A assembleia geral, órgão do Sport Lisboa e Benfica em que, estatutariamente, reside o poder supremo do clube, sede de debate e votação dos seus interesses, deu um claríssimo cartão vermelho à direcção liderada por Luís Filipe Vieira. 
Não é possível esconder, nem com a justificação das arbitragens, o que se passou. Esteve em causa o relatório e contas e não só. 
O voto expressivo dos benfiquistas foi também contra a incompetência e a ineficácia de uma gestão que está cansada, acabada e sem imaginação. 
De uma gestão prepotente, que se faz dona do Benfica, pouco transparente e que não fala verdade aos sócios. 
De uma gestão que não sabe conviver com as opiniões contrárias e que se sente incomodada quando tem de dar, no lugar próprio, explicações. 
Explica-se em mau português e por gente que convive mal com a conjugação do sujeito com o predicado. 
Esta direcção de cartão vermelho não gosta de falar com os sócios. 
Sente-se incomodada e ainda não percebeu que o Benfica não é uma "quinta" da direcção. 
Formalmente o associativismo voltou ao Benfica. Foi esta dimensão que tornou o Benfica grande. 
Ter cultura empresarial não significa rejeitar o associativismo. Os sócios fizeram-se ouvir e disseram que estão fartos da cultura de derrota desportiva, que estão cansados de lutarem para o segundo lugar do campeonato. 
Faz-se e desfaz-se a equipa de futebol de ano para ano, vende-se o Javi e o Witsel e não se acautelam estas saídas: anda-se há um ano à procura de um lateral-esquerdo; compra-se o Lima por cerca de 5 milhões de euros, por quatro épocas, com 29 anos, sabendo-se que em janeiro vinha a custo zero, em fim de contrato. 
E empresta-se o nosso jovem Nélson Oliveira. Cede-se o Rúben Amorim ao Braga, sem que ninguém saiba a verdadeira causa. 
Então é assim que se aposta na formação? 
Além de que não se dá espaço aos jogadores da equipa B para poderem despontar na equipa principal. 
Como disse Wenger, o Benfica perdeu alma e paixão e está mais fraco e frágil. 
Quem percebe de futebol nesta direcção, que perdeu legitimidade para governar os destinos do clube? 
Que desastre é a política de futebol! 
O problema do Benfica é futebol, gestão, organização, disciplina e associativismo. Só depois vem a comunicação. 
E o rei, que agora caminha nu, que era o paladino da boa governação financeira, tem uma dívida e um passivo descontrolado. 
Onde está a saúde financeira do Benfica, tão apregoada? 
Até neste domínio falharam e o voto dos sócios também deu conta deste fracasso. Então o que sobra desta direcção? 
Fragmentos e uma espécie de uma crónica mal anunciada. E uma assembleia geral que recorreu a uma sistema de contagem de votos por braço e papel no ar, permeável a todo o tipo de zonas obscuras, que nem na Junta de Freguesia do Burkina Faso era admissível. 
Tudo isto envergonha o Benfica. 
A pergunta que fica é se uma direcção destas tem legitimidade moral e ética para ir a jogo no próximo acto eleitoral. Governa os destinos do Benfica contra os sócios que já se manifestaram dizendo que terminou o seu prazo de validade. 
Tudo na vida tem um tempo: a bem do Benfica percebam que chegou ao fim a validade desta direcção. De positivo ficou o registo de uma participação activa por parte dos sócios do Benfica que ali acorreram e se manifestaram, por vezes de forma acalorada, na defesa daquilo que consideram serem os interesses supremos do clube que tanto amam e que lhes está no coração.» 
- Rui Rangel, jornal Record, 29 de Setembro de 2012
 







