Bernardo Ribeiro: Segurança dos clássicos fazem lembrar meeting do G8

Não eram precisas cenas tristes num jogo de juvenis para sabermos que os encontros entre Benfica e FC Porto estão cada vez mais perigosos. Infelizmente, parece que nem para ver miúdos é seguro ir ao futebol, uma vez que a indisciplina e a violência já alastraram dos campos para as bancadas e hoje cada clássico é rodeado de medidas de segurança a lembrarem um meeting do G8. Os culpados de tudo isto não são apenas os que dão largas a uma raiva difícil de compreender e que transforma o desporto num lamaçal pouco agradável de frequentar, mas assenta também numa política de confronto seguida ao longo dos últimos anos pelos líderes dos dois clubes, que se apressarão a mandar rezar missas estéreis quando a desgraça bater à porta. Hoje não é seguro ver um clássico no andebol, no basquetebol, no hóquei em patins ou até jogos de crianças. O que dizer disto? Pouco mais do que pobre país este...

Infelizmente, Bruno de Carvalho parece ter vontade de seguir o mesmo caminho bélico de Luís Filipe Vieira e Pinto da Costa em termos de oratória. Percebo. É o que a maioria dos militantes gosta de ouvir e não dá parte de fraco perante presidentes com obra feita. De facto, a liderança dos grandes clubes portugueses não está para "gentlemen". Gostam todos de exibir pulso de ferro e uma forma de expressão acutilante. Uma escola criada pelo líder portista e que em Lisboa vem gerando cópias sem grande sucesso. É que só isso não ganha nada. São apenas "mind games".

Ninguém precisa que Benfica, FC Porto e Sporting sejam amigos. A rivalidade é sã quando motiva brincadeiras entre amigos, piadas ao rival que perdeu no fim de semana anterior, anedotas na semana da derrota mais difícil. Mas daí a serem necessários batalhões de polícias para os clássicos e não ser seguro deixar os miúdos irem ao estádio em dias de jogo grande, isso é apenas um convite a afastar as famílias do desporto e deixar campos e pavilhões entregues a doentes que não sabem comportar-se perante a rivalidade. E esses não são verdadeiros adeptos.» 

- Bernardo Ribeiro, jornal Record, 4 de Junho de 2013