António Varela: Cardozo já mora na casa que é dele

1. Ontem na Luz fechou-se o caso Cardozo e abriu-se uma hipótese de estudo riquíssima, quando as modernas práticas de gestão e as teorias da liderança aplicadas ao desporto profissional avançam num terreno onde impera a emoção e decisões estratégicas mudam segundo os humores presidenciais. O que o Tacuara fez no Jamor há praticamente quatro meses levou-o ao cadafalso, depois de sentenciado na praça pública, por populares e entendidos.

2. Jorge Jesus, o líder técnico cuja autoridade foi afetada pelo empurrão guarani, fez saber que quando voltasse de férias não queria ver Cardozo no Seixal, uma posição inatacável de quem pretende salvaguardar o estatuto que lhe vale a confiança do grupo e a crença nas ideias controversas defendidas para a construção da equipa.

3. Acontece que a gestão do Benfica nunca conseguiria num quadro de penúria internacional colocar um avançado já trintão como Cardozo a troco dos milhões que exigiria a contratação do substituto à altura da qualidade que o transformou no avançado estrangeiro mais influente da história do clube. Não é conhecido o grau de dificuldade nas "negociações" Luís Filipe Vieira-Jorge Jesus para este se convencer da utilidade da permanência do internacional paraguaio na Luz, mas o imperativo financeiro ajustado à qualidade do jogador proporcionou um desfecho validado pela audiência do Estádio da Luz desde a primeira hora.

4. Na verdade, nas atuais condições, Jesus teria muito mais a perder com a saída de Cardozo do que com uma permanência que merece o aplauso da bancada e o temor dos adversários. E, já agora, a felicidade de Lima, que prometeu marcar 40 golos, mas via a vida a andar para trás face à ausência do parceiro que abre espaço com a mobilização geral dos adversários.

- António Varela, jornal Record, 15 de Setembro de 2013