Não é fácil rotular uma vitória que chega aos 90’+2 e ainda por cima por obra e graça de um dos heróis mais improváveis, mas se há coisa que o futebol há muito nos ensinou é que gosta de ser aziago para os que pensam tudo saber.
Sim, o Benfica estava muito, mas muito perto de arrancar um importantíssimo empate no Dragão e com isso continuar a depender apenas de si próprio para ser campeão, só que Kelvin, com a ajuda de Liedson – a vida tem cada ironia... –, resolveu ir por ali fora, ser mais forte do que Roderick e bater Artur. Ainda por cima marcar com um pontapé a carregar a beleza da irresponsabilidade que só a juventude permite. O jovem brasileiro chutou com a mesma leveza e facilidade como se o fizesse num jogo qualquer da equipa B. Mas foi assim que se tornou decisivo frente ao Sp. Braga e ontem pode ter resolvido a conquista de mais um título. Pode pensar-se em sorte, mas há ali mais do que isso, reconheça-se.
É complicado imputar a Jesus a culpa pela derrota ou atribuir a Pereira os louros da vitória, mas é preciso reconhecer que os sinais para dentro de campo foram diferentes. O técnico dos dragões arriscou uma frente de ataque de quatro homens e apenas três defesas, o treinador encarnado meteu Roderick por Gaitán. Sendo verdade que o empate chegava, lá diz o povo que quem joga para isso raramente se dá bem. Quando o FCPorto já não parecia ter pernas nem discernimento para mais, eis que os dois homens lançados lá para dentro lhe deram o triunfo. Ganhou o FC Porto, sim, mas Vítor Pereira também. E se tantas vezes o líder portista tem servido de saco de porrada tanto a rivais como a adeptos insatisfeitos, há que saber tirar-lhe o chapéu na hora da sorte. Procurada, pois.
O título não está ganho. O FC Porto tem de vencer em casa da equipa sensação da Liga e mesmo o Benfica precisa de dobrar um Moreirense que tudo fará para escapar à despromoção. Mas se ontem era preciso rescrever a história, foi isso que o Dragão fez.
Parabéns a Proença, também ele sortudo, pois James podia ter estragado tudo...
-Bernardo Ribeiro, jornal Record, 12 Maio 2013
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