Neste rodopio de transferências, Javier Saviola saiu do Benfica.
Tenho pena. Percebo a perspectiva do clube, bem como a posição do jogador.
Atleta fundamental na conquista da Ligade 2010, foi sendo progressivamente relegado para um segundo plano perante outras tão discutíveis quanto legítimas opções técnicas.
Saviola sai como entrou: discreto, sensato, sereno, correcto.
Qualidades que aprecio em qualquer pessoa e muito mais no futebol onde impera o contrário.
Nunca se lhe ouviu publicamente um queixume. Foi sempre um profissional sem alardes ou tiques de vedetismo disparatado.
Leal e correcto para com colegas e adversários. Não precisa de se tatuar alarvemente ou de usar outros adereços ou penteados artísticos, nem de aparecer em tudo o que não é futebol.
Ouvi-o numa curta declaração após ter assinado pelo seu novo clube.
Com o sentimento de gratidão como memória de coração.
Com o sentido de responsabilidade de quem sabe ponderar todas as circunstâncias.
Em Fevereiro de 2011, escrevi nesta coluna que não conhecendo pessoalmente Saviola, acho que ele é nos relvados o que é na rua, em casa, na sociedade: um homem recatado responsável e simples.
Avesso à ilusão, à quimera, ao deslumbramento efémero, ao aplauso de ocasião.
Sem espalhafatos inconsequentes. Com 1,68 m de altura e muito mais de personalidade. Como em tudo o resto, a idade é cada vez mais uma ditadura.
No alto futebol chegar aos 30 anos é meio-caminho andado para a desqualificação.
Saviola faz falta ao nosso futebol. Mas irá longe quando os holofotes se apagarem. Porque tem vida e carácter para além da bola redonda.»
- Bagão Félix, jornal A Bola, 5 de Setembro de 2012
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