Poucas vezes um dérbi Sporting-Benfica terá começado com a balança da pressão tão desequilibrada. Apesar do Sporting jogar em casa, aquela imberbe equipa, que só merece o título de “bebés de Alvalade”, não deve ver a exigência dos adeptos subir à obrigação de vencer um Benfica que pode até segurar os seus jogadores com mais procura no mercado.
Já houve muitos dérbis em Alvalade onde o Benfica precisava mais de vencer – para as contas de um título – do que o de hoje. Mas este é, nas últimas décadas, o jogo entre os dois grandes em que o Benfica, apesar de visitante, mais obrigado está a ganhar. A experiência e categoria das peças ao dispor de Jesus suplanta à distância iguais fatores do grupo de Jardim.
Porém, se olharmos apenas para os primeiros dois jogos deste campeonato, o que nos foi dado ver? Vimos um Benfica com os jogadores ainda em busca da velocidade de arranque. O lance de Maxi Pereira, que deu o golo ao Gil Vicente, foi apenas o caso mais gritante de uma generalizada incapacidade no arranque. Vimos um Benfica sem poder concretizador que pudesse fazer esquecer o polémico Cardozo. Tanto Cardozo foi lembrado que ainda poderá assombrar este dérbi com a sua presença no banco de Benfica, qual fantasma temido, pronto a entrar nos últimos minutos.
Do lado do Sporting, o que vimos foi uma equipa sólida, humilde, bem gerida. Com extraordinária capacidade de fogo ofensivo. Vai ser interessante ver como se movimentará o ágil Montero no meio dos altos centrais do Benfica. Montero tem tanto futebol no corpo e na mente que parece estranho como esteve um jogador destes até aos 25 anos sem ser descoberto pelo futebol europeu. Com uma fluidez simples e enleante pelas alas, contra a equipa do Sporting corre muito o facto de ainda não ter sido verdadeiramente testada na sua solidez defensiva.
Em síntese, de um lado está um plantel riquíssimo, com um potencial de nível europeu, recheado de jogadores com dezenas de jogos ao mais alto nível. Do outro, entra uma equipa modesta, sem estrelas nem experiência acumulada em confrontos de alto risco. Como sempre, vai ser uma maravilha ver como competência, coragem, talento e sorte resolvem esta equação.
-Octávio Ribeiro, jornal Record