sábado, 30 de novembro de 2013

Rui Santos demolidor com Fernando Gomes


O presidente da FPF, Fernando Gomes, diz que o processo da “Bola de Ouro não é transparente” e tem razão. Não era e, agora, ainda é menos, porque a sensação que se colhe é que Blatter, agora, quer rectificar um erro (a glosa sobre Cristiano Ronaldo) com outro erro (“promover” a vitória de Ronaldo). 

Mas terá Fernando Gomes legitimidade para falar em transparência quando, sob a sua direcção e patrocínio, nada fez e nada faz para um caso de condenação em tribunal por fraude fiscal (João Vieira Pinto) deixar de brilhar na FPF – uma instituição de utilidade pública? Transparência e credibilidade? 

Perdeu-se a vergonha por completo neste país!

-Rui Santos, jornal Record, 30 de Novembro de 2013

António Varela: Benfica e Porto vão vegetando na mais absoluta mediocridade na Champions


A organização da final da Liga dos Campeões atribuída a Portugal foi uma prenda que a UEFA achou justo oferecer no ano do centenário de uma federação que alberga alguns dos figurantes mais animados das competições europeias, que episodicamente conseguem romper com o gigantismo dos poderosos, mas esta época vão vegetando na mais absoluta mediocridade. 

Entre crises de identidade ou decisões estratégicas mal avaliadas, os dois participantes portugueses na fase de grupos da Champions estão em vias de perder a oportunidade histórica de fazer valer o potencial das suas marcas, tipo "portuguese do it better". E não será por falta de vontade dos presidentes que isso acontecerá. Luís Filipe Vieira fez da presença do Benfica na final do Estádio da Luz uma das suas bandeiras mais recentes - tirada entendida como populista e que lhe valeu muitas críticas, agravadas pelo gozo do rival Pinto da Costa, disponível para exigir a presença do FC Porto no jogo decisivo com direito a vitória.

Mesmo relevando a ausência de realismo na projeção vieirista e a brincadeira deslocada do pintismo, a verdade é que os factos são um pesadelo para quem possa alguma vez ter pretensões quanto à definição de objetivos numa Europa futebolística agora a três, quatro ou cinco velocidades.

O Benfica venceu ontem num estádio onde o seu melhor resultado fora um empate e confirmou a participação na fase eliminatória da Liga Europa, mas o apuramento para da Liga dos Campeões depende da influência de terceiros (Anderlecht a roubar pontos ao Olympiacos), para além de um jogo bem-sucedido com o líder ao grupo, Paris Saint-Germain. Cenário mais gravoso se coloca a FC Porto (também já com a Liga Europa garantida), obrigado a ganhar em Madrid e esperar por um desaire do Zenit. Para quem queria uma festa portuguesa no Estádio da Luz, o cenário dificilmente poderia ser mais descoroçoante.

Ilustrativo da penúria portuguesa nas competições europeias desta época é também o facto de o triunfo do Benfica ontem ter significado acabar com um jejum de vitórias que já durava desde 19 de setembro, quando o V. Guimarães derrotou os croatas do Rijeka na 1.ª jornada da fase de grupos da Liga Europa. 

Desde esse dia, as equipas portuguesas disputaram 18 jogos e não venceram nenhum. Até à jornada de Bruxelas, onde acabou uma série negra que reduz a imagem de força do futebol português ao pretensiosismo pequeno-burguês de quem não tem meios para se meter em tão altas cavalarias. 

- António Varela, jornal Record, 28 de Novembro de 2013

José Ribeiro: As diferenças entre Jorge Jesus e Paulo Fonseca


Dois empates caseiros em menos de uma semana fizeram soar os alarmes no Dragão. Um, permitiu a aproximação de Benfica e Sporting, na Liga; o outro deixou comprometida a qualificação da equipa para os oitavos-de-final da Liga dos Campeões. Curiosamente, no mesmo período, o Benfica arrancou duas vitórias de aflitos, tanto na Liga como na Champions. Mas houve essa "pequena" diferença": triunfos contra empates. 

Os sinais de quebra do FC Porto eram visíveis há várias semanas, apesar de Paulo Fonseca não os conseguir identificar, atirando para cima do azar todas as causas dos maus resultados. Mesmo agora, confrontado com factos, responde que não acredita em mudanças repentinas. Ora foi precisamente esse o caminho que Jesus escolheu quando começou a sentir que o Benfica não atingia o patamar deseiado. Nenhum deles reconhece os erros, é certo, mas pelo menos o treinador dos encarnados tem procurado soluções de forma insistente. Talvez por isso esteja hoje a fazer o caminho de regresso ao patamar de êxito, enquanto Paulo Fonseca experimenta uma descida ao "inferno".

Desde que se iniciou a época (em rigor, um pouco antes, até), Jesus alterou várias vezes o meio-campo e o ataque. Na maioria das ocasiões, isso ficou a dever-se a lesões. Recorde-se que as águias já estiveram (ou estão) privadas de Salvio, Cardozo, Rodrigo, Djuricic, Markovic, Gaitán, Fejsa, Sulejmani e Ruben Amorim. Não foram lesões simultâneas. Mas obrigaram Jesus a pensar diferente, a criar outras soluções. Também por isso, o meio-campo já foi desenhado de várias formas e com diferentes intérpretes (só Matic e Enzo Pérez fizeram os 10 jogos na Liga). Umas vezes Jesus juntou-lhes Djuricic à frente, Fejsa atrás ou Ruben Amorim ao lado. O ataque já utilizou quase todas as duplas possíveis: Cardozo-Lima, Cardozo-Djuricic; Cardozo-Rodrigo; Lima-Djuricic e Lima-Rodrigo. E até já foi assumido apenas por Cardozo. As opções de Jesus podem agradar ou não aos adeptos. Mas, lá está, ele procura a melhor fórmula e aceita os riscos dessas mudanças repentinas.

São precisamente essas alterações de sistema e de posicionamentos que Paulo Fonseca ainda se recusa a fazer. Fernando tem sempre um colega ao lado, chame-se Defour ou Herrera; o FC Porto joga sempre com dois extremos, sejam eles Varela, Josué, Licá ou Ricardo. E Jackson está sistematicamente isolado no ataque, contando com a chegada de Lucho. Muda nomes, não sistema. Os adeptos reclamam mudanças. E não vale a pena tentá-las? 

- José Ribeiro, jornal Record, 29 de Novembro de 2013

João Malheiro: Receção ao FC Porto na última ronda da 1ª volta afigura-se decisória


Quanto vale um ponto de vantagem na Liga? Pouco, muito pouco. Ou talvez muito, mesmo muito, se recordarmos o desfecho do último Campeonato. O Benfica, a par do Sporting, morde, agora, os calcanhares ao FC Porto. Um ponto? O que vale? Muito ou pouco?

Valha o que valha, importa recordar que estamos ainda com um terço de competição. Como joga o FC Porto? Mal, muito mal. E tem beneficiado de preciosas ajudas da arbitragem, caso assim não fosse estaria distante da liderança. E o Benfica? Não tem sido persuasivo, pelo menos de forma continuada, mas percebe-se que o clima emocional é mais favorável, que o conjunto está mais próximo da rentabilidade que patenteou na última época, exceção feita ao fatídico mês de Maio. 

O Sporting? Está voluntarioso, demonstra caráter e ambição, conquanto sabe-se que não dispõe dos mesmos recursos dos seus principais oponentes.

O que se exige aos benfiquistas nesta fase da prova? Apoio incondicional. O horizonte próximo contempla desafios de alguma envergadura, só que muito suscetíveis de se saldarem em triunfos importantes. A receção ao FC Porto, na última ronda desta primeira volta, afigura-se decisória. Não é de enjeitar que o Benfica receba o seu antagonista na liderança ou a um passo da sua consumação.

O momento é de unidade. Está tudo em aberto e os últimos indicadores são preciosos, fazem recrudescer o clima de entusiasmo. Vamos todos dar um pouco mais à equipa? Não será que a dívida dos jogadores pode ser saldada, atraindo também eles os apaniguados vermelhos? A combinação, a cumplicidade adeptos/equipa é mesmo decisiva. O Benfica justifica, o resultado só pode ser o sucesso. 

- João Malheiro, jornal 'O Benfica', 29 de Novembro de 2013

Bruno de Carvalho: Declarações polémicas sobre a Bandeira Nacional podem levar a pena de prisão?


"ARTIGO 332.º do Código Penal
(Ultraje de símbolos nacionais e regionais)


1- Quem publicamente, por palavras, gestos ou divulgação de escrito, ou por outro meio de comunicação com o público, ultrajar a República, a bandeira ou o hino nacionais, as armas ou emblemas da soberania portuguesa, ou faltar ao respeito que lhes é devido, é punido com pena de prisão até 2 anos ou com pena de multa até 240 dias."

Fernando Guerra: Jesus está esgotado mas Paulo Fonseca vai ser capaz de erguer a empreitada


Em concreto, sobre Jorge Jesus julgo ter-se esgotado o que havia a dizer. Chegou ao Benfica sem currículo, sem nada de relevante para exibir. Competia-lhe estender uma passadeira a Luís Filipe Vieira e expressar-lhe eterno agradecimento por ter feito dele o que nem ele alguma vez sonhou ser. 

Em vez disso, apesar de ser dono do pior registo na história da águia, na relação contrato/títulos conquistados, insiste em abusar da sua megalomania para contradizer o presidente, colocar-se acima da instituição Benfica e ludibriar o tribunal público. Até ver, é uma questão de tempo...

No que se refere a Paulo Fonseca, o problema é diametralmente oposto, na medida em que em cada frase dita apenas consigo enxergar sinceridade. E acentuada ingenuidade, reflexo de quem acusa as naturais dificuldades suscitadas por promoção tão espontânea e surpreendente quanto gigantesca. 

Acredito que será capaz de erguer a empreitada, mas a herança é ingrata. Talvez precise de rever a sua lógica de discurso, emprestando-lhe firmeza, e de alertar as memórias débeis que uma coisa é dispor de João Moutinho, Hulk ou James Rodriguez, outra, incomensuravelmente diferente, de Licá, Josué, Carlos Eduardo ou Ghilas... Paulo Fonseca jamais podia ter recusado o convite do dragão, mas os riscos são imensos e perigosos...

-Fernando Guerra, jornal A Bola, 26 de Novembro de 2013

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Luís Pedro Sousa: Markovic tem que pedir lições de humildade a Matic


Mesmo defrontando uma das piores equipas do Sp. Braga dos últimos anos, o Benfica não conseguiu ser superior ao adversário, que colocou uma vez mais a nú muitas das fragilidades evidenciadas desde o início da temporada. Os encarnados não têm um sistema tático consolidado, uma matriz de jogo devidamente absorvida pelos seus intérpretes e continuam sem transformar em mais-valias a esmagadora maioria dos reforços.

O Sp. Braga, mesmo somando a quinta derrota consecutiva na Liga, o que só surpreende quem nunca compreendeu o papel que jogadores como Ruben Amorim, Hugo Viana e Mossoró desempenhavam na equipa, só pode penitenciar-se da fífia de Mauro, que permitiu a Matic materializar em golo uma das raras oportunidades de que o Benfica dispôs.
A partida de ontem na Luz fez, aliás, emergir dois sérvios como principais protagonistas, embora por motivos antagónicos. Um que já é, passe o exagero, um decano da casa e se encontra em nítida subida de produção, e um outro recém-chegado, ainda jovem e rotulado de craque, que desrespeitou o treinador interino, Raul José, por não ter percebido que a sua substituição se ficou a dever única e exclusivamente ao laxismo evidenciado em campo.

Markovic, paradoxalmente o único dos reforços que já mostrara qualidade, bem pode pedir lições de humildade e profissionalismo ao compatriota. Matic, que ontem deu 3 pontos ao Benfica mercê de uma inspirada jogada individual, chegou à Luz negociado pelo Chelsea e não pelo Partizan. Preterido de forma sistemática por Javi García, soube aguardar, procurar o seu espaço e agarrar as oportunidades que entretanto surgiram. Depois de um início de época soluçante, já que foi uma das principais vítimas dos constantes acertos tático-estratégicos que Jorge Jesus promoveu, parece agora de volta aos tempos áureos, o que lhe valerá certamente, e num futuro não muito longínquo, o salto para uma liga mais competitiva. O avançado, ao invés, não compreendeu que há etapas a queimar e um estatuto por conquistar... à custa de exibições regulares e compromisso constante.

Mesmo sem ser superior ao Sp. Braga, o Benfica alcançou uma vitória que o coloca a 1 ponto apenas do FCPorto, que, por seu turno, não traduziu em golos a supremacia demonstrada perante o Nacional. Mas, apesar do inquestionável domínio do jogo, Paulo Fonseca continua sem saber resolver problemas também evidentes desde há muito. O tridente do miolo não funciona e as constantes mudanças nas alas em nada beneficiam o coletivo.

-Luís Pedro Sousa, jornal Record

domingo, 24 de novembro de 2013

Afonso de Melo: Estátua de Cosme Damião provocou crise de urticária no Porto


1. Parece que a ideia de erigir uma estátua a Cosme Damião, o grande ideólogo do Benfica, provocou uma crise de urticária a Oeste de Pecos. Habituados a ser favorecidos pela Câmara de Gaia, os seguidores do Madaleno insurgem-se quanto à despesa que possa ser levada a cabo pela Câmara de Lisboa. Possívelmente, e pela sua forma de estar na vida, esperariam que fosse a Câmara de Almada a pagar a obra. Mas registe-se a evolução: para quem sempre desejou ver «Lisboa a arder» (imagine-se o gasto que seria para o erário público) revelar esse tipo de preocupação é de louvar. Esperamos agora que se levante em Gaia uma estátua ao fundador do FC Porto. Se até lá se decidirem por um.

2. Defour é um excelente entrevistado. Depois de ter confessado que mal chegou a Portugal foi proibido pelos dirigentes do seu clube de manter a amizade que trazia da Bélgica com o benfiquista Witsel, vem agora dizer que no «FC Porto se divertem imenso». Acredito. Mas não tanto, com certeza, como no tempo de Hulk e Sapunaru, aqueles moços gaiatos que rebentavam com os túneis e os «stewards» a pontapé. Isso, por mais que o Copiador-de-Livros-Alheios, do alto da sua grande honestidade intelectual, teime em desmentir, é que eram tempos felizes!

3. O presidente do Sporting também é um rapazinho feliz, à sua maneira. Viaja no autocarro da equipa, dá uns pontapés na bola com os profissionais, senta-se no banco de suplentes e embaraça o treinador, já é mais popular do que o Paulinho, essa jóia de menino que não merecia tal desfeita. A sua última tirada foi de estalo. Consta que se dirigiu ao árbitro, Duarte Gomes, dizendo: «Temos de falar, nós os dois!» É de homem! Só posso entender tal frase de duas maneiras: ou como uma ameaça, ou como um convite para tomar um cafézinho. Vai longe... 


- Afonso de Melo, jornal 'O Benfica', 22 de Novembro de 2013

Vítor Serpa: Benfica e FC Porto estão piores que na época passada


Muito provavelmente, o campeonato mais aberto dos últimos anos. Não tanto pelas capacidades dos principais protagonistas, mas pelas insuficiências súbitas e imprevistas. Nem FC Porto nem Benfica melhoraram em relação à última época. Pelo contrário, pioraram. 

Há, agora, a acrescentar no cenário de candidatos o improvável Sporting. Não pelo currículo, não pela História grande que o clube tem, mas pelos tempos recentes que não deixavam prever recuperação tão rápida. Se ganharem hoje, os leões mantêm-se em igualdade de pontos com o Benfica e ficarão apenas a um ponto do líder!

Ontem, o FC Porto não conseguiu melhor do que um mísero ponto, em casa, frente ao Nacional. Foi mais uma noite sem rasgo, sem a qualidade e, especialmente, sem o ímpeto de tempos recentes. Poder-se-ia dizer que melhor esteve o Benfica, que diminuiu a distância para o seu principal rival chegando à diferença mínima, não se desse o caso de ter tido alguma sorte na vitória sobre o Braga e de ter mostrado mais uma vez que, no campo, é bem mais dependente de Cardozo do que do seu treinador.

No fundo, Benfica e FC Porto regressaram de férias forçadas pela gloriosa jornada da Seleção Nacional em piores condições. Foram, ambos, previsíveis e estranhamente vulneráveis. Como há muito não se via.

No Benfica, salvou-se o resultado. Uma vitória, mais ou menos merecida é sempre uma vitória e vale os mesmos três pontos do que uma vitória em jogo da mais elevada nota artística. 

No FC Porto, nem o resultado se salvou. No regresso certamente sacrificado de Pinto da Costa à galeria presidencial a equipa esbanjou pontos que poderão vir a revelar-se preciosos.

Esperemos, hoje, pelo Sporting para ver se os seus jogadores chegaram de férias animados. Aliás, saberem que podem ficar a um ponto do líder já deverá ser suficiente motivação... 

- Vítor Serpa, jornal A Bola, 24 de Novembro de 2013

Ricardo Costa esclarece: Acordo no processo Jorge Jesus está contemplado nos regulamentos


Nada como um caso mediático isto é, um caso envolvendo um clube grande - para descobrir os meandros da "lei desportiva" e desvelar as novidades. Por experiência própria o redijo: só um processo de um grande ou de um grande jogo pode chamar a atenção para aquilo que existe e - se for essa a circunstância - sempre se aplicou antes com o mesmo critério e com igual método a dezenas de outros casos. Nesta época, noutras épocas ou em todas as épocas.
  Vem isto a propósito do "processo Jorge Jesus". Depois de se perceber que a decisão sairia muito antes do Verão de 2014 (ao invés do augúrio dos especialistas), surgiu na imprensa e nos painéis televisivos que o castigo seria 30 dias. 

Para um jurista conhecedor do Regulamento Disciplinar da Liga, isso não significava (com esse detalhe) qualquer futurologia "instruída" sobre a decisão do Conselho de Disciplina (CD) da FPF. Isso só poderia significar uma "informação privilegiada" da documentação chegada ao edifício da FPF: o "acordo" entre o arguido Jorge Jesus e a Comissão de Instrução e Inquéritos (CII) da Liga (o "Ministério Público" do futebol profissional) sobre a infracção e a sanção a aplicar aos factos constantes do processo, dependente ulteriormente da apreciação final do CD. Ilegal? Não. 

Desde 2011 que esta possibilidade de o destino dos processos ser objecto de um "consenso" entre arguidos e a CII está prevista, sob a forma de requerimento conjunto que o CD "ratificará". Corrente? Cada vez mais se verifica os arguidos desportivos optarem pelo caminho do "menor risco", ainda que prescindindo de lutar pela absolvição junto do CD ou do direito de recurso. 

Ilimitado? Não, pois o CD tem que respeitar pressupostos para a "homologação" - por ex., recusa o acordo se não concordar que foi cometida a infracção disciplinar que nele se indica ou se foi outra a cometida.

Entre agressão (punível a partir de 3 meses), conduta "grosseira" (que, havendo "acordo", tinha entre 8 dias a 3 meses como moldura da suspensão) e lutar juridicamente por uma exclusão da sua culpa e em julgamento, Jesus optou pelo caminho intermédio: reconheceu a "grosseria" e propôs ser castigado em 30 dias: a CII concordou; o CD aceitou esse ilícito (requisito imprescindível) e considerou adequada a pena. Assim fez Jesus, tantos outros já fizeram e assim farão muitos outros no futuro. 

Não se trata agora de prever o "verão" dos castigos; antes o de prever o tempo e o modo das "cooperações" na justiça desportiva. Um novo paradigma, portanto. Que ainda escapa a alguns especialistas. 


- Ricardo Costa, jornal Record, 24 de Novembro de 2013

Polémica: Castigo de Jesus foi acordado entre o Benfica e a Liga


O Benfica está de parabéns em relação à forma como conduziu, juridicamente, o "caso Jesus" (em Guimarães) mas tem de agradecer à Liga a disponibilidade que revelou em tirar o treinador do Benfica das garras de um castigo tendencialmente mais duro, nunca inferior a três meses. A opinião pública não entende estes benefícios ao infractor e a integridade do futebol não ganha nada com as sistémicas branduras disciplinares.

Chegaram-me muitas reacções aos comentários que fiz na SIC Notícias, sobre o castigo federativo aplicado a Jorge Jesus, aplicado mediante um acordo entre o treinador dos encarnados e a Comissão de Instrução e Inquéritos da Liga (CII). Conhecia o acórdão do CD da FPF e estava informado sobre as bases em que assentava o acordo conjunto de sanção a aplicar sob a forma de processo especial abreviado que a CII e o treinador do Benfica haviam realizado.

Trata-se de uma decisão polémica, porque o mês de suspensão aplicado pelo CD da FPF, que resulta da homologação do acordo subscrito pela CII e por Jorge Jesus, não tem correspondência com as imagens vistas e revistas, através da televisão, dos acontecimentos em Guimarães em que o treinador do Benfica se assumiu como principal protagonista. Como é isso possível então?

No decurso da instrução, Jorge Jesus apresentou requerimento nos termos previstos no artigo 252 do Regulamento Disciplinar, que lhe permitia acordar na sanção aplicável aos factos indiciados no processo. Perante este requerimento (base legal), a CII considerou estarem reunidos todos os requisitos para a aplicação da sanção prevista no art. 136 (lesão da honra e reputação), cuja suspensão se acha entre o mínimo de um mês e o máximo de um ano. E porquê? Porque Jorge Jesus acedeu em concordar que, mesmo de forma indevida, tentou ajudar o adepto em tronco nu (que todos vimos nas imagens) a regressar às bancadas. Os inquiridos em sede de instrução confessaram uma certa indignação ao 'tratamento desigualitário" que estava a ser dado àquele adepto e que a conduta de Jorge Jesus havia sido motivada por essa indignação, face ao excesso de força utilizado pelas forças de segurança.

Por que razão foi aplicado o art. 136 ("Lesão da honra e da reputação") e não o 131 ("Agressões")? Porque o art. 131 refere que à agressão deve estar subjacente um acto voluntário. A conclusão foi no sentido de não se lograr a convicção de que houve vontade de Jorge Jesus em agredir. Não houve "ânimo de agredir"; ao invés - pode ler-se no acordo - "aquilo a que o arguido dirigia a sua vontade não era a agressão de outra pessoa, mas antes a 'libertação' de alguém que achou estar a ser sujeito a uma força excessiva e lhe pedia ajuda".

Perguntam os leitores: mas então, neste caso, perante os antecedentes disciplinares do treinador do Benfica, não há reincidência e, como tal, agravamento da pena? Há. Na verdade, Jorge Jesus, em função de ter sido castigado em 2011/12, deveria ter sido sancionado com um mínimo de dois meses de suspensão, mas pelo facto de ser treinador (beneficia de uma redução "a um quarto") e de ter confessado a factualidade acima descrita, à CII afigurou-se adequada a aplicação de uma sanção de 30 dias de suspensão, considerando o princípio da proporcionalidade.

Em síntese: é possível que Jorge Jesus tenha "cegado" e não se tenha apercebido da gravidade dos actos que perpetrou em Guimarães, na noite de 22 de Setembro. O contexto em que ele se encontrava, sob enorme pressão, no seguimento do "caso Cardozo", com os adeptos a optar pelo apoio ao paraguaio, não o colocava numa posição de estabilidade emocional. Mas isso não invalida o reconhecimento da factualidade. Jorge Jesus é um grande treinador, mas a justiça desportiva não pode continuar a arranjar expedientes para o proteger. Dos actos e das declarações. Já são muitos os exemplos contraproducentes, que penalizam a sua imagem e a do clube encarnado.

Sem a "colaboração" da CII, Jorge Jesus não escaparia a um mínimo de 3 meses de suspensão.

Assim, e num processo relativamente célere (apontei sempre para este prazo, ao contrário de Pinto da Costa que fez declarações em sentido contrário, prevendo que o castigo só sairia lá para o Verão), o Benfica não contará com o seu técnico no jogo de hoje com o Sp. Braga, e ainda com o Rio Ave, Arouca e Olhanense. Sem dúvida, um mal menor.

NOTA - O DN de sexta-feira utilizava uma "fonte do Benfica" para desmentir a notícia em primeira mão que havia dado no Tempo Extra da Sic Notícias, segundo a qual o castigo de Jorge Jesus tinha sido acordado com a CII, no âmbito de um mecanismo regulamentar. Oficialmente, no Benfica, ninguém o assumiu porque era impossível fazê-lo. O relator do acórdão escreve, inclusive que por princípio a sua posição é "contrária a este tipo de negociação". Negociação, sim. Acordo, sim. O DN foi enganado e não lhe teria ficado mal reparar o erro. 


- Rui Santos, jornal Record, 23 de Novembro de 2013

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Leonor Pinhão e o castigo de Jesus: Conselho de Disciplina da Liga deliberou bem


Jorge Jesus foi suspenso por 30 dias pela justiça desportiva e só voltará ao banco do Benfica no fim de 2013. Deliberou rápido, em função dos padrões correntes, o Conselho de Disciplina da Liga e, quanto a mim, deliberou bem.
Não podia passar sem consequências o ataque de filoxera que acometeu o nosso treinador nos instantes que se seguiram à saborosíssima vitória do Benfica em Guimarães.

A justiça desportiva entendeu que o treinador do Benfica interpretou gestos grosseiros, à vista de todos, e que proferiu injúrias ao alcance de quem as ouviu e, neste particular, já não foram todos, apenas os circundantes.
Por sua vez, o CD da Liga, depois de ouvir os implicados, decidiu que Jorge Jesus não agrediu nem stewards, nem polícias, nem escuteiros e que também não atropelou nenhum fotógrafo numa eventual fuga para a frente. E mais uma vez vejo-me a concordar com a justiça desportiva. O treinador do Benfica, pelo que as imagens mostram, não bateu em ninguém.

Trinta dias de suspensão parece-me castigo suficiente para que Jorge Jesus, na próxima ocasião em que sinta a percorrê-lo as urgências do motim, pense duas vezes no assunto antes de avançar de peito feito contra as injustiças do mundo.

Admito que os adversários, especialmente os rivais do Benfica, considerem curto o castigo e não demorem a pôr cá fora que o Benfica domina isto tudo não só desde o tempo do Salazar como também do tempo do nosso rei D. Carlos I e último. É deixá-los falar. Ou, à laia de ponto final, digam-lhes que nós sabemos muito bem quem é que manda nisto tudo desde os últimos treze primeiros-ministros.

-Leonor Pinhão, jornal A Bola, 21 de Novembro 2013

Carlos Daniel: Excelente análise sobre a importância da Selecção Nacional

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Rui Dias: Gáitan inventa com a cabeça os milagres que executa com os pés

 

Ainda precisa de calibrar inteligência lógica e inteligência criativa; ser o funcionário que cumpre regras do senso comum e o génio que desestabiliza a rotina. Mas poucos como ele alimentam o futebol como jogo e espetáculo

1. Defende a bola como um tesouro precioso; o corpo utiliza-o para escapar à fúria de carrascos sem pudor mas também para contar mentiras aos adversários; inventa com a cabeça os milagres que executa com os pés, sinal de que há nele coragem física a enfrentar os choques e força moral para querer sempre a bola e tentá-los. Gaitán possui todas as matérias-primas necessárias para tirar gente do caminho: domínio, arranque, velocidade, travagem e saída para onde manda o instinto. É um jogador deslumbrante, que faz cada vez melhor o que deve nas zonas neutras e ilumina a manobra ofensiva, em terrenos e circunstâncias onde espaços e companheiros, existindo, se escondem e até desaparecem em milésimos de segundo.

2. Como passa normalmente a primeira barreira de pressão, conquista vasto horizonte pela frente, que lhe permite expressar a técnica sublime e a infindável capacidade para inventar. Costuma jogar na esquerda mas também pode fazê-lo no meio, assumindo papel de intermediário entre a equipa e o ponta-de-lança; entre o jogo e o golo. Na época passada, em grande parte dos jogos europeus fora da Luz, ocupou essa zona vazia quando a equipa atua com dois avançados e que, em 2013/14, já foi preenchida, em nome de equilíbrio e segurança, juntando Ruben Amorim a Matic e Enzo. Nico não tem o sentido estratégico dos grandes maestros mas por ser habilidoso, veloz e coordenado; por viver na permanente busca de espaços vazios e usufruir de quase todas as armas para fazer a diferença, no meio encontra mais panorama para tomar decisões mortíferas.

3. Aos 25 anos ainda peca por entregar-se a exercícios solitários condenados ao fracasso e pela menor generosidade no apoio defensivo. Mas quando põe tudo em pratos limpos, tira da cartola a iniciativa assombrosa com a bola colada ao pé esquerdo, o passe de morte ou o cruzamento perfeito, como se a glória estivesse, afinal, à distância de um estalar de dedos. Com confiança insolente nas suas capacidades, Gaitán é fabuloso a servir os especialistas do último toque, a alimentá-los expressando a qualidade que interfere no produto final da equipa e na melhoria de quem exerce na sua zona de ação. Na aproximação à baliza é impressionante o modo como vê analisa, decide e executa em centésimos de segundo, como se os quatro passos fossem apenas um.

4. No gráfico de produção no Benfica há demasiados altos e baixos que lhe têm atrasado a afirmação como estrela universal. Ao nível mais elevado, é difícil a vida de quem é regularmente recriminado na queda com os antónimos dos adjetivos que ouviu na escalada. Na quarta temporada com a águia ao peito, Gaitán é dos poucos elementos do plantel encarnado de quem Jorge Jesus ainda não extraiu, em continuidade, toda a excelência do futebol que tem para oferecer. Para se consolidar como um dos mais extraordinários futebolistas da Liga, dono de um pé esquerdo abençoado e senhor de ilimitada imaginação, precisa ainda de calibrar a inteligência lógica e a inteligência criativa; ser o funcionário que cumpre todas as regras do senso comum e o artista que agita e desestabiliza a rotina. Poucos como ele têm arte para alimentar o futebol como jogo e espetáculo. 

- Rui Dias, jornal Record, 20 de Novembro de 2013

José António Saraiva: Varela tem lugar no trio da frente da Selecção


O treinador sueco tinha dito que o jogo de ontem não iria ser um Ronaldo-Zlatan (Ibrahimovic). Mal sabia ele que estava a resumir o encontro: no final, seria Ronaldo 3 - Zlatan 2.

A idolatria incomoda-me, e não gosto do endeusamento que os jornalistas portugueses fazem de Ronaldo. Até porque é desmotivador para os restantes jogadores da Seleção que tenderão a dizer: "Se Ronaldo é o Deus, então ele que resolva". Felizmente isso não aconteceu ontem, e todos os jogadores foram de uma abnegação extrema.

Entretanto, com todas estas reservas à idolatria, devo reconhecer que Ronaldo fez finalmente um jogo ao mais alto nível na Seleção portuguesa. Os três golos que marcou mostram até que ponto se transformou numa "máquina de fazer golos". Abdicou de algumas qualidades que tinha para concentrar toda a sua energia no ataque à baliza.

Perdeu em capacidade de finta, mas ganhou em capacidade de desmarcação, poder de remate com os dois pés, impulsão e jogo de cabeça. E talvez hoje o goleador mais temível do futebol mundial.

Este apuramento para o Mundial também consagrou outro homem que às vezes é apresentado como o "patinho feio" da Seleção, menosprezado por comentadores e odiado por muitos adeptos do FC Porto e Benfica. Mas é uma ingratidão fazê-lo. Paulo Bento pegou numa equipa que Oueiroz deixara de rastos e fê-la renascer. Ontem, a nossa Seleção realizou um dos mais belos jogos que lhe vi fazer.

Num rápido olhar sobre os 23 que irão ao Brasil, direi que Portugal tem poucas alternativas na defesa (para lá dos titulares de ontem não há grandes opções), tem imensas alternativas no miolo (Veloso, Meireles, Moutinho, Josué, William Carvalho, Ruben Amorim, Ruben Micael) e tem pouquíssimas alternativas no ataque. Nani está muito em baixo e Postiga e Hugo Almeida são fraquinhos. Ontem Ronaldo fez tudo, mas não pode ser sempre assim. Julgo que Varela tem lugar no trio da frente.

Agora, na fase final, devemos ter esperança. Muitos dos nossos jogadores vão ter no Brasil o momento da verdade. Patrício, Pepe, João Moutinho, Nani, Coentrão vão ter uma oportunidade irrepetível de provarem ao mundo a sua, qualidade. E isso pode ser decisivo. 

- José António Saraiva, jornal Record, 20 de Novembro de 2013

ARREPIANTE: Suécia 2-3 Cristiano Ronaldo: Relato Nuno Matos Antena 1

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Video: Jornalista espanhol louco com exibição de Cristiano Ronaldo

Video: Rui Gomes da Silva oferece foto do Benfica Campeão Europeu em Hóquei em Patins no Dragão Caixa a Guilherme Aguiar


domingo, 17 de novembro de 2013

Bernardo Ribeiro: No FC Porto Cardozo não teria ficado


Cardozo é um jogador com um peso enorme no plantel do Benfica. Não só por estar a realizar a sétima temporada de águia ao peito, o que por si só já levaria a ser visto de forma diferente, mas pelos golos que marca e que muito têm contribuído para a felicidade dos adeptos encarnados. 

É curioso verificar como um ponta-de-lança com os números que o paraguaio exibe não recolhe, ainda assim, a unanimidade da tribo encarnada. Nem nas bancadas na Luz nem sequer aqui na redação. Os motivos poderão ser muitos desde o feitio por vezes pouco simpático à forma de jogar, que dá a ideia de quem tem pouca vontade de se esforçar quando a bola não lhe vai parar ao pé. A verdade é que os que não gostam recolhem trunfos na seleção paraguaia, pois apesar do que faz no Benfica, aí Tacuara não tem presença garantida.

Cardozo é hoje um jogador vital para Jorge Jesus. Foi o regresso do goleador que deu nova vida a uma equipa que parecia caminhar para a sua desintegração. Foram os seus 9 golos em 12 jogos que ajudaram o Benfica a sair da crise e a manter-se vivo em todas as frentes. Valeu então a pena a manutenção do avançado, apesar das tristes cenas protagonizadas no Jamor a temporada passada?

Todos os que olharem para o fenómeno futebolístico apenas como um momento dirão logo que sim. E mesmo outros que percam mais algum tempo a pensar na coisa. Porque não há verdades imutáveis nisto das opiniões, por muito que nos tentem vender que sim. Neste momento todas as leituras são possíveis. Mas poderá dizer-se que um treinador com outra personalidade nunca teria aceite ficar com Cardozo. Mourinho, por exemplo, teria corrido com ele. Por muito menos Balotelli foi a andar, mas acabou perdoado mil e uma vezes por Mancini. Bento seria outro que nunca aturaria a permanência do paraguaio. Há quem lhe chame teimoso, mas onde andam hoje Vukcevic, Stojkovic ou mesmo Carlos Martins? Pois.

O problema não está na permanência de Cardozo. Nenhum jogador é obrigado a sair de um clube por ter problemas disciplinares. Grave é a forma como todo o processo se passou, desde a conduta presidencial às palavras do treinador. Jesus fez saber mais do que uma vez que esperava a resolução do problema. 

Ela não apareceu, não porque Vieira ou o técnico não tenham tentado vendê-lo, mas porque à Luz não chegou nenhuma proposta que justificasse. E o técnico engoliu o que não terá sido fácil de engolir. Tudo está bem quando acaba bem: Resta saber se acaba bem. Por agora vai andando. 

No FC Porto teria ficado? Penso que não. 

- Bernardo Ribeiro, jornal Record, 17 de Novembro de 2013

Imperdível: Hat-trick de Cardozo ao Sporting visto da claque leonina


Afonso de Melo e a profissionalização dos árbitros: Tudo feito em cima do joelho por gente incompetente


1. O Madaleno, ou a Rainha de Inglaterra, como um dia lhe chamou o presidente do Benfica, é figura influente como poucas no xadrez do Futebol. Talvez por isso não se estranhe que surja nas ocasiões de estadão geralmente ladeado por um bispo e por um eneral (aqui a fazer as funções do cavalo). A idade consome-os aos três de forma dura e duradoura, como é próprio da sua crueldade. E assim os recordaremos, inauguração atrás de inauguração, celebração de centenário inventado atrás de visitas papais: os três juntos, como num galheteiro.

2. Recordar é o termo certo. Não merece a pena acreditar nas fotografias. O que revelam num dia pode ser apagado no outro. O que vale é que, como dizia Iva Delgado, «a memória nunca prescreve».

3. Profissionalizam-se os árbitros à vontade do dono, tal e qual como se albardam os asnos. A partir de agora, qual será o clube que deseja ser arbitrado por um amador se tem à mão um verdadeiro profissional? E os observadores, passarão a profissionais (esta do passarão vem mais a propósito do que pensei a princípio) ou limitar-se-ão a ser amadores que classificam profissionais? E os piores classificados dos profissionais passarão por sua vez a amadores? E os melhores dos amadores? E o presidente dos árbitros vai ser profissional ou já o é? Como tudo o que é feito em cima do joelho por gente incompetente ficam perguntas demais sem resposta. 

Para já, ao que parece, profissionalizam-se meia-dúzia. E que meia-dúzia!!! Um oferece a camisola a um adepto do FC Porto; outro festeja títulos martelados com os jogadores e treinadores do FC Porto... E assim corre o futuro da arbitragem. Com o Azeiteiro-da-Cabeça-d'Unto à frente do galheteiro! Afinal é ele quem manda. 

-Afonso de Melo, jornal 'O Benfica', 15 de Novembro de 2013

Luís Filipe Vieira insultado por adeptos sportinguistas à saída da casa de João Malheiro


Foi no último domingo. Na véspera, o Benfica havia batido o Sporting, na Luz, eliminando, num jogo carregado de emoção, o seu arquirrival da Taça. Nesse dia, minutos antes, em Loures, aonde resido, outro triunfo vermelho, frente ao Sporting, na modalidade de Futsal. Ao cabo de uma parte da tarde de convívio, em minha casa, com o Benfica como pano de fundo, quando Luís Filipe Vieira abandonou as minhas instalações, um grupo organizado de jovens adeptos leoninos, dirigiram-lhe, de forma altissonante, alguns impropérios, demonstrando uma deplorável falta de respeito desportivo, para já não falar do devido esguardo institucional.

Morador em Loures, cidade com inúmeros adeptos benfiquistas, registei o acontecimento com particular lamúria. Da mesma forma, sublinho a postura exemplar de Luís Filipe Vieira, incapaz de responder às provocações, assumindo uma postura dignificante para o líder de uma instituição com a grandeza e o caráter do Sport Lisboa e Benfica.

No dia seguinte, o acontecimento foi notícia. No mesmo dia e nos subsequentes, recebi inúmeras manifestações de solidariedade, repúdio pelos acontecimentos, inclusive de vários aficionados e até sócios de longa filiação na agremiação de Alvalade.

O sucedido vale o que vale. Mas vale, sobretudo, pela serenidade, mais classe de Luís Filipe Vieira. E vale pela selvajaria verbal de simpatizantes do Sporting, clube que tantas vezes apregoa superioridade moral, quando muitos dos seus apoiantes comentam arruaças de absoluta torpeza. 

-João Malheiro, jornal 'O Benfica', 15 de Novembro de 2013

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Pedro Santos Guerreiro: UEFA atribuiu à FPF o prémio de marketing do ano

 

A enchente garantida para esta sexta-feira no Estádio da Luz é muito mais do que um sinal de devoção coletiva pela Seleção Nacional. É o resultado de uma gestão profissional na Federação, que, quanto à lotação, neste jogo fez tudo bem.

Agora é ganhá-lo.

É um dos jogos do ano. Portugal contra Suécia. Ronaldo contra Ibrahimovic. Primeira mão de apuramento contra exclusão do Mundial de futebol. O frenesim à volta do jogo é tão grande que, já ontem, a Federação decidiu emitir mais 800 bilhetes para lugares com visibilidade reduzida: voaram num instante.

Só se pode vender o que é bom: a perspetiva de jogo e a qualidade das equipas asseguram-no. Mas depois há o resto. Há o marketing, a publicidade, os canais de distribuição, o preço, as promoções. Ora, a Federação investiu em publicidade e ativou duas parcerias de envergadura, uma com o Continente, para vender os bilhetes, outra com a Santa Casa da Misericórdia, com a qual fará o espetáculo da maior bandeira de Portugal num estádio. Haverá bandas e festança.

O resultado é um pouco mais de 60 mil pessoas no estádio, que pagaram bilhetes a partir de dez euros, sendo a maior parte deles a 20 euros. Faça as contas, é um balúrdio. Nem há uma semana, o superjogo no mesmo estádio entre o Benfica e o Sporting teve um pouco mais de 40 mil pessoas, com os bilhetes em média mais baratos.

Isto acontece em primeiro lugar porque o público de Seleção Nacional é diferente do público dos jogos de clubes. Há mais famílias. Haverá milhares. de crianças a ver no estádio este Portugal-Suécia. Mas também acontece porque, através das parceiras e promoções nos supermercados, a Federação conseguiu impulsionar a compra por impulso.

Isto não é só futebol, é economia. É gestão - a gestão profissional de Fernando Gomes, que tem cumprido as expectativas com que entrou na FPF. Não é por acaso que estas campanhas são um caso de estudo na UEFA, que atribuiu à Federação portuguesa o prémio de marketing do ano.

O estádio vai encher-se com grandes esperanças. Esperemos que se esvazie de gente radiante. 

- Pedro Guerreiro, jornal Record, 14 de Novembro de 2013

Leonor Pinhão: Elejo Cardozo como o adepto do ano


Com a liberdade e a autoridade que me são conferidas nesta página, atribuo ao cidadão paraguaio Óscar Cardozo o título de adepto do ano do SLB.
Do ano civil, entenda-se. Aquele que começou a 1 de Janeiro último e que terminará no próximo dia 31 de Dezembro.

Podem-me contestar a decisão por ser extemporânea, precipitada. Ainda falta um mês e meio até que 2013 acabe e quem sabe se, até lá, não aparecerá outro adepto, ou mesmo sócio, capaz de uma proeza qualquer que a todos encante.

No entanto, duvido de que, quem quer que seja o candidato, se consiga bater com Óscar Cardozo pelo título de adepto do ano, distinção que, a meu ver, se vai ganhando durante 365 dias à porfia e não por uma noite de brilharete avulso seja em que mês for.

É evidente que a prestação do paraguaio na noite de sábado contribuiu para o peso desta nomeação. Mas só contribuiu em 50 por cento. E não foi por ter marcado três golos ao velho rival, coisa que já tinha feito, na época passada, em Alvalade. Isto, segundo os critérios da Liga com os quais não concordo porque um dos golos atribuídos a Óscar Cardozo foi, inequivocamente, um auto-golo de Rojo.

Neste último jogo com o Sporting, o que pôs fim à discussão sobre o nome do adepto do ano não foi a veia goleadora do paraguaio. Cardozo, por norma, marca muitos golos ao Sporting, daí não veio grossa novidade. No sábado só foi diferente porque não se tratou de Cardozo mas sim de meio-Cardozo, visto que se magoara seriamente no jogo anterior e a sua utilização esteve em dúvida até à hora de entrar em campo.

Provavelmente, se a Liga portuguesa fosse organizada pela ONU, Cardozo não tinha jogado. Já ouvi protestos assanhados pela sua utilização no sábado contrariando todas as disposições médicas e humanitárias em vigor.
No entanto, o meio-Cardozo magoado que se apresentou a jogo deu uma grande lição aos magoados adeptos do Benfica, aos que ainda não recuperaram a alma perdida naquelas duas semanas fatídicas do último Maio.

E sabe-se que adepto sem alma é meio-adepto. Ponham, portanto, os meios-adeptos os olhos no meio-Cardozo, também ele magoado, mas mais do que capaz de fazer o que se lhe pedia nesta última ocasião. E sem hesitações. Só por isto já merecia a distinção de adepto do ano. Mas houve mais.
Os outros 50 por cento que contribuíram para a atribuição do título de adepto do ano a Cardozo surgiram naqueles instantes depois do último descalabro da temporada, no Jamor, quando um inconformado Óscar Cardozo se dirigiu ao seu treinador em termos desabridos, pedindo-lhe explicações, apontando-lhe o dedo.

Foi feio? Foi pois. Mas quantos adeptos do Benfica não teriam feito exactamente a mesma coisa se para tal tivessem tudo oportunidade? Oh, falsos moralistas!

No melhor e no pior, em 2013, existiu uma simbiose perfeita entre o paraguaio e os adeptos do Benfica. Houve vezes em que um e os outros pareciam a mesma coisa.

Por isso, Óscar Cardozo inteiro e meio-Óscar Cardozo, elejo-te o adepto do ano.

Tenho dito.

-Leonor Pinhão, jornal A Bola, 14 de Novembro de 2013

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

José António Saraiva: Sporting deixou de ser grande ou Leonardo Jardim decidiu ser hipócrita?

 

Há meia dúzia de semanas, Leonardo Jardim considerava uma hipocrisia um dos três grandes queixar-se das arbitragens. No sábado passado, porém, lá apareceu a justificar a derrota com "dois erros do árbitro". Será o Sporting que deixou de ser grande ou Jardim que decidiu ser hipócrita?

Devo dizer que sempre me indignaram mais os penáltis mal assinalados do que aqueles que o árbitro não marca, sobretudo quando as jogadas não têm perigo nenhum.

Mas, com erros ou não, o dérbi lisboeta foi um importante jogo de futebol, sobretudo por duas razões:

1 - Confirmou a ressurreição do Sporting, depois do coma da época passada. É hoje uma equipa alegre, intensa, objetiva, rapidíssima, funcionando sempre em coletivo, capaz de trocar a bola em pequenos espaços, onde cada jogador está a superar-se. Leonardo Jardim, com o apoio do presidente, tem feito um trabalho tremendo;

2 - Confirmou o crescendo do Benfica, depois de um desgraçado início de época. A equipa apática de há semanas parece transfigurada: corre, luta, voltou a produzir um futebol vistoso e espetacular, com todos os jogadores a subirem de produção.

Sendo um jogo com grandes jogadas e grandes golos, o dérbi acabou por ser decidido por um lance cómico, que no entanto pôs justiça no resultado, considerando que:

A - Numa altura crucial do jogo, o Benfica perdeu uma pedra que estava a ser preciosa (Ruben Amorim), caindo a pique e permitindo a reação do Sporting;

B - O Benfica voltou a sofrer um golo depois do minuto 90, o que é sempre traumatizante, mas foi cruel depois do esforço enorme de Atenas e quando os jogadores já julgavam a eliminatória resolvida;

C - Mesmo assim, a equipa cerrou os dentes, fez das tripas coração, encostou o Sporting às cordas e teve ânimo para chegar à vitória.

Portanto: parabéns ao Benfica, parabéns ao Sporting e uma recomendação a Jardim: nunca volte a dizer "desta água não beberei". Nenhum latino (mesmo ilhéu) pode afirmar que nunca se queixará do árbitro. 
Não temos a fleuma britânica, temos o sangue quente - e sobretudo, como aceitamos com dificuldade as derrotas, somos sempre tentados a justificá-las com erros alheios. 

- José António Saraiva, jornal Record, 13 de Novembro de 2013

Carlos Daniel: Subida de rendimento da equipa deve-se ao novo sistema de 3 médios

 

Que me desculpem aqueles que não querem ver que houve jogo além dos erros do árbitro ou do frango de Rui Patrício. É que houve mesmo, e deixou que contar:

1. O Benfica joga muito melhor no sistema de três médios pelo qual Jesus optou nas duas últimas partidas, ainda que negue a si próprio ter-se rendido ao 4x3x3, que considerou um dia como o "sistema mais fácil de anular";

2. Foi com a inclusão do terceiro médio que se libertaram (de algumas tarefas defensivas) os dois jogadores mais determinantes do processo de criação encarnado - Enzo e Gaitán. À subida de rendimento de ambos, muito mais que à eficácia de Cardozo, se deve a subida de rendimento da equipa;

3. O grande teste vem a seguir, a propósito da lesão de Ruben Amorim. Vai Jesus manter-se no rumo que valeu subida de rendimento imediata (promovendo André Gomes ou deslocando Gaitán para zona central) ou não resiste à enésima tentativa de provar que é possível ganhar com o sistema de quatro avançados?

4. A opção errada por Ivan Cavaleiro durante o jogo da Taça indicia que o técnico encarnado pode seguir a segunda via, que é a errada. No sábado, foi nessa substituição que entregou o domínio ao Sporting e quase perdeu uma eliminatória que estava ganha. Já Lima entrou tarde mas bem;

5. O Sporting não tem qualidade individual para competir com os grandes rivais, e essa discrepância de talento faz muita diferença em jogos como o de sábado. Comparar qualquer dos setores (defesa, meio campo, ataque) das duas equipas prova-o à exaustão, mais ainda quando o próprio Rui Patrício falha (que teoricamente o Sporting só leva vantagem no guarda-redes);

6. Há por isso grande mérito de Leonardo Jardim na forma como tem feito crescer o misto de jovens e estrangeiros (mais ou menos) desconhecidos com que criou o novo Sporting. Pelo coletivo bem trabalhado disfarça as limitações de orçamento;

7. Também nas substituições Leonardo Jardim esteve bem, sobretudo quando lançou Slimani para criar novos problemas à defesa do Benfica. E o argelino podia ter feito um hat-trick;

8. O futuro do Sporting depende da serenidade de um grupo de trabalho que deve - e merece - cumprir tranquilamente o seu processo de crescimento. As declarações desbragadas do presidente Bruno de Carvalho arrastam os adeptos para a ideia de que o Sporting só não ganha já a tua a gente porque forças ocultas o impedem. Além de fazer mal à equipa, não é verdade.

-Carlos Daniel, Diário de Noticias

Bagão Félix: 8 notas sobre o derby


1. Diga-se o que se disser, os jogos entre o Benfica e o Sporting continuam a ser o mais genuíno dérbi/clássico nacional. Com a radical rivalidade de quem quer vencer saborosamente o opositor (no campo), com o eterno fascínio da imprevisibilidade do desfecho, independentemente de quem está melhor ou pior, mas sem a obsessão doentia e a guerrilha figadal (fora do campo e às vezes dentro dele) de outros clássicos.

2. O jogo foi um hino à emoção imanente ao futebol. Esplendoroso e empolgante. Como, aliás, nos anteriores confrontos para a Taça. Agora 4-3, antes 5-3 e 3-3. Ao todo 21 golos, uma média de 7 por jogo! À inglesa.

3. No sábado, outra boa notícia: dos 28 jogadores, 11 eram portugueses. No Benfica, cinco (hélas, há quanto tempo!) e no Sporting, seis.

4. Escrevi aqui em Setembro de 2010: Cardozo, além de Óscar, é alcunhado de Tacuara. Por isso, os benfiquistas lhe exigem que seja como o que esta palavra significa em tupi-guarani: cana de bambu que chega a doze metros e é usada para fazer eixos de lança. Como os que, sob a forma de golo, marcou ao Sporting!

5. Em Atenas 7 oportunidades e 0 golos para o SLB, com Roberto a brilhar. Na Luz 7 oportunidades, 4 golos e duas bolas nos ferros, com o excelente Rui Patrício a falhar. Da ineficácia para a eficácia (ou vice-versa) em alguns dias.

6. Voltou o fantasma do minuto 92. Não haverá relógios que passem directamente do minuto 91 para o 93?...

7. E o espectro dos cantos e livres defendidos à zona. Este ano já vão 6, sem esquecer Chelsea e Estoril no terrível fim de época. O vírus da zona?

8. Que regresse depressa Ruben Amorim. 

- Bagão Félix, jornal A Bola, 13 de Novembro de 2013

Pedro Barbosa analisa o derby: Cardozo entrou para a história!


1. Que grande jogo! Eu já tive a felicidade de participar em jogos destes e por isso sei o que é viver aquele ambiente com a intensidade e entusiasmo de todos. Houve de tudo no derby. Espectáculo, emoção, paixão dos adeptos, erros e a incerteza no resultado. Mas infelizmente os erros de arbitragem continuam, algumas declarações no final e as situações com Jesus também. Já chega e o treinador do Benfica ainda não percebeu isso.

2. Jesus voltou a usar o desenho táctico de Atenas. Sentiu-se confortável? Foi para equilibrar a luta no meio campo? Não sei se o recuo inicial do Benfica foi estratégico ou se foi o Sporting que obrigou a isso, mas o Benfica sentiu-se cómodo. A verdade é que com Ruben Amorim este novo desenho ganha consistência, capacidade de pressão e intensidade e até ao momento um acréscimo de qualidade. Os golos deram-lhe tranquilidade e o controlo do jogo, mas a boa reacção do Sporting criou problemas.

3. O Sporting apresentou-se com identidade e foi fiel aos princípios que defende. A boa entrada em jogo, pressionante e a jogar no meio campo ofensivo prova isso mesmo. Mas o que retiro desta equipa foi a capacidade para reagir. Após o intervalo e uma desvantagem de dois golos, voltou ao jogo e sempre como equipa. Soube aproveitar as que são nesta altura as fragilidades do Benfica e durou até ao fim. Apesar da derrota, a equipa cresce e são este tipo de jogos que dão experiência e maturidade para outros confrontos.

4. Cardozo foi o homem do jogo. Hat-trick num derby coloca-o nesse patamar. Muito se fala de Cardozo, na relação que tem com os adeptos, mas ele faz golos. É um finalizador e voltou a decidir neste jogo. Não se movimenta muito, pouco entra no processo ofensivo da equipa, mas quando a bola aparece na área normalmente marca. Neste jogo tocou poucas as vezes na bola e foi tremendamente eficaz. De bola parada, de primeira numa boa jogada colectiva e na pequena área a cabecear com classe. Três momentos que lançam Cardozo para a história dos derbies.

5. Foram onze os portugueses que estiveram no derby. Muito bom olhando para o passado recente. Destaque para a vontade, alegria e dinâmica de Ivan Cavaleiro a mostrar a Jesus que tem de contar com ele. Os 30 minutos de André Gomes foram curtos. Tem qualidade para mais e é bom ver a personalidade e confiança que possui. Do lado do Sporting a juventude impera e tem sido normal. Adrien mais presente e activo e o Sporting melhorou. Gostei da irreverência de Carlos Mané. Sem medo, com velocidade e coragem a merecer outras oportunidades.

6. Rui Patrício errou. Com este lance já ninguém se lembra das boas defesas que fez. Nem da forma como fez a leitura certa do jogo que está a decorrer à sua frente. Seja através de uma saída fora da área ou a um cruzamento. Patrício fez tudo isso mas na sua posição não há ninguém para colmatar o erro. Para a história fica o golo que sofreu e não o bom comportamento geral. É a vida solitária do guarda-redes e o Rui sabe disso. É forte e tem capacidade para ultrapassar este momento.

7. William Carvalho continua a trajectória segura. Sereno, com personalidade marca o ritmo da equipa. Teremos surpresa no jogo com a Suécia?

8. Montero não marcou mas é um jogador de qualidade. Inteligente, sabe o que faz e os terrenos que pisa. A entrada de Slimani fê-lo baixar no terreno. Pode ser uma opção não só para o decorrer do jogo. O jogo da equipa passa a ser diferente mas ganha qualidade e mais presença na área.

9. O jogo também se fez nos bancos. E aí gostei dos treinadores. Diferentes, é certo, mas cada um com boa postura nas substituições. De certeza que Jardim mexeu com os jogadores no intervalo e foi colocando as fichas à medida do jogo. Foram acertadas e tiveram efeito prático. Foi ao limite e o erro deitou tudo a perder. Jesus, por outro lado, teve desde cedo o resultado do seu lado e foi gerindo o tempo e a equipa. Ter Lima para entrar no prolongamento fê-lo voltar ao figurino habitual de dois avançados e acabou por resultar.

10. As bolas paradas, por muito que Jesus não o admita, estão a ser um problema. A equipa tem revelado pouca concentração, posicionamento deficiente e passividade no momento de atacar a bola e os resultados estão à vista. É urgente reconhecer e atacar o problema porque a sensação que existe é que qualquer bola na área é um momento de aflição.

-Pedro Barbosa, Site Mais Futebol

José Marinho: Caiu o verniz em Alvalade, quando perdem a culpa é do árbitro


NOTAS DE UM DERBY MEMORÁVEL 

Grande jogo de futebol e um vencedor justo;

- Ressurgimento de Cardozo como melhor avançado do futebol português, de momento;

- Estranha apatia defensiva do Benfica nas bolas paradas que permitiu uma reacção do Sporting nos esquemas tácticos, o que nunca aconteceu em futebol corrido;

- Desta vez, parece que não há dúvidas de que Cardozo obteve mesmo um "hattrick";

- Caiu o verniz em Alvalade e pelas mesmas razões históricas. Quando perdem a culpa é do árbitro;

-Afinal Leonardo Jardim também fala da arbitragem. Curiosamente das duas vezes que o fez, foi para se referir a jogos com o Benfica. Antes do jogo do campeonato - convém recordar que o Benfica foi prejudicado de forma decisiva - e depois do jogo da Taça;

- Gaitán podia ser um dos melhores jogadores do futebol europeu? Podia, mas se calhar não era a mesma coisa.

- Rui Patrício é e será sempre um dos melhores.

- Gosto do estilo de Bruno Carvalho. Entre o presidente e o chefe de claque. A verdade é que está a resultar num clube com aquela estranha mania de superioridade moral e social. O que, como se sabe, não existe. Nem no futebol, nem na vida real.

-José Marinho, Facebook

Nélson Oliveira desvaloriza Cardozo: Não é o género de avançado que eu aprecio


Pouco preocupado em saber porque não ficou no Benfica, o dianteiro brilha no Rennes como consequência da confiança que lhe é dada pelo seu treinador.

Nélson Oliveira voltou a ser cedido pelo Benfica, agora ao Rennes, porque na Luz há Cardozo - um goleador que não lhe enche as medidas, preferindo... Ibrahimovic -, mas também Lima e Rodrigo. 

Emigrou e está em alta, a marcar golos e a realizar exibições de elevado quilate, porque, como refere em entrevista a O JOGO, sente que o seu treinador, Philippe Montanier, confia plenamente nas suas qualidades. Quanto a Jorge Jesus, que "tem a sua maneira de trabalhar", diz apenas que a confiança manifestada por um treinador é "meio caminho andado" para um jogador explodir. E, isso, o jogador de 22 anos está a conseguir longe da Luz.

Um dos seus concorrentes diretos na Luz, Cardozo, fez um hat trick no dérbi com o Sporting. O que achou da exibição do jogador paraguaio?

Não tive oportunidade de assistir ao dérbi. Cardozo é um excelente avançado, mas não é o género de avançado que eu aprecio.

-Noticia retirada do site do jornal O Jogo

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Miguel Sousa Tavares peremptório sobre o derby: Benfica ganhou bem e Duarte Gomes fez uma excelente arbitragem

 

Em minha opinião, o Benfica ganhou bem o derby de Lisboa: jogou mais, teve melhores ocasiões e esteve sempre por cima no resultado. Para além disso, teve um super-Cardozo - que, de há muito, eu considero, não o melhor jogador da equipa (esse é Gaitán), mas o mais valioso. 

Sorri ironicamente quando, no começo da época, se escreveram inúmeros textos a anunciar a sua iminente saída por desrespeito público ao treinador e aqui mesmo grandes benfiquistas explicaram veementemente que, com a sua continuação, estava em causa a dignidade da «instituição». E sorri, porque, infelizmente, nunca acreditei nesse hara-kiri, por parte da direcção. 

Como seria de esperar, Cardozo ficou e começou a marcar, como sabe: todos meteram a viola no saco e a Jorge Jesus até só faltou agora reivindicar a autoria dos três golos de Cardozo ao Sporting. Diz que foi o seu «instinto» que foi determinante para meter o Cardozo a jogar - como se todos nós, a começar por Leonardo Jardim, não soubéssemos que a alternativa não passou de um bluff pífio, pois que o «insubordinado» Óscar Cardozo é o ganha-pão de Jorge Jesus e de toda a equipa.

Quanto ao Sporting, jogou tudo o que tinha e indiscutivelmente melhor do que desde há muito. Mas, como já sucedera no Dragão, o que tinha não chegou e não foi capaz, mais uma vez, de tirar partido do cansaço europeu dos seus rivais. Como seria de esperar também, mandaram as culpas da derrota para cima do árbitro, porque a cultura de Calimero não desaparece facilmente (e, no dia em que desaparecer, o Sporting começa a ganhar). 

Eu achei a arbitragem de Duarte Gomes excelente, não tenho dúvidas de que o primeiro penalty reclamado não existe (o Montero vem por trás, interpor-se entre o pontapé de Luisão e a bola, só podendo ser atingido), e, quanto ao segundo, é daqueles que umas vezes são marcados, outras não. Os meus leitores habituais sabem que eu abomino estes penalties, em que praticamente se exige aos defesas que joguem sem braços, como se fossem decepados, e, sobretudo, acho que é próprio das equipas fracas reclamarem penalties destes, que, a serem marcados, caem quase sempre do céu, sem qualquer correspondência com as jogadas e com o mérito dos ataques. 

Mas já se sabe que o clube que anunciou ao mundo em comunicado que é dotado de uma «nobreza de carácter» de saber ganhar e saber perder, que não está ao alcance dos outros, terá sempre de encontrar um bode expiatório para os seus desaires. 

Desta vez, pelo menos, não foi a falta de cadeiras na cabina dos treinadores nem as bolas enviadas para a bancada que não foram devolvidas pelo público... 

- Miguel Sousa Tavares, jornal A Bola, 12 de Novembro de 2013

Fernando Guerra dizima Jorge Jesus: É o pior treinador da história do Benfica!



Toda a gente sabe que a coerência é um dos traços que mais vincadamente caracterizam a personalidade de Jorge Jesus. Palavra dita é amadurecida e opinião expendida é fruto de prévia e profunda reflexão. Outra situação, diametralmente oposta, é o que não diz e as pessoas teimam em garantir que disse ou pensou, não devendo faltar muito por isso, para, em reposição da verdade, vir a terreiro desancar quem ousou insinuar que ele sugeriu a dispensa de Cardozo ou admitiu haver falta de espaço para os dois coabitarem na estrutura do futebol profissional. 

A pré-temporada foi enriquecida pelo folhetim e não consta que, até determinada altura, coincidente com a realização do primeiro derby da época, na 3.ª jornada da Liga, em Alvalade, até esse dia, repete-se, não consta que alguma vez Jesus tivesse rejeitado o que fora noticiado sobre o assunto.

Pode concluir-se hoje, com as devidas reservas, que o empurrão em pleno relvado no Jamor, na derrota da final da Taça de Portugal diante do Vitória de Guimarães, não terá ultrapassado em gravidade as reaçôes a quente que serão normais entre atores do futebol. 

Tanto assim que, após o palpitante derby, Jesus entendeu esclarecer o País que Cardozo é «um finalizador, um goleador!». Deve reconhecer-se que é mesmo o máximo como treinador, pois teve feeling e, levado pela sua inatingível perspicácia, tomou a decisão «em boa hora»: a de utilizar o avançado paraguaio, o qual, pormenor que Jesus parecia ignorar quando definiu a equipa, representa 37,5 por cento do total de golos apontados pelo Benfica em 2013/14 e assinou 169 desde que foi contratado em 2007, dos quais doze (!) ao Sporting.

Pelos vistos, Jesus só descobriu isso no sábado passado... em que me parece ter atrapalhado de mais e orientado de menos. Com a qualidade do plantel que o presidente colocou à sua disposição, com Óscar, como lhe chama, em noite inspirada, três golos até ao intervalo, e com confortável vantagem no recomeço, deixar-se levar para prolongamento e precisar da cumplicidade de Rui Patrício para escapar ao sortilégio das grandes penalidades julgo ser mais de atrapalhador do que de treinador. 

É essa a sensação com que fiquei do jogo de Atenas, com o Olympiakos, e do da Luz, com o Sporting: os jogadores sabem fazer bem e sentem que podem chegar longe, mas há um pequeno problema chamado Jesus, o qual continua a valorizar a primeira pessoa do singular e a menosprezar o desempenho dos seus profissionais.

Objectivamente, feeling teve-o Luís Filipe Vieira ao arrastar a polémica de verão. Este plantel governava-se sem Jesus mas perdia-se sem Cardozo, o que conduz a uma evidência: se Jesus quisesse sair seria um respirar de alívio; se Cardozo mudasse de emblema seria uma enorme preocupação.

Regressemos, porém, à inabalável coerência de Jesus. Em meados de outubro, considerou prioritários o campeonato e a Taça de Portugal. Quinze dias depois, em Coimbra, em nova demonstração de estruturada linha de pensamento, não só proclamou justificadas pretensões na Champions, como, qual milagre, reivindicou a legitimidade de sonhar com a presença na final, em maio de 2014, marcada para o Estádio da Luz.

Mais fantástico ainda, como o trapezista no circo, em que a cada exercício se propõe arriscar a vida para fixar o interesse do público, o mesmo treinador que abominava o 4x3x3, vendo nele o sistema mais fácil de desmontar, apesar de André Villas Boas e mais tarde Vítor Pereira lhe terem provado o contrário, mudou de ideias, sabe-se lá por que circunstâncias, e, de repente, o modelo no qual não se cansou de bater é promovido a primeira escolha. Nenhum drama na mudança, refira-se. 

Grave, sim, é o Benfica ter tolerado a teimosia num conceito sem jeito. Por isso, na relação tempo/títulos, Jesus é o pior da história do Benfica. 

Por isso, quando se lhe exigia que somasse seis pontos nos confrontos com o Olympiakos, através de duas vitórias, averbou um e abriu a porta da Liga Europa, como lhe é habitual. Por isso, depois de se apanhar com a situação controlada com o Sporting, entrou em regime de contenção, permitiu a recuperação leonina e acabou imensamente agradecido ao seu anjo da guarda... 

Não sei se este plantel encarnado é o melhor dos últimos 30 anos, como alvitrou Vieira, mas é francamente muito bom. Tão bom que é capaz de obrigar Jesus a conquistar algum título... importante. 

- Fernando Guerra, jornal A Bola, 12 de Novembro de 2013