Rui Rangel: Renovação de Jesus e direitos televisivos

Na vida todos nós tomamos decisões que comportam riscos. Correr riscos faz parte do processo de decisão humano. Só comete erros e só corre riscos quem decide. O grave não está em decidir correndo riscos. Está na assumpção de responsabilidades, caso as opções de decisão venham a revelar-se um fracasso. A componente do erro também faz parte da decisão. A amplitude do erro e a sua consequente gravidade é amplificada se o processo de decisão assentar na vontade individual e não na vontade colectiva do órgão. Saber tirar as consequências de decisões que se venham a revelar um erro de palmatória é próprio dos grandes líderes. Humildade e responsabilidade são características da ética do exemplo. Uma decisão importante e decisiva pode ter custos elevados, quer a nível financeiro quer de outra natureza. O presidente do Benfica teve de decidir e decidiu sozinho, contra a vontade de muitos dos administradores da SAD, pela continuação do treinador Jorge Jesus. Decisão dificil, controversa e muito discutível. Jesus, por vontade exclusiva do presidente do Benfica, vai continuar na Luz, como treinador, por mais dois anos, com um contrato milionário que, sem se perceber, foi substancialmente melhorado. Estamos a falar de 5 milhões/ano. Esta operação tem riscos elevados para Luís Filipe Vieira e pode ter custos financeiros para o Benfica de grande monta, casos as coisas não corram bem. Jorge Jesus é, sem dúvida,o melhor treinador português, mas durante este tempo todo que já leva de Benfica não foi feliz. O Benfica não pode ficar refém do seu treinador. Os primeiros jogos da temporada que aí vem vão ditar a sorte de Jesus, a estabilidade de Vieira e a crise ou não no Benfica. Tendo sido esta a opção, quero a sorte de Jesus, que é também a minha e dos benfiquistas, a estabilidade de Vieira para bem de um Benfica ganhador e líder, que atire o Porto, em definitivo, para o 2º lugar do campeonato. Mas Jesus precisa de se reinventar, ser mais humilde, fazer uma melhor e adequada gestão de sentimentos e de ansiedades na sua relação com os jogadores, e não pode falar tanto. Precisa de falar menos e estar mais bem enquadrado pela estrutura do futebol. As consequências, como acima referi, pelo erro da decisão, têm que ser tiradas pelo seu responsável e assacadas ao seu autor. Mas se tiver acertado na decisão, com a conquista de títulos, tem de ser elogiado por todos. Outro risco que Vieira terá de correr prende-se com os direitos televisivos. Neste dossier importa ver o envelope financeiro dos direitos e a natureza da parceria, quanto à natureza da parceria só há um caminho, a não renovação do contrato com a Olivedesportos. Quanto ao envelope financeiro, importa saber se o momento de crise que o país atravessa e a ausência de títulos poderão galvanizar condições objetivas e subjetivas para ter uma plataforma televisiva rentável, que permita internacionalizar a Benfica TV, ou se devem ser repensados os valores que constam do contrato com a Olivedesportos. Duas decisões de risco imprevisível podem fortalecer ou fragilizar irremediavelmente Luis Filipe Vieira.» - Rui Rangel, jornal Record, 8 de Junho de 2013