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terça-feira, 14 de maio de 2013
Rui Dias tece rasgadissimos elogios a Enzo Pérez
Enzo Pérez precisou de aproximar-se da perfeição para se fazer notar. O médio-centro inventado por Jorge Jesus não alimenta a visão mentirosa da realidade que eterniza a associação à história por via de um segundo de inspiração em 90 minutos; antes consegue fazê-lo à custa de hora e meia a tomar decisões rápidas e acertadas para o equilíbrio e a segurança da equipa: se ocupa o espaço ou cai em cima da bola; se temporiza ou ataca o adversário; se alimenta a circulação ou conduz ele próprio a bola. Dono de visão e sentido estratégico apurados, interfere em todo o jogo a partir dos terrenos que domina. A articulação com Matic é sublime. Jogam de olhos fechados. De resto, muitos dos méritos atribuídos ao sérvio na sua época de afirmação no contexto mundial são da inteira responsabilidade do argentino.
Jogador silencioso, que rejeita o sorriso, não teme o conflito e amiúde promove a picardia, Enzo não gosta do futebol vendido para fora (entrevistas, marketing, publicidade...) mas sim de vivê-lo na plenitude do que o enaltece por dentro (orgulho, camisola, bola, treino, jogo...). Todo o seu comportamento recusa decisões que fragilizam o balneário; abalam os alicerces da equipa como família; danificam o orgulho de ser profissional; retiram força ao sentido de representação. Quanto à vertente estritamente técnica e tática, a conclusão é simples: como ala seria apenas razoável; como centro-campista é um portento de trabalho, ordem, disciplina, solidariedade, obediência, talento, aventura e irreverência. É um médio de nível internacional.
Enzo não é um extremo a desempenhar funções de coordenação geral com armas de quem cresceu junto às linhas; é um jogador da cabeça aos pés que adaptou estilo, competências e intervenção às necessidades da vida no centro do terreno, onde contribui para dar segurança atrás e clarificar a chegada à frente. E raro ver alguém conciliar o perfil de funcionário e patrão; bombeiro e arquiteto; polícia e ladrão; violinista e tocador de bombo. O seu futebol linear não aceita o adorno mas está repleto de elementos como eficácia, inteligência e soluções táticas. Depois de ter sido coroado rei e senhor no despique do Dragão frente a Fernando, Lucho e João Moutinho, Enzo Pérez prepara-se agora para testar a dimensão atingida nas novas funções em confronto com estrelas mundiais como Lampard, Ramires e Oscar.»
- Rui Dias, jornal Record, 13 de Maio de 2013
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