José Marinho não tem dúvidas: Declarações dos jogadores do Anderlecht serão pagas com língua de palmo

Durante o fim de semana comentei, na Sporttv, o derradeiro jogo do Anderlecht antes do encontro da Liga dos Campeões, amanhã, em que o campeão belga defronta o Benfica na primeira jornada da fase de grupos.

Vi uma boa equipa, vários talentos, uma goleada e um craque, chamado Matias Suarez. Repito aqui o que disse, em directo.

Não compreendo o entusiasmo quase juvenil dos jovens talentos do Anderlecht em defrontar o Benfica e menos ainda a forma escolhida, por eles, para acrescentar motivação aos jogadores encarnados.

Em condições normais, o Benfica ganhará, porque tem mais valor, individual e colectivo, porque tem mais experiência internacional, numa competição em que ela faz a diferença entre as equipas e, finalmente, porque, decorrendo o jogo no estádio da Luz, se o Benfica não ganhar ao Anderlecht, deve preparar-se para não ganhar a ninguém.

Creio que as declarações dos jogadores do Anderlecht, quase ridicularizando o valor do Benfica, serão pagas com língua de palmo. E melhor, ajudam a que os jogadores benfiquistas se preparem e motivem para um grande jogo. Já não basta um bom resultado, que será sempre a vitória, mas admito que os jogadores do Benfica exigam a si próprios, um grande resultado.

No balneário das "águias" existe um sentimento generalizado de que ao Benfica não basta ganhar ao Anderlecht, é preciso dar uma lição aos jovens e irresponsáveis jogadores belgas. O que vi, no sábado, torna ainda mais incompreensível a soberba e a insanidade de algumas declarações. Os jogadores do Anderlecht abusam da auto-estima e isso deve ser-lhes fatal.

Um bom guarda-redes, uma defesa insegura, especialmente nos espaços entre os laterais e os centrais, um meio-campo que é lento no processamento das jogadas, dois extremos perigosos e dois avançados realmente craques. Especialmente o avançado argentino Matias Suarez. A bola nos pés de Suarez ganha vida própria e o próprio estilo da equipa se altera, tornando as coisas mais imprevisíveis para o adversário.

Jogou, pela primeira vez, com o jovem avançado sérvio, Mitrovic, em simultâneo e o resultado foi, de facto, assombroso. Porém, o adversário foi demasiado dócil e na Liga dos Campeões ninguém defende de forma tão desarrumada quanto o fez o Malines.

Mas o Anderlecht merece ser levado a sério, porque tem jogadores com valor, qualidade e talento. Os extremos são rápidos, Acheampong procura, do lado esquerdo, os desequilíbrios e os duelos com Maxi são promessa de luta e pundonor do lateral uruguaio contra a explosão do extremo esquerdo de 18 anos do Anderlecht.

No lado oposto, vive, em permanente desassombro, um avançado num corpo de um extremo. Massimo Bruno é uma promessa de inquietude na defesa do Benfica, devido à sua obsessão pela baliza e pelo golo.

Raramente procura a linha de fundo e é isso que lhe define o estilo agressivo e realmente perigoso. No meio-campo, destaque para o médio Kljestan. Marca golos com regularidade - já marcou quatro golos no campeonato em sete jornadas - e é o médio a quem o treinador oferece mais liberdade de movimentos.

Porém, o meio-campo do Anderlecht tem um problema de lentidão na forma como processa as jogadas e apenas quando a bola chega aos corredores laterais ou a Matias Suarez é que a equipa se torna capaz, verdadeiramente, de ser ameaçadora.

Em síntese, trata-se de uma boa equipa mas que não tem a qualidade super que sustente, em campo, o optimismo dos seus jogadores fora dele.

Num contexto de Champions, trata-se de uma equipa de classe média, igual ou pior a inúmeras que o Benfica defrontou e venceu, nos últimos quatro anos, durante o qual o clube encarnado conseguiu repor o seu prestígio internacional.

Não ganhar amanhã à noite ao Anderlecht seria sinal de retrocesso e sobretudo de crise. De resultados e principalmente de identidade.


-José Marinho, Facebook