domingo, 21 de abril de 2013

Vítor Serpa sobre o derby: "Benfica é obviamente favorito"



O Benfica inicia amanhã, com um tradicional, mas sempre renovado derby, o arranque para o grande final da sua longa e desgastante maratona da época. 


Está nos trinta e cinco quilómetros, o tal ponto nevrálgico em que tanto pode confirmar a sua indiscutível liderança, como pode «morrer à beira da praia». 

Há, pois, entre os benfiquistas, um misto de expectativa, de entusiasmo e de receio de que, tal como no ano passado, o sucesso não se confirme e não me parece nada verdade que os benfiquistas andem eufóricos a festejar antes do tempo. 

Pelo contrário, aqueles com quem me vou encontrando estão cautelosos e, por isso, também silenciosos. Têm noção de que os últimos obstáculos são sempre os mais difíceis de transpor, especialmente, porque a caminhada já vai longa e temem que a equipa possa fraquejar nesse triplo desafio geográfico Lisboa-Istambul-Funchal. 

Parece-me evidente que a equipa não se tem mostrado particularmente cansada, nem demasiado ansiosa, mas também é verdade que o último jogo na Luz foi um mero ato de gestão e do que se viu pouco ou nada oferece para significativas conclusões. 

Já o jogo de amanhã será diferente. Apesar de ter o Sporting a 34 pontos de distância (a maior diferença de pontos de sempre num mesmo campeonato entre as duas equipas), a verdade é que o Sporting entenderá o jogo não como mais um jogo da Liga, mas como se fosse um jogo único e especial. 

A ideia de perturbar o rival na corrida para o título não pode ser vista como um mero comportamento mesquinho do tipo «se não posso ser eu, ao menos que também não sejas tu». Trata-se de um direito natural de afirmação e de garantia a ser dada aos adeptos leoninos de que, independentemente das circunstâncias, poderão acreditar no futuro. 

O Benfica é obviamente favorito. Tem uma equipa adulta e comprovadamente competitiva. O Sporting tem por ele a ausência de pressão nessa ideia óbvia de que tem muito a ganhar e quase nada a perder. 

Para um plantel jovem, sem grande maturidade, nada melhor do que pressentir que a montra da Luz poderá dar a visibilidade por que, naturalmente, anseiam e espaço de crescimento profissional. E isso ajuda a empolgar. E isso cria, por si só, uma natural vontade de sucesso. 

Como se vê, apesar das óbvias diferenças de interesse e de objetivo dos dois grandes protagonistas, um derby pode ser visto de muitas e variadas maneiras, mas nunca deixa de ser um espetáculo interessante e apetecível. 

Talvez ainda mais por se tratar de um derby em tempo de crise. Particularmente, a crise social - a pior de todas as crises - que transtorna e transtorna as pessoas, que as inibe na vontade de festejar o que quer que seja, sobretudo em momentos graves da vida nacional em que o povo começa a ter a mais perigosa de todas as atitudes coletivas: o conformismo na descrença. 

Pode o futebol ser, ao menos, um gerador capaz de reacender alguns ânimos?

Pois que seja. Digam o que disserem, chamem-lhe alienante ou ópio, acusem-no de levar os homens a virar a atenção do essencial, a deixarem-se seduzir por essa estranha religiosidade pagã; a verdade é que o futebol, sobretudo nestes momentos especiais como o de um derby, é mais do que um entretenimento, mais do que um ócio, mais do que uma festa. 
É uma razão de vida.» 

- Vitor Serpa, jornal A Bola, 20 de Abril de 2013

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