Tinha uma crónica feita sobre o jogo de Guimarães, mas a comoção nacional provocada pelos episódios ocorridos no final desse jogo, envolvendo Jorge Jesus, levaram-me a rasgar o outro texto e a escrever sobre este caso.
Tal como Jesus, não gosto de me pôr à margem dos temas "quentes".
A minha irritação cresceu quando vi escrito que o treinador do Benfica poderia ser condenado por "agressão". Ora, isto é um perfeito disparate.
Mesmo vendo só as imagens da Sport TV, percebe-se que Jesus não quis agredir ninguém, pelo contrário: quis evitar aquilo que ele considerava um abuso do uso da força por parte dos seguranças. É verdade de que bateu no braço de um segurança e tentou agarrar um polícia, mas tudo isso para libertar o adepto (e não para molestar os agentes da autoridade).
Toda a ação de Jesus é no sentido de defender o adepto.
Aliás, o recurso a outro vídeo divulgado pelo Benfica, é perfeitamente esclarecedor a tal respeito. Ouando a invasão do campo se inicia, Jesus começa por recomendar calma, levantando os dois braços, e só quando vê o adepto no chão a gritar, manietado por seguranças, é que começa a perder a calma, metendo-se no "barulho" e tentando libertar o homem à força. E claro, quando se sente agarrado, Jesus perde as estribeiras.
Nunca fui politicamente correto, percebo que o futebol é um jogo de emoções, defendi Scolari quando respondeu (também com excesso de emotividade... ) à provocação de um jogador sérvio, e defendo agora Jesus.
É evidente que um homem com a notoriedade dele tem de fazer um esforço suplementar para manter a calma em público. E também certo que outro, no seu lugar, teria atuado como Pilatos, ficando de fora a observar os acontecimentos com ar seráfico e não se envolvendo em confusões. Mas Jesus não é assim. É um homem de sangue quente, tem raça - e isso é também um dos componentes do seu carisma.
Jesus agiu mal? No essencial, não: quis defender um adepto.
Fê-lo com excesso de emotividade? Sem dúvida.
Ouis agredir alguém? Notoriamente, também não.
No limite, pode ser acusado de ter tentado obstruir a ação da autoridade. Isso sim, tentou fazer.
- José António Saraiva, jornal Record, 25 de Setembro de 2013