu o princípio das férias, depois de uma época brilhante, para se exceder.
Salvador escolheu a mesma ocasião para se transformar numa virgem ofendida.
Pergunto: sou só eu que estranho a coincidência?
Jardim é, desde que Pinto da Costa o elogiou e - automaticamente - condicionou, um treinador da órbita do FC Porto.
Como Domingos Paciência que foi emblema da casa. Como Pedro Emanuel. Como Sérgio Conceição. Como Nuno Espírito Santo. Como Fernando Couto.
Mais aqueles que se espalham pelos escalões secundários. Dir-se-ia que esta distribuição de gente próxima nada tem de aleatório.
Dir-se-ia mais: além dos empréstimos de jogadores, a "máquina" também cede treinadores.
Em matéria de rodagem, vale mais do que uma equipa B. Não é preciso ser génio - basta não ser burro - para perceber as mais-valias.
Não é um vira nem corridinho, é apenas um baile mandado.
Caso Vítor Pereira saia para um Olympiacos qualquer, com uma "proposta irrecusável", não é preciso perguntar ao polvo Paulo - ou a outro "polvo qualquer" - quem será o substituto.
Mudo de assunto, porque não há como fugir: vivemos, todos, uma semana de vergonha.
O nível desceu perigosamente, o que se lamenta. De ambos os lados, o que toma tudo pior.
Não me revejo na linguagem, no timing, na mistura entre domínio público e esfera privada.
Ainda assim, distingo. Há três décadas que, jogo a jogo, modalidade a modalidade, as provocações de um lado têm até cântico próprio, ao ponto de parecer mais importante apoucar do que comemorar.
Há verdades que a Justiça decidiu desconsiderar.
Há um permanente tom incendiário (quem lançou o grito "nós só queremos ver Lisboa a arder"?) que não pode, agora, por causa de um treinador que se excedeu, ser branqueado e esquecido.
Há um clima de intimidação que não tem paralelo e que os bempensantes prosélitos teimam em ignorar.
Ou seja, as culpas não são iguais, embora o ar que se respira me faça desejar, por uns momentos, ser italiano.
Dito isto, todas as atenções são precisas no dia 9 de junho.
A tática dos terroristas é conhecida: designam mártires.
O trunfo, na resposta, é exatamente não responder e não dar azo a mais lágrimas de crocodilo.
Não pode correr mal, sob pena de todos serem iguais.
Embora nós saibamos bem que há uns mais iguais do que outros.
Boas férias.»
-João Gobern, jornal Record, 30 de Maio de 2012
Mais um jornalista a falar como eu gosto.
ResponderEliminarHá verdades que a Justiça decidiu desconsiderar.
Agora vamos ver onde isto vai parar.