quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Leonor Pinhão confessa: "Não estou zangada com Luisão"


Por estes dias perguntam-me muito nas ruas se estou zangada com Luisão. Na verdade, não estou. Talvez por uma questão de educação, da minha educação, não da educação do Luisão.

Comecei cedo a frequentar o Estádio da Luz na companhia do meu avô e sempre o ouvi dizer, quando as coisas não nos corriam bem e o público protestava, que assobiar um jogador do Benfica era mais feio do que cuspir na sopa e tão feio como bater na mãe. Foi uma coisa que me ficou. É dele que me lembro sempre que ouço, na Luz, o público dirigir os seus protestos contra um ou outro jogador ou mesmo é contra a equipa toda. 

Não me considero uma benfiquista exemplar, longe disso, e nunca tive grande paciência para as estéreis e intermináveis discussões que envolvem recurso ao benficómetro, o ainda não inventado aparelho que medirá a devoção dos benfiquistas bons, dos benfiquistas maus e dos benfiquistas assim-assim, entre os quais voluntariamente me incluo.

Por isso, é com todo o à vontade que falo. E confesso que até gostei da reação do nosso capitão quando, assegurada a vitória épica sobre o Gil Vicente, se dirigiu desabridamente aos adeptos reprovando-lhes, por gestos, os assobios a Maxi Pereira que, ao contrário do benficómetro que ainda não foi inventado, conseguiu inventar sozinho o lance que resultaria no golo do Gil Vicente lançando a Luz ao desespero.

Se me perguntam se, nesse preciso momento fatal do uruguaio, me levantei do meu lugar em aplausos piedosos a Maxi Pereira, porque é dever apoiar a equipa nos bons e nos maus momentos, terei de responder que não, não me levantei. Francamente, não sou pessoas de extremos.

Mas sou, quero ser crente. Antes do jogo com o Gil Vicente perguntava-me que tipo de prodígio, que tipo de milagre poderia vir a salvar o Benfica doente que todos conhecemos desde maio último. Portanto, naturalmente, quis acreditar que era aquilo o prodígio sonhado quando vi, no espaço de minuto e meio, o golo de Markovic empatar o jogo, o golo do Lima a ganhar o jogo, o beijo do mister no Mini Pereira, os abraços dos demais jogadores e, finalmente, os gestos de Luisão para a bancada.

Olha, finalmente, temos sessão de terapia de grupo! Foi nisto que pensei. E continuei tranquilamente a ver o jogo que, como estarão recordados, terminou logo a seguir.

Volto a dizer que o Benfica terminou doente a última temporada e todo o longo tempo do defeso foi apenas a continuação dessa mesma doença sem que nada de visível fosse feito para curar o doente, embora milhares de especialistas tivessem dado as suas opiniões clínicas. Houve até uma maioria de especialistas que, considerando que o mal estava na cabeça e não nas pernas, descurou o assunto pensando, à moda antiga, que os males da cabeça se tratam com banhos de mar. Ideia errada.

A questão é que o mal é mesmo na cabeça. É um desatino o que se tem visto em campo desde o início da pré-temporada. Um desatino que se continuou a ver no Funchal e que se voltou a ver no final da tarde de domingo, na Luz, até ao momento em que Markovic fez o primeiro golo do Benfica.

Depois o doente acordou e, como por milagre, voltou à vida ativa envolvido numa aura de inesperado esplendor. Segue-se o jogo com o Sporting, em Alvalade, ocasião que será fabulosa para testar no doente, ou no ex-doente, os efeitos da tão celebrada sessão de terapia de grupo.

No sábado se verá.

-Leonor Pinhão, jornal A Bola

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