sábado, 8 de dezembro de 2012

Afonso de Melo fala da morte no Dragão e diz que Pinto da Costa é um velho escroque


Terá feito PUM!, suponho. Quero dizer: o tiro. Alguém deve ter ouvido. Um tiro num WC não soa no vácuo. Isto é: digo eu, porque informação não há. Diz-se que foi no WC; diz-se que foi um tiro. Os jornais não têm letras, as televisões não têm imagens, as rádios não têm voz. 

Um tiro provoca perguntas: quem foi?; por que foi? Ninguém responde às perguntas. Pior ainda: ninguém faz perguntas. Fazemos nós, cada um por si.

Mas não fazem perguntas aqueles que tinham como obrigação profissional fazê-las. O silêncio é grosso: envolve um estádio, envolve uma torre de escritórios, envolve um clube. 

Misterioso clube esse, que vive envolto em silêncios apenas interrompidos pelas tiradas imbecis de um velho escroque. 

Consta-se que a polícia abriu inquérito, desenvolveu investigações. Mas não se sabe ao certo. O silêncio também tomou conta da polícia. Há conclusões? Há relatórios? Vá lá saber-se. O poço é fundo, muito fundo. 

Certo dia, a certa hora, ouviu-se (parece...) um tiro. Houve um morto, pelo menos houve rumores de existir um morto. Quem o matou? Ele próprio ou mão alheia? 

Era um morto que incomodou enquanto vivo? Era apenas um cavalheiro solitário sem razões para viver? E a arma? Não há tiro sem arma. Isto é: não costuma haver tiro sem arma, mas talvez estejamos perante um universo diferente, difuso, no qual as razões e as consequências não coabitam no mesmo espaço. 

PUM!, ouviu-se no edifício, no estádio, suponho. Ninguém quis verdadeiramente saber. Ignorem, desvalorizem, não passa de um homem morto... Há lá coisa mais banal do que um homem que é morto? 

A quem convém o silêncio?, já perguntei aqui. E respondo de novo: o silêncio convém aos criminosos. Já ninguém ouve um tiro no silêncio... 

P.S. Depois de uma morte, outra morte. Parece que para certa gente as mortes são banais. Aconteçam num WC ou numa estrada. Não lhes pesam na consciência: é coisa que não têm.» 

- Afonso de Melo, jornal O Benfica, 7 de Dezembro de 2012

10 comentários:

  1. O que eu acho Incrível (não tanto) é o SILÊNCIO à volta disto, nos órgãos de (des)comunicação social! "Atão" não é uma notícia que "vende" ou os jornais, sempre a meter o bedelho na vida dos outros, já não precisam?

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  2. nem 0o correio da manhã' anda distraido??????????

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  3. Algumas notícias nos Orgãos de Comunicação Social:recluso suicida-se na prisão,GNR suicida-se na esquadra,Mãe suicida-se em casa,etc,então,uma figura pública suicida-se(ou não)e não se dá nenhum destaque?É estranho!

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  4. O 4º parágrafo desta sua crónica é genial. Obrigado, Afonso de Melo. Onde pára a nossa (deles, é claro!)vampiresca comunicação social ?

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  5. É pena o Afonso Melo não ter mais irmãos a pensar e a escrever como ele.

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  6. e de jornalistas como afonso melo lionor pinhao e mais alguns poucos que
    o benfica presizava molinhos tem la muitos

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  7. Grande Afonso Melo!!!
    No mundo jornalístico Português, precisamos de muitos como VOÇÊ.
    Inflismente não existe!
    Sabe porquê? Muitos estão feitos com o sistema.Para aqueles lados, existe uma ditadura
    que é imposta a quem é do contra, se abrirem a boca, acontece algo semelhante.
    Seja sempre o exemplo a fazer a diferença.É disso que precisamos!
    Cumprimentos.

    Sabe? P

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