sexta-feira, 21 de junho de 2013

João Bonzinho critica Benfica na gestão do "caso" Cardozo


Foi com um sentido completamente diferente que os adeptos criaram para o número 7 das últimas seis épocas do Benfica o refrão especial e forte com que brindaram os estádio jogos e jogos a fio... «Tenham cuidado, ele é perigoso, ele é o Óscar Takuara Cardoso» ... foi o que se ouviu com intensidade, sobretudo nas mais gloriosas noites da Luz, por aqueles que verdadeiramente sempre o amaram.

Acontece que Cardozo nunca foi unanimemente amado e, pior do que isso, não podia ter escolhido, na final da Taça, mais desajeitada forma de justificar o sentido literal do refrão que os adeptos tão carinhosamente lhe dedicaram.
Ao manifestar-se tão agressivamente junto de Jesus logo que a derrota no Jamor se tornou irremediável, o perigoso takuara Cardoso deu ainda mais força a todos os que sempre o odiaram para reclamarem que Jesus e Vieira o afastassem do plantel.

Mas nem era preciso.

O que hoje se sabe é que o próprio Jesus condenou Cardozo a deixar a Luz, apesar de toda a compreensão demonstrada no final daquele jogo maldito para os encarnados, quando Jesus pareceu desculpar o paraguaio e justificar com a «cabeça quente» a inesperada e inqualificável atitude do jogador.

Agora, quase um mês depois da derrota com o Vitória de Guimarães, o que continua a surpreender não é, evidentemente, que Cardozo pareça mesmo continuar com guia de marcha para deixar a Luz ao cabo de seis épocas como número 7 e grande goleador, o que verdadeiramente surpreende é que o Benfica tenha permitido que ao cabo de um mês Cardozo não tenha dito uma palavra sobre o assunto.

Correu ontem que Cardozo teria utilizado uma rede social para declarar o seu amor ao Benfica. O empresário do jogador, Pedro Aldave, apressou-se a desmentir, e sabe-se agora que Cardozo nem terá página no Facebook.
Nem aquece nem arrefece.

Ponto um: logo na semana seguinte à final da Taça, o Benfica deveria ter obrigado Cardozo a pedir publicamente desculpas, à instituição, aos adeptos, aos dirigentes, ao treinador, claro, e aos companheiros. Nessa altura, Cardozo deveria ser intimado a jurar amor à camisola encarnada e ao clube que o tirou do desconhecido e pobre futebol do Paraguai para um futebol europeu que o tornou, apesar de todas as crises, mais rico a famoso.

Com esse trabalho de casa, o Benfica teria assegurado, por exemplo, maior tranquilidade, tolerância e até aceitação da maioria no caso de se mostrar inevitável manter Cardozo.

Face à gravidade da atitude do jogador (um gesto muito difícil de perdoar num clube desta dimensão), poderia ainda o Benfica ter feito mais.
Poderia, porventura, ter dito a Cardozo qualquer coisa «ou encontras um clube que pague ao Benfica o que o Benfica deseja pelo teu passe ou passarás a próxima época a treinar, às sete da manhã, sozinho, atrás de uma das balizas».

Cruel?
Talvez.

Mas uma forte estrutura do futebol encarnado teria, certamente, feito isso.
Alguma vez Cardozo foi maltratado na Luz? Não lhe foram dadas todas as condições para desempenhar a sua atividade profissional? Não foram respeitados todos os seus mais elementares direitos?

O que Cardozo fez na final da Taça é absolutamente condenável e nem pode, como já se concluiu, ser analisado à luz de qualquer «cabeça quente», porque o jogador teve minutos mais do que suficientes no banco para arrefecer qualquer ânimo. Ao vermos tantas vezes no rosto de Cardozo aquela expressão aparentemente triste, aparentemente de birra, percebe-se que se tratará de uma personalidade com o lado emocional de um bebé grande, ora intenso, ora frágil, ora solidário, ora agressivo.

Foi o que se viu naquele jogo na Madeira, com o Nacional, quando, depois de pontapear um adversário, ainda teve a lata de puxar a camisola ao árbitro (Pedro Proença) que lhe custou, vá lá saber-se porquê, apenas um leve e surpreendente castigo e lhe terá dado, perigosamente, talvez até a noção de alguma impunidade, com o risco de repetir a graça, como aliás repetiu, sem qualquer graça, com o próprio treinador da equipa.

Que era mesma a última coisa que poderia esperar-se.

Da final da Taça para cá, nada parece ter sido feito, porém, para atenuar os estragos de um final de jogo lamentável, e desse modo será sempre demasiado amargo o fim da relação do perigoso Cardozo com o clube da Luz.
O que é pena!»

- João Bonzinho, jornal A Bola, 21 de Junho de 2013

1 comentário:

  1. Digamos que é uma direção comprometida.
    Pouco faz para evitar polemicas pouco fala para defender os adeptos e calada quando sabemos que somos amassados pela arbitragem e submissos treinadores e equipas submissas.
    É boa é a desmentir jogadores simplesmente anedótico.
    O Cardozo é bom rapaz e mais Benfica do que muitos na nossa direção.

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