António Varela: Jesus tem desbaratado todo o seu crédito em compras perfeitamente inexplicáveis

O folclore que foi o fecho do mercado ontem à noite veio mais uma vez validar uma tese secular da sabedoria popular: “Não guardes para amanhã aquilo podes fazer hoje.” É incompreensível que por muito que queiram zelar pela competitividade do seu negócio, na tentativa de conseguir os melhores preços, colossos como Manchester United e Real Madrid esperem pelo último minuto para fazer os melhores negócios e acabem por falhar as contratações de Fábio Coentrão e... Siqueira.

Em regra, a janela de transferências que se tem mantido aberta muito para além do início da competição só tem servido verdadeiramente os interesses dos clubes mais poderosos do ponto de vista financeiro e dos empresários, mas desta vez a incompetência dos grandes falou mais alto e foi o Benfica a ganhar os louros de um negócio que vem mais uma vez pôr a nu as convicções ziguezagueantes de Jorge Jesus quanto à qualidade dos laterais-esquerdos que escolhe para a sua equipa.

A bem-sucedida adaptação de Fábio Coentrão no ano de estreia na Luz concedeu ao treinador do Benfica um crédito que o próprio tem desbaratado em compras perfeitamente inexplicáveis. Desde Shaffer, a Emerson, Luisinho, ao ostracismo a que votou o campeão mundial Capdevila e à recente contratação de Bruno Cortez, Jorge Jesus só salvou a face pelo lado do dinheiro – que isto do futebol não é só ganhar campeonatos, vender jogadores a bom preço também conta muito. E Melgarejo, mais uma das controversas apostas de JJ para o flanco esquerdo da defesa encarnada, acaba por saldar-se numa batalha “ganha” aos críticos, contabilizados que estão 5 milhões de euros suplementares para o lado do “haver” nas contas da SAD benfiquista.

Quando a época da verdade já vai em plano inclinado, Jesus decidiu não esticar mais a corda e pediu uma opção que possa desacelerar o ritmo cardíaco de adeptos em sofrimento com as mal sucedidas aventuras ofensivas de Bruno Cortez, quase nunca compensadas por eficácia defensiva. Foi escolhido o brasileiro Siqueira, um dos velhos namoros da SAD benfiquista, impossível de concretizar antes da meia-noite de ontem, mas que finalmente chega em auxílio de uma equipa “às direitas”, com dificuldade em trabalhar à esquerda.

Num ano em que Vieira não conseguiu materializar em euros qualquer das intenções de negócio previamente anunciadas, deixando as contas da SAD em alvoroço, aumenta ainda mais a pressão para o lado do treinador, quando se pede capitalização... em títulos.

-António Varela, jornal Record