1. A qualidade no futebol leva implícito o resultado - ninguém é bom se perder sistematicamente. Mas ganhar pode não ser tudo quando os clubes se atrasam em relação às metas que se propõem alcançar. Nas últimas duas décadas o Benfica viveu enredado numa teia gigantesca, desenhada por desvios ideológicos ao rumo de toda a vida; à perda de influência nas altas instâncias e à falta de coerência técnica traduzida no modo como foi transformando cada época numa etapa avulsa, descontextualizada de qualquer estratégia - e só não se desagregou por completo porque, apesar de tudo, manteve o apoio popular que reitera o estatuto de maior clube português.
2. Os adeptos têm reações instantâneas, muitas vezes despojadas de reflexão; as emoções à flor da pele não lhes permitem analisar a realidade com lucidez, pelo que são apenas o reflexo de um estímulo negativo que conduz à revolta. Contra ventos e marés, Luís Filipe Vieira resistiu aos protestos exteriores e manteve Jorge Jesus no cargo - incrível como, depois de perder campeonato e Liga Europa, só a derrota na final da Taça de Portugal conduziu o povo ao desvario. LFV preferiu não responder com o mesmo sentido de imediato, ganhou tempo e agiu de acordo com as convicções: sofreu com as derrotas, refletiu sobre as suas consequências e decidiu de acordo com o seu balanço dos últimos quatro anos.
3. Em 2009, quando entrou na Luz, JJ assumiu a herança de um clube que perdeu o hábito de vencer e deixou de olhar para o futuro com a coerência necessária encontrou uma equipa desamparada, sem elos de ligação ao passado e confundida pela urgência de voltar às vitórias, apesar dos erros de diagnóstico, gestão e organização. O mérito foi respeitar o legado histórico da comunidade e formar equipas deslumbrantes, com pendor ofensivo e estética apurada; recuperar um estilo, consolidá-lo e construir exército temível que mereceu respeito e admiração das plateias. Em pleno ciclo hegemónico do FC Porto, JJ criou riqueza e diminuiu a desvantagem para a força dominante.
4. O exercício mais honesto para medir a importância de JJ é a comparação. Se tivermos como referência os anos 60 e 70, símbolos de uma potência que vencia três em cada quatro campeonatos, ou mesmo o período entre o início dos 80 e meados da década seguinte (seis títulos em doze), ganhar uma em quatro ligas não chega - é um desastre. Mas se considerarmos o período entre 1994 e 2013, em que o Benfica foi campeão apenas por duas vezes, a conversa muda de figura. O voto de confiança em JJ pressupõe a convicção do regresso às vitórias sustentado num projeto sólido e não como resultado de aposta no euromilhões; tem como objetivo razoável beliscar a hegemonia portista e não depender de milagres como o de Trapattoni, cujo título caiu do céu aos trambolhões.»
- Rui Dias, jornal Record, 26 de Junho de 2013
5... não.............. 55 estrelas......uma braço
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