Bernardo Ribeiro: Nós merecemos esta final!

Não, não vamos estar todos a torcer pelo Benfica. É verdade que o emblema da águia é o que mais adeptos tem no país e que serão muitos milhões a vibrar antes, durante e esperemos que depois do jogo com a vitória da equipa de Jorge Jesus, mas há quem não consiga ultrapassar a barreira da rivalidade clubística. Não é grave, por excessivo que pareça. No entanto, serão muito poucos os portugueses que não desejarão o triunfo dos seus, que serão capazes de dizer que o país não merece uma grande vitória internacional, que gostassem de negar uma alegria de outro mundo aos milhões de portugueses que estão espalhados por esse Mundo fora, obrigados pelo desgoverno de quem manda a abandonar este bonito cantinho à beira-mar plantado para terem uma vida melhor.

Aprende-se muito quando se acompanha uma equipa portuguesa no estrangeiro. É bonito ver como se unem os nossos emigrantes, tantas vezes com o cachecol do seu clube ao pescoço, a gritar o nome do rival. Por cá é impossível, mas é preciso ter a noção de que nada nos une aos ingleses. E que a vitória do Benfica seria não só um pontapé na depressão encarnada, como na outra, nem que seja por conseguirmos esquecê-la por momentos. Não há sportinguista ou portista que não tenha entre os amigos um benfiquista. É deixá-lo festejar por um dia. Afinal, não é só das brincadeiras que vivem as relações. Sabe bem ver um amigo de sorriso nos lábios. E se até Pinto da Costa quer ver a águia a ganhar...

O Benfica não é hoje favorito à vitória, é um facto. O Chelsea tem um orçamento muito maior, jogadores de calibre difícil de alcançar, mas longe de ser uma das grandes equipas europeias a quem os encarnados teriam de reconhecer uma enorme superioridade à partida. Num exercício simplista, diria que em 10 jogos os ingleses ganhariam 5, empatariam 2 e perderiam 3 com os de Jorge Jesus. E hoje é dia de apenas um jogo. Numa final tudo é possível. Como o modesto Wigan mostrou ao milionário City. Mostrem então aos lordes quem somos nós!

-Bernardo Ribeiro, jornal Record, 15 de Maio 2013