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quinta-feira, 8 de agosto de 2013
Leonor Pinhão compara gestão de dois casos de indisciplina: Cardozo (2013) e Félix Antunes (1953)
O que dirá a História no futuro sobre o caso Cardozo?
Sobre o caso Félix Antunes, ocorrido em 1953, já o sabemos. A dispensa de Félix Antunes é hoje lida como uma das glórias do mandato de Joaquim Ferreira Bogalho.
Félix fora o esteio do Benfica durante anos a fio, o primeiro defesa-central moderno do nosso futebol, dizem os historiadores e quem o viu jogar, num período em que o Benfica não ganhava campeonatos com regularidade porque era o Sporting que o fazia.
O que o Benfica ganhava ao tempo de Félix eram Taças de Portugal. Quatro de seguida em 1949, 1951, 1952 e 1953 visto que em 1950 não se disputou o troféu.
Tal como Cardozo, Félix tinha 30 anos e uma bela folha de serviços quando foi dispensado. E se Cardozo tem quatro Taças da Liga de rajada, Félix fez o mesmo com quatro Taças de Portugal. O que a História nos conta hoje sobre Félix é que faltou ao respeito ao Benfica por ter atirado com a camisola para o chão na cabina depois de uma derrota em Setúbal.
Mas conta-nos mais. Na semana que antecedeu esse jogo fatal em Setúbal, Félix tinha viajado até à Áustria ao serviço da Seleção Nacional que fora copiosamente derrotada. O resultado foi mau em Viena e o comportamento de alguns jogadores também, incluindo Félix. E todos foram multados pela FPF no regresso a Portugal.
Joaquim Ferreira Bogalho considerou inaceitável e de lesa-Benfica o comportamento de Félix na Seleção e aplicou-lhe uma multa do próprio clube a somar à multa da Federação. Foi este o motivo subjacente ao episódio da camisola atirada ao chão.
Poderá parecer estranho nos dias de hoje um clube castigar um seu jogador por considerar insuficiente o castigo aplicado por outra instituição. No entanto, em 1995 o Manchester United fez precisamente a mesma coisa com o seu deus Eric Cantona.
O francês foi-se à patada a um adepto do Crystal Palace e antes mesmo de a Federação inglesa julgar o incidente, o Manchester United suspendeu o seu jogador até ao fim da temporada de 1994/1995.
Voltemos à nossa terra. O que ficou para a História no caso Félix foi a decisão inapelável de Ferreira Bogalho, o presidente que não se importou de, naquele mesmo instante, mandar embora a maior referência do clube por ter faltado ao respeito à camisola.
Quanto ao treinador à época, honestamente, já ninguém se lembra quem era e qual terá sido a sua opinião, se a teve, sobre o assunto.
O caso disciplinar de 1953 foi um sucesso. O de 2013, pelo que envolve e pelo que se deixou envolver, tem tudo para não o ser. Que pena.
-Leonor Pinhão, jornal A Bola, 8 de Agosto de 2013
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