terça-feira, 6 de agosto de 2013

Fernando Guerra: Vieira ficou enfeitiçado por Jesus


Aceito todas as opiniões que colocam Jorge Jesus em patamar privilegiado, que o consideram bom treinador, que pôs o Benfica a praticar futebol espetacular, que potencia como ninguém os atletas. Que lhe enxergam imensas virtudes e parcos defeitos, que é um predestinado no complexo mister de treinar, um artesão de títulos, um triunfador nato. Concedam-me a liberdade, porém, de pensar de maneira diferente.

É bom treinador, sim senhor, como tantos outros que não foram iluminados pela mesma estrelinha da sorte que, ao fim de 20 anos de carreira sem nenhuma proeza no currículo para apresentar, lhe abriu as portas do Estádio da Luz, levado pela mão de um presidente enfeitiçado pelos seus méritos e que, quatro anos depois, não se libertou desse estado hipnótico: o caminho da salvação não pode ser por aqui...

Sinceramente, acho que o tema já cansa, em cenário particularmente favorável em função do forte investimento feito no reforço do plantel.

O desempenho foi fraco. Mas Luís Filipe Vieira entendeu prolongar-lhe o principesco contrato e, no seio da nação benfiquista, há quem não troque o sacrifício que se impõe para se ganharem campeonatos pelo gozo que dá transformar cada jogo numa festa, em que os extremos correm até à exaustão, os avançados prometem o dobro dos golos que marcam e a malta na bancada fica submissa ante tamanha excitação.

Essas tretas da posse, do controlo, do domínio ou da circulação de bola, podem refletir-se em títulos, mas são uma chatice. No momento em que Jorge Jesus informou ter recebido um convite do Brasil para projeto inovador, em que lhe comunicaram do outro lado do Atlântico ser tão importante conquistar títulos como valorizar jogadores, os argumentos esvaíram-se-me face a luminoso conceito, de aí aceitar as duas opções com o mesmo respeito, embora dando preferência à primeira, por entender que reside no número e na dimensão dos títulos o principal fator de medição de grandezas dos clubes. 

Se o Real Madrid lidera no ranking da Liga dos Campeões da UEFA é por ter mais troféus que os outros e se o Benfica ocupa brilhante sétima posição não consta que se deva a essa duvidosa tendência que secundariza os objetivos desportivos e destaca os financeiros. Sucedeu precisamente o inverso: foi por ter conseguido muitas e boas colheitas no passado que o emblema da águia se mantém nos 10 mais da elite europeia, à frente de FC Porto, Dínamo de Kiev e Liverpool e atrás de Real Madrid, Bayern, Barcelona, Manchester United, Milan e Juventus.

APESAR de andar tudo ligado, sou dos que defende que o clube que mais vitórias regista suplanta aquele que mais dinheiro recolhe na venda dos seus praticantes, razão pela qual me parece descabida a decisão de Luís Filipe Vieira em arrastar a ligação a Jorge Jesus. Já nem agito as frustrações últimas. Fixo-me no presente: um investimento significativo em jovens talentosos; um treinador sem nada para acrescentar; uma equipa com os desequilíbrios do costume; um modelo gasto e que desgasta e um grave problema por solucionar: Óscar Cardozo. 

Jesus riscou-o do mapa de presenças, mas reclama outro em troca e de características idênticas. Quem paga?

Assim é fácil. Não ouso comparação ao enorme jornalista Neves de Sousa, que um dia se disponibilizou para selecionador, mas posso candidatar-me a treinador do Benfica, por metade do que Jesus recebe. É garantido que perco o campeonato, mas, provavelmente, ele também...

Calma, senhores, com ou sem Óscar Cardozo, olho para este Benfica integrado na realidade portuguesa e, tal como os anteriores, vejo que continua na posse de atributos suficientes para chegar ao sucesso.

Só não percebo por que motivo não consegue agarrá-lo, mas tenho uma ideia, que já aqui expressei: a notável obra de Luís Filipe Vieira merecia mais Jesus... 

- Fernando Guerra, jornal A Bola, 6 de Agosto de 2013

7 comentários:

  1. Apoiado e nada mais mais

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  2. Jaandamos nisto a anos, vamos ao menos fazer o seguinte, vamos dar mais uma opurtunidade entao,este ano,ou sao campeoes,ou vai tudo pela porta fora,treinador,dirigentes,presidentes,tudo.Parece me mais que razoavel.

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  3. Quando se souber que do ordenado de Jorge Jesus 50% vai para o Presidente,então é que vai ser o caos e a trindade!

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    1. O quê? Troca lá isso por miúdos...

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    2. Quem faz um comentário destes tem merda na cabeça. Só de IRS e taxa de solidariedade, paga mais de 50%, fora a Previdência.

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  4. Jesus não merece receber ordenado de duas entidades.

    Devia de deixar de receber ordenado do Benfica e ir para a outra entidade.

    Ai ganha de certeza.

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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