A maioria dos comentadores escolheu Vítor Pereira como "treinador do ano". Compreende-se: é uma espécie de compensação pelas "humilhações" de que ele foi alvo na época passada, até por adeptos do FC Porto.
Mas elegê-lo como treinador do ano é um exagero em sentido contrário. Vítor Pereira ganhou o campeonato, mas teve péssimas prestações nas outras provas. Além disso, entrou num comboio em andamento, isto é, limitou-se a gerir um grupo que há muito tempo tem um plano de jogo definido e uma estrutura sólida por detrás.
No Porto, quando sai um jogador, basta pôr outro de características semelhantes no seu lugar, como aqueles jogos de peças em que se tira uma e se encaixa outra no mesmo sítio.
No Benfica, tudo é diferente. Quando Jorge Jesus lá chegou, a equipa estava em farrapos, não tinha um padrão de jogo definido e não havia por detrás uma estrutura forte e rotinada. Assim, tudo teve de ser inventado do princípio. E tem de ser recriado todos os anos, dadas as saídas de jogadores determinantes.
Finalmente, recorde-se que Jesus perdeu o campeonato mercê de um golo irregular, foi aos quartos-de-final da Champions (onde foi eliminado pelo Chelsea nas circunstâncias conhecidas) e ganhou a Taça da Liga.
Julgo ser evidente que Vítor Pereira, que até tenho defendido, só podia ser campeão no FC Porto - enquanto Jesus pode treinar com sucesso qualquer equipa, em Portugal e mesmo lá fora.
Até por isto: num tempo em que as finanças dos clubes são cada vez mais decisivas, é um treinador que valoriza enormemente os jogadores, metendo milhões nos cofres do clube que representa. E isso vale ouro!»
- José António Saraiva, jornal Record, 2 de Janeiro de 2012
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