Há um mês atrás, estava eu no estádio do Restelo, para começar o meu trabalho de reportagem no Belenenses-Porto.
Há um mês, este mesmo jogo terminou empatado a 1 golo.
Há um mês, no final da partida, e cumprindo o meu papel de repórter, dirigi-me a um dos capitães do FC Porto, Hélton, e pedi-lhe um comentário ao jogo.
Há um mês, disse eu: "Hélton, não foi uma noite feliz para o FC Porto".
Há um mês, Hélton respondia assim: "Não, infelizmente não conseguimos os nossos 3 pontos, mas...
Há um mês, a resposta não teve final porque uma pessoa responsável, não permitiu que outra com a mesma responsabilidade explicasse aos seus adeptos e ouvintes da Renascença, porque tinha sido uma noite infeliz.
Há um mês, isso aconteceu porque essa pessoa agiu de forma agressiva, arrogante e autoritária, impedindo um repórter de fazer o seu trabalho e "silenciando" a todo o custo um dos capitães do FC Porto.
Há um mês, fui "agarrado" por algo que já vivi vezes demais no jornalismo e em particular na minha área, o desporto.
Há um mês, e por causa deste episódio, fui, aos 45 anos de idade e aos 23, quase 24 de profissão, e pela 1ª vez dentro de um estádio (e fora dele) identificado, juntamente com os restantes colegas das outras rádios, pela PSP.
Há um mês, ninguém sabia quem tinha mandado identificar.
Há um mês, percebi quem tinha dito o que não disse e que depois passou a dizer.
Há um mês, mais uma vez, constatei que, felizmente, há raros delegados da liga que só ouvem, mas que não vêm.
Há um mês, lembrei-me de tantos e bons amigos que fiz e que são delegados da liga. Lembrei-me há poucos dias que alguns cada vez vejo menos nos campos de futebol, gostava de saber porquê. Tenho a certeza que alguns deles é porque para além de ouvirem bem, também vêm com clareza e justiça.
Há um mês, voltei a lembrar a colegas de profissão que "jornalista não é notícia". Apesar disso e por interesse de alguém eles escreveram o que lhes disseram. Uns melhores que outros, mas também isso não é notícia, para já.
Há um mês tive e tenho até hoje a solidariedade do meu chefe e da minha empresa.
Há um mês que o mundo não pára e há uns dias que a liga me pediu para falar do assunto, mas que por não ter instalações em Lisboa, eu teria que me deslocar ao Porto.
Há um mês que tomei uma decisão, depois de ter sido "ameaçado" e por respeito a mim e aos meus não me desviarei dela. Contudo, assumirei sempre o que prometi fazer, desde que cumpridos os "mínimos olímpicos" do respeito.
Há um mês que num flashback pela minha vida, lembrei a mim próprio que não sou perfeito, nem eu nem ninguém e que por isso mesmo devo perdoar os outros, quando eu próprio já o fui tantas vezes.
Há um mês que disse que o faria desde que me fosse demonstrado respeito.
Há um mês que me anda atravessado o obrigado que devo a todos aqueles que me ligaram, enviaram sms, postaram no face ou por mail manifestaram a sua solidariedade. OBRIGADO!
Há um mês que ando engasgado com o obrigado para com aqueles que nunca disseram nada, fosse por medo, respeito ao outro lado, devoção ou sei lá mais o quê. Agora sei quem são e por isso, OBRIGADO!
Há mês que me lembrei da paixão pela profissão e do respeito que tenho e que ganhei por quase a generalidade daqueles com que me tenho cruzado na minha vida profissional.
Há uns dias que parei e pensei "AGORA A FRIO" não fui eu que errei e as coisas começam pelo princípio e não pelo meio, muito menos pelo fim.
Tudo o resto é um CIRCO.
João Fonseca, Jornalista da Rádio Renascença
-Texto retirado do Blog Bola na Área