segunda-feira, 22 de abril de 2013

José Manuel Delgado: A magia do derby em 90 minutos


Quem olhar hoje, nas páginas deste jornal, para a tabela classificativa da Liga Zon Sagres, depararse-á com uma diferença de 37 pontos entre Benfica e Sporting (70 a 33). E verá também que em 26 jornadas o Benfica marcou 90 golos (mais 61 que os leões) e sofreu menos 18. Ou seja, a distância, ditada pelos números, quase precisava de ser medida em anos-luz, ou não fosse a maior de sempre desde 1934/35. 

Dentro do campo, porém, o que é que se viu? 

Duas equipas que se defrontaram olhos nos olhos, o Sporting a apresentar argumentos para ter-se posto em vantagem e o Benfica a responder com uma eficácia que lhe valeu os três pontos (e com a nota artística máxima no golo de Gaitán, perdão de Lima, uma peça de Playstatíon em fuga do computador para o relvado). Em suma, um espetáculo que foi emocionante, com um Benfica surpreendido com a ousadia inicial dos rivais e estes a explicarem ao Mundo porque razão é o derby de Lisboa um dos mais cotados do planeta. 

Há quem não acredite na magia de alguns clássicos, na irrelevância do momento de forma ou da classificação dos intervenientes. Esses, se não ficaram convencidos com o que se passou ontem no estádio da Luz, são mesmo casos perdidos. 

O Sporting, sem os argumentos do Benfica, puxou dos galões da tradição e vendeu cara a derrota; os encarnados, ao invés, sentiram que tinham pela frente um adversário especial e demoraram a entrar em jogo e só a espaços estiveram ao nível que lhes é habitual. 

Concluidos os 90 minutos, o Benfica somou mais três pontos e manteve a distância de quatro pontos para o FC Porto, o que torna o jogo do próximo fim de semana no Funchal na partida-chave do título; mas o Sporting - que abandonou a Luz a queixar-se do árbitro (derby sem polémica não é derby) - não perdeu a face e tenho a certeza de que estará por certo a interrogar -se como é possível, com estes jogadores, não estar com mais 20 pontos. 

Se os leões precisavam de um certificador de opções para 2013/14, o derby serviu às mil maravilhas. O caminho de aposta na produção da Academia, com a inclusão de alguns jogadores-âncora com mais experiência, parece ser o único capaz de se encaixar nas possibilidades financeiras do clube de Alvalade e mostra ter pernas para andar... 

O Benfica, apesar de ter entrado novamente em jogo algo apático (nas receções a Bayer Leverkusen, Bordéus e Newcastle tinha acontecido o mesmo), sobreviveu, deu a volta por cima e está agora mais perto do título. 

Francamente, muito francamente, nunca me passou pela cabeça que o derby fosse um obstáculo de fácil transposição para o Benfica. Porque, embora cada jogo que separa os encarnados do 33º título nacional seja uma final, nenhum terá a carga emocional do de ontem. 

Um derby que honrou os derbies. 

- José Manuel Delgado, jornal A Bola, 22 de Abril de 2013

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