Noticias, Fotos, Videos, Resumos de Jogos e Artigos de Opinião acerca do Benfica e de tudo aquilo que o rodeia
quinta-feira, 31 de outubro de 2013
Vítor Serpa: Melhor comentário sobre Joseph Blatter foi de Jorge Jesus
Jorge Jesus foi lapidar na sua curta declaração sobre a despropositada atitude do presidente da FIFA na sua cena trágico-cómica sobre a comparação entre Messi e Ronaldo. Disse o técnico do Benfica: «O presidente tem de perceber que as vedetas no futebol são os jogadores.»
Nada do muito que entretanto foi dito, especialmente na velha Ibéria, me pareceu tão equilibrado, tão verdadeiro e tão assertivo. Tanto mais que Jesus tocou na ferida aberta de Blatter: uma profunda sede de protagonismo, uma quase descontrolada tentação pelo palco.
Criado em lume nem sempre brando pela figura patriarcal de João Havelange aquele que era, apenas, um desconhecido coronel do exército de um país desmilitarizado, tornou-se no braço armado do brasileiro que comandou e transformou a FIFA num género de Vaticano do futebol, um estado dentro de um estado.
Blatter foi um secretário-geral particularmente ativo, conheceu e viveu o sistema da organização e isso foi-lhe crucial na hora de disputar a cadeira de presidente a Lennart Johansson, o então presidente da UEFA.
Na cadeira presidencial, Blatter tornou-se um homem de enorme poder e não falo apenas de futebol. Usou-o com inteligência e com óbvios e notáveis proveitos, mas nunca perdeu a sedução pelo protagonismo. É um homem de vaidade pura. Um homem que, um dia, em Las Vegas, vi desafiar o grande comediante Robin Williams. O americano destroçou-o pelo ridículo.
Há quem diga que Blatter tem os tempos contados como presidente da FIFA. Pelo caminho da sua inquieta presidência foi, de facto, deixando demasiados inimigos. Não me parece que este lamentável incidente seja decisivo.
Platini é que gostaria que sim.
- Vítor Serpa, jornal A Bola, 31 de Outubro de 2013
Leonor Pinhão: Pinto da Costa fez as pazes com o Youtube
(...) TENHO visto muitos benfiquistas zangados - ah, aquelas coisas das rivalidades... - por no Museu do FC Porto existir um recanto todo dedicado ao golo do Kelvin, o golo que deu o título ao dono do museu na temporada passada.
Estão zangados pelo recanto em si - Espaço K, chama-se - e estão zangados porque o lance do golo é exibido ininterruptamente em ecrã gigante, desde que o feliz proscrito brasileiro pegou na bola até ao momento em que Jorge Jesus se ajoelhou.
Basicamente é isto. Uma homenagem à grandeza do Benfica. Vejam lá se no Museu do FC Porto existe algum recanto especial para aquele campeonato triunfalmente ganho ao Sporting com a mão do Ronny? Não. Claro está que não.
O Museu do FC Porto foi oficialmente inaugurado a 28 de Setembro mas só abriu portas ao público a 26 de Outubro festejando logo o seu 12.º aniversário. É muito mais antigo do que o Museu do Benfica.
Na cerimónia de abertura ao público, no fim de semana passada, o presidente do FC Porto disse que todos os dias revê o golo do Kelvin e que há dias em que vê seis vezes.
Ainda bem.
Graças ao golo do Kelvin o presidente do FC Porto fez as pazes com o Youtube.
- Leonor Pinhão, jornal A Bola, 31 de Outubro de 2013
quarta-feira, 30 de outubro de 2013
Bagão Félix: Benfica e Porto são equipas de Liga Europa
Na Europa acentua-se o fosso entre meia dúzia de clubes endinheirados ou propriedade de súbitas oligarquias predatórias e os outros que se esforçam por competir, pese embora a desigualdade de meios. Basta olhar para os nossos principais clubes, não obstante todos os desejos, sonhos ou ilusões.
Benfica e Porto só por acumulação de muitas circunstâncias favoráveis poderão almejar vencer a Liga dos Campeões. A sua liga é, de facto, a Liga Europa. E aí a (ingrata) questão que se lhes coloca (e a nós adeptos) é entre um lugar de apuramento na poule da Champions para cobrar um bom pecúlio financeiro ou, não o arrecadando, ter a possibilidade de chegar longe na 2.ª divisão europeia.
Desde que a Taça UEFA virou Liga Europa em 2009/10, Portugal teve 3 finalistas em 8 possíveis (Benfica, Braga e o vencedor Porto) e foi 8 vezes semifinalista (além dos clubes já referidos, o Sporting). É este o palco natural do nosso futebol.
Na Champions das mesmas épocas, o melhor que se conseguiu foi uns quartos-de-final com o Benfica (2012/13) e uns oitavos-de-final com o Porto (2009/10 e 2012/13). Todavia, no ranking (actual) da UEFA, o Benfica ocupa a 6.ª posição e o Porto a 9.ª, ao mesmo tempo que novos colossos de agora ainda não são relevantes nessa lista (p. ex.: PSG é o 20.º, Manchester City o 27.º e Mónaco nem consta dos 453 clubes!).
A democratização clubística no acesso português à Europa é de aplaudir, mas, em regra, segue-se-lhe o reverso da medalha. Sem o Sporting e o Braga, o perigo de retroceder no ranking dos países pode implicar menos e mais difíceis presenças na Champions. Um círculo vicioso.
- Bagão Félix, jornal A Bola, 30 de Outubro de 2013
Luís Freitas Lobo: Gáitan tem que jogar a 10
Tenho dificuldade em aceitar a facilidade com que se fala que o problema de uma equipa é mental. Claro que é importante, mas vejo esse impacto a condicionar mais no campo individual a execução dum jogador. Não acho, por isso, que seja esse o problema do Benfica. A questão é coletiva e o dilema tático atual é o mesmo de quando essa questão mental nem se colocava. Baseia-se no desequilíbrio do corredor central e espaço vazio excessivo que, muitas vezes, fica entre os dois médios e a dupla atacante. Tal sente-se, sobretudo, no momento de perda da bola, em jogos mais exigentes. Com esse terceiro médio, o onze pode ficar menos veloz a atacar, mas fica mais equilibrado.
O melhor jogador para fazer esse papel será aquele com maior intensidade e visão de jogo. Djuricic não garante isso. Quem podia, cada vez mais, ser protagonista desse upgrade tático é Gaitán. No flanco, joga bem mas fica taticamente subaproveitado. Dar-lhe o n.º 10 mudaria a forma de pensar da equipa, hoje com a mente presa a um sistema por natureza taticamente desequilibrado.
- Luís Freitas Lobo, jornal A Bola, 30 de Outubro de 2013
Rui Dias: A única salvação de Jesus
1. Os futebolistas são os primeiros a sentir as fraquezas de quem os comanda, sinal de que percebem automaticamente quando a rédea fica um pouco mais larga. Ao menor sinal de precariedade na posição do líder, os soldados têm a tendência natural para serem menos recetivos às ordens, aos conselhos e demais orientações. Na sua recente autobiografia, sir Alex Ferguson confirma a ideia: "No momento em que o treinador perde a autoridade, o clube deixa de existir. Os jogadores assumem o controlo e ficamos em apuros." Naturalmente Jorge Jesus viu a posição fragilizada no Benfica pelos acontecimentos na final da Taça de Portugal. Agora, só uma boa relação com o exército que comanda permitirá evitar a rotura.
2. Jesus pode receber o apoio do presidente, ver diminuída a contestação dos adeptos ou amenizar a revolta oriunda das mais diversas plataformas mediáticas; pode até ver fortalecida a tolerância face às explicações para o mau início de temporada; mas a chave para salvar-se está na gestão do dia-a-dia, em todos os elementos de relacionamento com a equipa e nessa paixão de uso quotidiano que é o treino. O atraso não é irremediável e tudo se resume agora a fazer com que uma sugestão volte a ser entendida como ordem; que qualquer ataque ao comandante recupere a dimensão de ofensa à pátria; que entre uns e outros se restitua uma relação de confiança para divinizar o compromisso dos jogadores com a bandeira, com a luta, com a vida que escolheram e com o homem que os lidera.
3. O Benfica não se contenta com vitórias sofridas, feitas de inteligência tática, pragmatismo e disciplina; desvaloriza os favores da sorte e não sabe viver em regime impessoal de formalismos, com ausência de afetos e cumplicidades. Ganhar só faz todo o sentido se as manifestações de superioridade forem indiscutíveis e os adversários se renderem à evidência; no fundo, é preciso cumprir os requisitos da arrogância dominadora cravada no ADN do clube e de que Jorge Jesus tem sido intransigente defensor. De resto, o maior problema não é a gestão dos recursos, muito menos a capacidade de cada elemento perceber o papel que lhe está consignado no plano global. A questão é que o Benfica tem sido, continuadamente, uma equipa estrita, formal e austera, que se limita a cumprir as linhas básicas da cartilha.
4. Tudo depende agora se a equipa recupera ou não o sentido de aventura e os valores adjacentes de exaltação, dinâmica, intensidade, autoestima... Os jogadores têm de aceitar a orientação que lhes é dada mas devem também dar cunho pessoal à execução. É como na música: pode tocar-se Mozart pela frieza de uma pauta ou interpretá-lo com a paixão e o génio de Maria João Pires, por exemplo. Não se trata de apelar à desobediência mas de recordar que ninguém atinge a excelência limitado a cumprir ordens. No clima tumultuoso da Luz, a paz só chegará com a esperança, tal como a harmonia só será duradoura se o general inculcar nos soldados o prazer pelo jogo e o orgulho de servir a causa. Só com uma relação global de compromisso a nau chegará a bom porto; só com os padrões estéticos e competitivos de outrora a família encarnada voltará a ser feliz.
- Rui Dias, jornal Record, 30 de Outubro de 2013
José António Saraiva espantado com resistência fisica dos jogadores do Porto
Muitas dúvidas desfizeram-se neste fim de semana. O FC Porto continua a ser a melhor equipa portuguesa. Contra o Sporting, pareciam seniores a jogar contra juniores. Todos os anos os seus adversários pensam: "Agora é que é!"
Mas sai Falcão, sai Hulk, sai Moutinho, sai James, muda o treinador - e a equipa mantém o nível. Porque vão saindo as pérolas mas não sai o diamante - que se chama Pinto da Costa.
Há uma coisa que impressiona muito no Porto: a resistência física, a presença em campo, a entrega total ao jogo. Os jogadores do Porto disputam cada lance como se dele dependesse a vitória ou a derrota. Fazem carrinhos, atiram-se ao chão, esforçam-se, fazem faltas - mas não deixam o adversário jogar.
O curioso é que, enquanto os jogadores do Porto disputam todos os lances no limite e não se lesionam, os do Benfica estão constantemente a lesionar-se.
Como estender isto?
Os de azul e branco esfarrapam-se todos e estão sempre aptos; os de vermelho parecem não querer sujar os calções e estão sempre magoados. No Benfica, as lesões sucedem-se a um ritmo estonteante. Um dia é Salvio, depois Amorim, depois Enzo, depois Markovic, depois Sulejmani, depois Fejsa, depois Gaitán, agora Siqueira. A que se deverá esta diferença abissal de resistência física?
Danilo, Otamendi, Mangala, Alex Sandro, Fernando, Josué, Martínez jogam sempre em alta rotação e estão sempre disponíveis; os do Benfica jogam um jogo e ficam de rastos.
Volto agora a um tema que já tratei: os corredores laterais do Benfica. A equipa parecia de início ter extremos a mais - e hoje não tem nenhum extremo realmente bom. Há uma esperança chamada Cavaleiro. Vamos ver se se confirma. Mas quando Salvio voltar o que será dele? Poderá jogar no lado esquerdo? E o que será de Gaitán? Fica como "vagabundo"? Uma coisa é certa: o Benfica só recuperará a alegria de jogar quando os corredores laterais funcionarem.
À 9.ª jornada, a equipa ainda anda à procura de soluções, como se estivesse na pré-época.
- José António Saraiva, jornal Record, 30 de Outubro de 2013
terça-feira, 29 de outubro de 2013
Nuno Santos: Canais de TV dos clubes portugueses são opções de risco
Em Portugal já tínhamos uma televisão de clube que era um Ovo de Colombo porque, ideia até ver brilhante, comprou alguns dos direitos mais apetecidos – como a Liga Inglesa – e fez sombra ao canal de desporto monopolista, a SportTV, há muito instalado no mercado; em Portugal já tínhamos uma televisão de clube que o é sem o ser, visto que pelo meio da programação desportiva e das entrevistas mais desejadas apresenta programas de entretenimento e noticiários regionais num modelo misto que, sendo e parecendo híbrido, tem tido boa aceitação. Ora, como se tudo isto não bastasse vamos agora ter uma terceira televisão de clube – as duas primeiras são de Benfica e FC Porto, a que segue é do Sporting – que tendo um modelo mais convencional, de transmissões de modalidades do clube e debates quer ter estúdios em três locais diferentes e meios ambiciosos mas tudo com valores que, mesmo em tempo de crise, não podem ser verdadeiros.
Em todo o mundo – e estamos a falar do primeiro mundo futebolístico –, os canais de clube surgiram com dois objetivos – divulgação da marca e dos seus interesses comerciais e corporativos e criação de comunidade. Em Portugal, apesar de os responsáveis pelos clubes portugueses conhecerem bem e terem visitado em muitos casos os canais estrangeiros, decidiram fazer quase tudo ao contrário e nalguns casos tomar verdadeiras opções de risco. A mais temerária é a da Benfica TV. Os responsáveis do projeto dirão hoje que ele já é sustentável e que será rentável (atenção, são dois conceitos diferentes) no futuro. Não tenho dados que me permitam aferir se é verdade ou não, mas tenho Domingos Soares de Oliveira, que lidera o projeto, na conta de um gestor sério e rigoroso, o que não é um detalhe. A opção que o clube fez por ficar com os jogos no seu canal, a par da compra da Premier League, permitiu-lhe também alguns importantes negócios além-fronteiras, onde a marca Benfica tem peso. O problema que existia, quer de direitos de transmissão quer de conflito de horários, será resolvido com o aparecimento de um segundo canal, ao que sei já aprovado pela Entidade Reguladora.
Será este negócio para continuar? Se perguntarmos aos responsáveis do Benfica, eles dirão que sim, fazendo o que lhes compete, mas existindo players internacionais que têm como atividade comprar, gerir e emitir desporto não devemos afastar a hipótese de um dia destes – num ano não muito distante – algo ser diferente na oferta desportiva da televisão em Portugal.
-Nuno Santos, jornal Record
Fernando Guerra rendido à obra de Vieira: É um grande líder, à imagem de Fernando Martins
Os anos passam e a memória esvai-se. Os problemas do presente são imensos e graves. Consomem-nos a vida. As pessoas estão perdidas e sem uma gota de esperança. Talvez lhes faça bem revisitarem o passado e tentarem descobrir nele exemplos de coragem e abnegação que venceram obstáculos colossais: como o do Benfica, em que se derrubou o impossível e de um amontoado de ruínas nasceu um estádio considerado o melhor do mundo, na relação qualidade/preço, pelo arquiteto australiano que assinou o projeto.
Eu próprio confesso a surpresa, ou o descuido, quando, na edição da última sexta-feira, a reportagem publicada em A Bola, da autoria do jornalista Fernando Urbano, me alertou para o décimo aniversário da data da inauguração do majestoso empreendimento. Logo me recordei do arranque de operação extraordinária que exigia denodada luta contra o tempo. Era preciso correr para concretizar obra de tamanha grandeza em 25 meses. Os jogos continuaram a realizar-se no antigo estádio. Inexplicável a sensação de se testemunhar a progressiva eliminação da bancada norte, como se implacável fenómeno da natureza tivesse cortado o estádio ao meio... até à demolição total.
Partindo atrasado na corrida para acolher o Euro-2004, comparativamente a FC Porto e Sporting, e numa situação de pré-falência, como vincou Manuel Vilarinho, o presidente na altura, a verdade é que, quando abraçou a empreitada, o Benfica não só deu início ao soberbo processo de recuperação, como provou que a chamada 'alma benfiquista' , não se explicando por definição, é qualquer coisa de místico que une os adeptos em torno de uma causa que atribui ao emblema da águia significado que o diferencia de todos os outros.
Afirmou o arquiteto Damon Lavelle que o novo Estádio da Luz «é uma verdadeira lição para todos». Foi desenhado para ser construído em «tempo recorde» e informou que tem conversado com pessoas em todo o mundo, garantindo tratar-se de «um estádio universalmente admirado pelo seu ambiente e energia».
Foi inaugurado a 25 de outubro de 2003 e Luís Filipe Vieira eleito presidente a 31, com 90 por cento dos votos, depois de ter acompanhado a par e passo o desenrolar da construção, então integrado na equipa de Vilarinho.
Seis dias separam dois acontecimentos que assinalam de forma indelével o despertar do 'Benfica do futuro': novo estádio e novo presidente.
Os 'ilusionistas' foram derrotados e os trapaceiros excluídos. Apregoam os maledicentes congénitos, porém, na falta de argumentos minimamente interessantes e convincentes, que um clube desportivo 'vive' de títulos e não de obras. Isso é verdade, em parte, e pode dar balanço em estratégias eleitoralistas, em que se promete muito para se dar pouco: se não houver obra também haverá sucesso! Depois de amanhã, Vieira completará dez anos na presidência e, em minha opinião, tem sido um grande líder desde o primeiro dia, à imagem de Fernando Martins, e de quantos o antecederam e contribuiram para enriquecer e expandir a instituição Benfica.
No espaço da Segunda Circular surgiu um complexo desportivo moderno. Há piscinas, pavilhões, ginásios e outras instalações. Há um museu inovador. Há zonas comerciais e de lazer. Há um estádio notável e admirado, razão pela qual vai receber a final da Liga dos Campeões, em maio de 2014.
No Seixal, há um centro de estágio bonito, de agradável enquadramento paisagístico e de reconhecida qualidade. Proximamente, mais e melhores condições em perspetiva para atacar o século com entusiasmo e confiança e ainda uma Casa do Jogador, ideia que demonstra a nobreza de caráter do presidente benfiquista.
Para ele, a gente é muito importante: com gente feliz o clube não vai parar de crescer. Pois é, insistem os vendedores de promessas: o Benfica constrói e o Porto ganha. Tem sido assim, de facto. Mais do que ninguém Vieira deseja inverter essa tendência e tem investido na valorização da equipa de futebol como provavelmente nunca se fez. Jesus não ajuda, mas parece-me condenável que muitos dos que aplaudiram a sua escolha se aproveitem agora da inépcia do treinador para atacarem o presidente, desvalorizando a obra e o homem. A isso chama-se ingratidão. E os ingratos nunca trazem nada de bom.
- Fernando Guerra, jornal A Bola, 29 de Outubro de 2013
segunda-feira, 28 de outubro de 2013
Vítor Serpa: Mudar ou não mudar Jorge Jesus
Que razões poderão levar um treinador que se mantém no mesmo clube por quatro anos e sem demasiadas alterações de jogadores a não conseguir atingir os mesmos níveis de qualidade exibicional da equipa, nem os mesmos níveis de resultados?
Esta é a pergunta essencial que o presidente do Benfica deverá fazer todas as manhãs, quando acorda atormentado pelo que vê e pelo que ouve. Mas é uma pergunta que precisa de resposta urgente.
O Benfica vive tempos de uma inquieta resignação perante a evidência de um futebol sem brilho e sem entusiasmo praticado por uma equipa desconchavada, mas onde se reconhece a existência de jogadores de qualidade e que, de repente, como se fossem atingidos por um raio negro, deixaram de saber jogar o futebol com que, antes, encantavam milhões.
Não é fácil, principalmente a quem está de fora, poder falar das causas da doença e, muito menos, receitar o remédio para a cura. Provavelmente, nem sequer é fácil a quem está por dentro e vive o dia a dia da equipa na relação direta com o seu treinador.
Não é fácil, principalmente a quem está de fora, poder falar das causas da doença e, muito menos, receitar o remédio para a cura. Provavelmente, nem sequer é fácil a quem está por dentro e vive o dia a dia da equipa na relação direta com o seu treinador.
Arrisquemos alguma coisa: a primeira ideia aponta para um problema de caráter psicológico. Do treinador e dos jogadores. Para sermos mais precisos, um problema mental (falta de confiança, diminuição de níveis de autoestima, cansaço psicológico) dos jogadores, causado por um problema mental do treinador (insegurança, indignação, intranquilidade e solidão).
Num clube em cuja estrutura envolvente do futebol profissional se diminui à custa da forte personalidade do treinador, o caso torna-se, evidentemente, mais sério.
Jorge Jesus precisa de urgente apoio e é verdade que Luís Filipe Vieira o tem dado publicamente, aparecendo, aqui e ali, a manifestar confiança no técnico e no homem. Como se tem visto, não chega e já não adianta a manifestação diária de confiança da parte do presidente. Não adianta e nem sequer se recomenda, pela ineficácia a que estará votada e pelo desgaste que, a ambos, provoca.
Jorge Jesus viverá, atualmente, uma fase de negação e de indignação. Sente-se sozinho contra o mundo e isso bloqueia-o mentalmente e inibe-o de encontrar as melhores soluções e a paz de espírito absolutamente necessária para poder ter a lucidez e a clarividência para chegar à solução.
A questão da substituição do treinador deve, assim, ser apenas questionada pelo Benfica e, de forma muito particular, pelo seu presidente, no momento em que chegar à conclusão de que, face às circunstâncias e à natureza da estrutura (ou da sua falta) não há condições para resolver o problema mental do futebol profissional do Benfica num quadro interno.
Julgo que a maneira triste e abatida como os jogadores encaram os jogos, diminuindo-lhes a capacidade competitiva e podendo, até, dar uma imagem falsa de ausência de condição física, se fica a dever, em percentagem elevada, à súbita ausência de capacidade de liderança do seu treinador. Não me interpretem mal. Não quero dizer com isto que Jesus tenha perdido, de repente, a autoridade junto dos seus jogadores. O que quero dizer é que nem sempre a autoridade é sinónimo de liderança.
Um líder só é líder quando influencia os homens e as mulheres com quem trabalha, quando os torna melhores, quando os convence de que aponta o caminho certo. Um líder só é líder quando gera, naturalmente, uma relação de confiança e de reconhecimento pelo seu saber, pelo seu exemplo, pela sua intrínseca respeitabilidade.
Pode parecer impossível que essas qualidades possam mudar de um momento para o outro, mas a verdade é que, mesmo quando não mudam, podem alterar-se. De forma definitiva ou provisória. Foi Ortega Y Gasset quem nos disse sabiamente que o homem é sempre ele e as suas circunstâncias. São, afinal, essas circunstâncias que podem alterar, mais do que a sua personalidade, as suas qualidades, as suas competências.
Vieira não tem pela frente uma decisão fácil, mas é uma questão que se resume a uma única pergunta, embora decisiva: Pode o futebol do Benfica ainda ter solução num quadro de soluções internas? Será sempre dele - e de mais ninguém - a resposta.
- Vítor Serpa, jornal A Bola, 26 de Outubro de 2013
João Querido Manha: Cardozo tem sido o anjo da guarda de Jesus
O número de jogos em que Oscar Cardozo vem salvando a pele de Jorge Jesus, marcando golos que vão adiando o agravamento de uma crise latente no Benfica, assume relevância especial por dois motivos: porque já não era suposto ele estar nesse lugar de salvador da pátria e porque acentuam o erro na resolução do incidente da final da Taça.
Desde que lhe foi permitido retomar o lugar na equipa, o paraguaio, sem deslumbrar nem empolgar, vai marcando o ponto, jogo após jogo, resolvendo situações de extrema dificuldade ofensiva que a equipa de Jesus vem revelando, como se colocasse em causa toda a estratégia e processos de um treinador que fez nome pela agressividade e capacidade "artística" dos seus atacantes. A inferior estética do varão paraguaio tem sido, ao longo dos anos motivo para muitos analistas colocarem em causa a sua importância e até os seus méritos como melhor goleador estrangeiro da história do clube, tendo atingido nesta semana uma cifra de 34 golos nas provas da UEFA que dificilmente será igualada.
O Benfica tem uma tradição de exigência teórica nunca satisfeita, sempre em busca do avançado ideal. Lembrando Jardel que não foi contratado ao Grémio porque só marcava golos e não sabia jogar (sic). Lembrando Jimmy Hasselbaink que não vestiu a camisola encarnada porque era demasiado barato (idem). Lembrando os nórdicos Magnusson e Manniche que passaram à história por serem altos e toscos.
O que aconteceu neste ano, depois do incidente do Jamor, foi que muitos benfiquistas festejaram o fim da carreira do paraguaio, exorbitando um problema disciplinar que podia e devia ter sido resolvido em 24 horas com uma multa e pedido de desculpas público. Mas todos achavam que assim se viam livres de um jogador que apenas marca golos e raramente se destaca em notas artísticas ou jogadas de mágica. Até Jesus parecia inebriado com a substituição do paraguaio por um leque de artistas da bola oriundos da brilhante escola sérvia.
O que a dura realidade veio demonstrar, porém, é que sem o velho e desengonçado Oscar, bem afundado em problemas andaria Jorge Jesus por estes dias. Ninguém o pode garantir, mas talvez as vitórias em Guimarães e no Estoril e os empates com Belenenses e Olympiacos nunca tivessem acontecido, e o Benfica contasse menos 5 pontos na Liga e menos um na Champions. Para Jorge Jesus, Oscar tem sido um anjo da guarda, para a equipa um, abono de família, para os adeptos, sempre, um mal-amado.
- João Querido Manha, jornal Record, 25 de Outubro de 2013
Rui Santos: Qual é a utilidade de Rui Costa no Benfica?
Afinal, qual é a utilidade de Rui Costa no Benfica?
Um extraordinário ex-jogador não consegue níveis de excelência similares como dirigente. Porquê? Por culpa própria ou por falta de autonomia? Ou por uma questao de "gestão de poderes", uma vez que entre Vieira e Jesus, duas personalidades com características muito próprias, não sobra espaço para mais ninguém? Ou será que o Benfica está a pagar agora a Rui Costa aquilo que Rui Costa prescindiu no seu regresso ao Benfica, independentemente da avaliação das competências enquanto director e administrador?...
Ter sido um grande jogador de futebol provoca um grande fascínio nos adeptos e aumenta a tolerância sobre quem, como é o caso de Rui Costa, desempenha agora funções directivas, exactamente no grande clube da Luz. Não há, contudo, muitos exemplos de excelentes jogadores que se tenham transformado em melhores técnicos ou dirigentes, em comparação com o desempenho enquanto atletas de alta competição.
Nem Di Stéfano, nem Garrincha, nem Puskas, nem Pelé, nem Bobby Charlton, nem George Best, nem Eusébio, nem Maradona nem Gullit, nem Van Basten nem Ronaldo nem Zidane atingiram noutras funções no futebol a preponderância e o reconhecimento público que alcançaram, enquanto eméritos executantes. Há os casos distintos de Platini (presidente da UEFA), Beckenbauer (presidente honorário do Bayern), Hoeness (presidente do Bayern), Rummenigge ("chairman" do comité executivo, também do Bayern), mas, sem embargo de reconhecer que todos atingiram posições de relevância enquanto dirigentes, nada se compara ao brilhantismo que alcançaram enquanto futebolistas: Há ainda o caso de Guardiola. Muito bom jogador (sem ter sido fora de série), que se transformou num treinador de "top", com uma carreira fantástica no Barcelona (aproveito para sublinhar o peso de ex-grandes jogadores, transversalmente, na estrutura actual do Bayern). Sem esquecer, obviamente talvez o caso de maior sucesso de um nome que foi um jogador de excelência, capaz de estender essa excelência ao cargo de treinador (campeão europeu ao serviço do Barça): Johan Cruijff!
Quando Rui Costa regressou ao Benfica ainda para jogar, em 2006, os encarnados recuperaram as recordações deixadas pelo Maestro, durante 3 épocas, no começo da década de 90. E cedo se começou a gerar a ideia que Rui Costa poderia ser, a prazo, presidenciável. Como se viu, nem todos os ex-grandes futebolistas dão excelentes presidentes ou mesmo directores. Uma coisa é certa: Rui Costa foi um executante de eleição, mas ainda não se percebeu o que vale enquanto dirigente. Porque, neste aspecto, a sua permanência na Luz vem sendo muito errática, com altos e baixos e aquilo que de mais seguro se pode dizer a este respeito é que Rui Costa, enquanto dirigente, continua a ser uma... promessa adiada.
Essa imagem de ex-jogador presidenciável talvez tenha provocado algum deslumbramento inicial no próprio Rui Costa, como director-desportivo (2008), mas talvez o tenha prejudicado na mesma medida, uma vez que os holofotes chegaram a estar centrados na sua figura, mais do que para o presidente, Luís Filipe Vieira. Por outro lado, quando Jorge Jesus entra na Luz e consegue de imediato o título de campeão nacional, que já fugia ao Benfica há 5 e... 16 anos, o protagonismo transferiu-se todo para Jorge Jesus, o que concorreu para que Luís Filipe Vieira recuperasse as rédeas do regime presidencialista. Rui Costa iniciou então um período de ocaso e reclusão, de acordo com a conjuntura e só volta a ser falado como alguém com alguma preponderância na estrutura depois de Jorge Jesus (e Vieira) terem falhado, por muito pouco, a reconquista do título nacional. Coisas de conjuntura, um tanto ou quanto caprichosas. Ficámos a saber por LFV, numa entrevista televisiva, a influência de Rui Costa na preparação desta época, designadamente na contratação dos jogadores sérvios. O que significa que LFV quis tornar clara a responsabilidade efectiva de Rui Costa naquilo que já aconteceu e vai acontecer nesta época de 2013/14...
O Benfica está a pagar agora a Rui Costa aquilo que Rui Costa prescindiu no seu regresso à Luz? Não será talvez um acerto de contas contratual, mas é o reconhecimento (do lado dos encarnados) de uma decisão, em tempos, aparentemente sentimental. A pergunta faz todo o sentido porque nunca Rui Costa revelou desconforto em ser uma espécie de "rainha de Inglaterra" no Benfica.
Parece óbvio, no entanto, que o Benfica ainda não encontrou a melhor forma de compatibilizar, sem hipocrisias, as pedras angulares do seu futebol. E já houve tempo e oportunidade(s) para isso...
- Rui Santos, jornal Record, 26 de Outubro de 2013
sexta-feira, 25 de outubro de 2013
Paulo Olavo e Cunha muito critico com Jesus: Deve treinar mais e falar menos
O antigo presidente da mesa da Assembleia Geral do Benfica e membro da lista derrotada nas últimas eleições afirma que a equipa de futebol "está sem rumo e sem motivação".
O ex-dirigente considera que Jesus "devia treinar mais e falar menos". Olavo e Cunha defende que o treinador não deveria ter continuado esta temporada. "Devia ter havido mudanças", defende, justificando que a época teve uma final "desastroso".
O antigo dirigente benfiquista diz que "não gostava de estar no lugar de Luís Filipe Vieira", mas também entende que "deve haver estabilidade".
Momento de forma é inquietante
Embora ache que o "campeonato não está perdido", Olavo e Cunha vê uma grande "falta de motivação e jogadores que não rendem metade do que rendiam o ano passado". O advogado revela inquietação pela forma como a equipa tem jogado, considerando que parece estar "sem rumo e sem motivação".
Apesar de achar que o Benfica não está arredado da luta pelo título, Olavo e Cunha pressiona o presidente encarnado quando diz que este "corre o risco de incumprimento eleitoral", se não for campeão no final da temporada. Recorde-se que o actual presidente prometeu ser campeão três vezes em quatro anos e falhou o objectivo, na primeira temporada.
-Noticia retirada do site da Rádio Renascença
José Marinho: Jesus está esgotado e vai esgotar o Benfica
O que se está a passar no Benfica, com resultados pobres e exibições confrangedoras, é resultado de uma dependência quase obscena do clube em relação à capacidade do seu treinador para se constituir como factor de equilíbrio na luta pelos títulos com o FC Porto. É verdade que Jesus cometeu demasiados erros, durante quatro anos, que impediram até que os adeptos se juntassem no Marquês, para festejar, pelo menos, mais dois títulos nacionais. Mas também é verdade que a capacidade demonstrada pela equipa para estender até ao fim essa incerteza no campeonato, deveu-se, em grande medida, ao mérito indiscutível de Jorge Jesus.
Nos últimos dois anos, o Benfica não ganhou os campeonatos, mas objectivamente podia e devia tê-los ganho, porque foi a melhor equipa da competição. Durante quatro anos, a estrutura do Benfica escondeu-se atrás do mérito, do carisma e da personalidade do treinador, suspirando pelos títulos e rezando para que Jesus resolvesse tudo. Não resolveu e agora Jesus aparece esgotado e sem aparente capacidade para devolver, pelo menos, o bom futebol à sua equipa.
Agora, que o treinador deixou se constituir como o factor de equilíbrio entre o Benfica e o FC Porto, começa a emergir, de novo, a insuficiência de tudo o que rodeia o plantel do Benfica e de todo o ambiente estrutural que devia compensar, como noutros clubes, um momento de fraqueza do seu treinador. Ou seja, agora devia ser a estrutura a levar Jesus ao colo, como, durante quatro anos, aconteceu precisamente ao contrário.
E é aqui que chegámos ao ponto. Jesus está esgotado e com isso vai esgotar o Benfica, a sua equipa e os jogadores.
Ao contrário de muitos benfiquistas, não creio que o actual problema do Benfica se consiga alterar com a mudança de treinador. Do modo como estão as coisas, provavelmente Jesus acabará por deixar o Benfica da mesma forma que o encontrou. Amorfo, bisonho, complexado e desorientado. Gosto de recorrer à memória para colocar as coisas em perspectiva. Foi assim que Jesus encontrou o Benfica.
Provavelmente é assim que Jesus deixará o Benfica. Sem que o clube e quem o dirige percebam onde está, efectivamente, o problema, nenhum outro treinador mudará nada de substancial na relação cada vez mais viciada entre o Benfica e o insucesso. É nisso que se devem concentrar os adeptos que, nos dias de hoje, se agitam a pedir a cabeça do treinador. Não é apenas ele que está esgotado é todo um modelo de governação no clube que, durante quatro anos, se escondeu atrás do sucesso relativo do futebol espectacular e empolgante que Jesus devolveu ao clube. Tudo o resto é conversa fiada e apenas servirá para adiar a resolução de um problema que se arrasta há mais de vinte anos e que os últimos presidentes do Benfica nunca conseguiram resolver.
-José Marinho, Facebook
quinta-feira, 24 de outubro de 2013
José Manuel Delgado elogia atitude dos adeptos no jogo com o Olympiakos
Os campeões fazem-se com resultados e quem disser que prefere uma derrota jogando bem a uma vitória jogando mal ou é hipócrita ou é um tonto rematado.
Mas a psicologia do adepto tem outra vertente que transcende vitórias e derrotas e que é a da identificação com a equipa. Nesse aspeto o jogo de ontem foi muitíssimo curioso. Os benfiquistas não andam satisfeitos com a vida, a amargura do final da época passada não foi ultrapassada e na presente temporada não houve exibições que fizessem esquecer o Dragão, Amesterdão e o Jamor.
Neste contexto difícil, com o Benfica em desvantagem e a jogar mal (primeira parte pobrezinha...), a verdade é que o Terceiro Anel percebeu a vontade dos jogadores e identificou-se com ela, vestiu a camisola e apoiou a equipa como ainda não o tinha feito em 2013/14.
Quer isto dizer que há outras dimensões para além do ganhar e do perder, do jogar bem e do jogar mal. Não sei se os jogadores, técnicos e restantes responsáveis do Benfica se aperceberam do que aconteceu ontem: quando podiam ter voltado as costas, a equipa pediu e os adeptos deram-lhe a mão...
- José Manuel Delgado, jornal A Bola, 24 de Outubro de 2013
Leonor Pinhão: Estamos mais talhados para a Liga Europa
1-1 como Olympiakos e muitos assobios no fim do jogo para a equipa do Benfica que, ontem, só começou a correr quando Cardozo, sempre ele, aproveitou uma má saída de Roberto, sempre ele, para empatar.
Resumindo, foi um jogo sem qualquer espécie de novidade. O paraguaio marcou um golo e o espanhol ofereceu outro golo. Onde é que já vimos isto?
Cardozo viria à flash interview dizer que o resultado foi positivo atendendo às circunstâncias. Concordo inteiramente. Com o empate de ontem o Benfica pode ter ficado mais longe da Liga dos Campeões mas ficou mais perto da Liga Europa, prova para a qual, atendendo às circunstancias, estamos mais talhados. E sem drama.
- Leonor Pinhão, jornal A Bola, 24 de Outubro de 2013
Vítor Serpa: Benfica está muito doente
Não há máscara que consiga disfarçar aquela triste primeira parte do Benfica. E se for verdade o que o presidente do clube anunciou, que o Benfica terá o melhor plantel dos últimos trinta anos, então também será verdade que, com esse plantel, o Benfica apresenta uma das piores equipas desses mesmos trinta anos.
O Benfica tem de aceitar que a sua equipa de futebol profissional está doente. Muito doente, mesmo. Pode ser discutível a causa, mas não pode ser discutível o facto. Enquanto o Benfica não encarar com frontalidade e sentido de realismo essa evidência, a equipa continuará a arrastar pelo mundo um futebol indigente, sem chama, sem classe e sem força.
Durante toda a primeira parte, afinal o tempo em que ainda foi possível jogar futebol, quando toda aquela chuva ainda não tinha desabado sobre a Luz, o Benfica viu o seu adversário jogar, falhar oportunidades e marcar um golo. Foi o tempo em que o Benfica jogou só com os olhos, parado quando atacava e parado quando defendia.
Uma equipa, assim, sem dinãmica e sem determinação, é uma equipa sem a mais pequena hipótese de ter expressão competitiva, muito menos quando pisa o palco da maior prova de clubes da Europa.
Sinceramente, não sei se o problema está em Jorge Jesus, se os jogadores estão psicologicamente cansados ou fisicamente inaptos para o jogo. Sei que entre a derrota de terça-feira do FC Porto e o empate de quarta do Benfica há um abismo de atitude, de coragem e de ambição a favor do campeão nacional.
O que quer dizer que nem sempre os resultados dizem tudo sobre a realidade do futebol.
- Vítor Serpa, jornal A Bola, 24 de Outubro de 2013
quarta-feira, 23 de outubro de 2013
Bagão Félix irónico com a produção salivar de Josué
Josué foi suspenso um jogo por uma alegada cuspidela num adversário. Um castigo (em função da volumetria salivar?), tal qual o que resulta de um 2.º cartão amarelo por se festejar um golo sem camisola.
Josué - recorde-se - tem dois clubes, o Porto e o anti-Benfica, e duas certezas na carreira: a primeira é a de que um dia iria voltar ao FC Porto e outra é de que nunca jogaria no Benfica, «Sou do FC Porto e toda a gente que é deste clube não gosta do Benfica.»
Brilhante foi a coincidência de ter sido pela primeira vez titular na Selecção Nacional na semana do castigo! O que evidencia a plenitude ética do nosso futebol. E quem sabe a diferença epistemológica entre cuspidela e salivação.
Tudo se explica por uma razão mais ou menos científica: é que 99,42% da saliva é água, pura e cristalina. O resto do fluido é formado por proteínas e sais minerais, certamente saudáveis. Além disso, a produção diária varia entre 1 e 1,5 litros pelo que há necessidade de, por vezes, a escoar mais depressa.
Também é sabido que as glândulas salivares recebem ordem do cérebro, o que para alguns faz crescer a água na boca em certas situações. Neste caso, só gostaria de saber se o cérebro actuou por excesso de zelo portista ou antibenfiquista. Como diz a adivinha: sem ser comida ou bebida, entro na digestão, sem ser dada nem pedida, cumpro a minha obrigação. E como bem diz o adágio sul-americano é tudo uma questão de tempo: el que escupe para arriba, le cae la saliva en la cara.
Afinal em que ficamos: é o futebol um jogo impróprio para cardíacos ou será mais próprio para jogadores salivosos e escolhas salivantes?
- Bagão Félix, jornal A Bola, 23 de Outubro de 2013
terça-feira, 22 de outubro de 2013
Ainda bem que não temos a espinha dorsal da Selecção Nacional
As promessas eleitorais queimam. No futebol, como na política, o que se promete em campanha e depois não é cumprido é cobrado com juros. Com as expectativas não se brinca e de frustração em frustração, as lideranças vão caminhando para um lento declínio. Quando se dá por ela já não há nada a fazer.
Recordei-me disto a propósito de uma promessa que tem sido feita por vários candidatos a presidente do Benfica e que fica invariavelmente por concretizar: "O Benfica será a espinha dorsal da Seleção", terá prometido Luís Filipe Vieira há uns anos, repetindo uma promessa antes feita por esse personagem de farsa que dá pelo nome de Vale e Azevedo.
Sabem que mais? Ora aqui está o caso de uma promessa que podemos agradecer nunca ter sido cumprida e, aliás, a crer em declarações recentes do presidente já não faz parte dos objetivos estratégicos - "o Benfica não irá ser uma equipa de portugueses no futuro, porque o futebol é global". Se, por absurdo, o Benfica tivesse hoje a espinha dorsal da Seleção Nacional, teríamos uma equipa pouco competitiva e incapaz de gerar mais-valias financeiras.
Ao contrário do que tem sido dito, a classificação e as exibições de Portugal na qualificação para o Mundial não surpreendem. O que foi surpreendente foi a campanha no último Europeu.
A Seleção é hoje composta por um jogador de eleição (Ronaldo) acompanhado por dois de classe mundial (Moutinho e Pepe) e dois acima da média (Coentrão e Patrício); depois sobra uma mão-cheia de jogadores entre o mediano e o sofrível. Fazer diferente seria surpreendente.
Agora imagine-se uma equipa do Benfica à imagem da Seleção. Tendo em conta que Ronaldo, Moutinho e Pepe nunca estariam, nesta fase da carreira, ao alcance financeiro de um clube português, por esta altura, estaríamos condenados a jogar com João Pereira, Meireles, Miguel, Micael e no ataque divididos entre Hélder Postiga e Hugo Almeida. Penso que estamos conversados quanto à espinha dorsal.
- Pedro Adão e Silva, jornal Record, 22 de Outubro de 2013
Fernando Guerra lança violento ataque a Jorge Jesus
Com a jactância que lhe está enraizada, Jorge Jesus promoveu a vitória tangencial sobre os amadores do Cinfães a acontecimento de amplidão nacional, por ter sido alcançada num quadro de muitos riscos por ele próprio criados, convém que se diga, em nome de objetivos que convidam a diversas interpretações. Sinceramente, não sou capaz de alcançar se a irresponsabilidade que rodeou a abordagem deste jogo resultou de um plano convictamente desenhado ou se se tratou de simples birra de alguém que, há meia dúzia de meses, em intervenção na Faculdade de Motricidade Humana, se autoconsiderou treinador/cientista, sem medir a extensão da bizarrice.
É evidente que não há problema em tê-lo dito; preocupante, porém, é estar convencido disso...
Como se sente em patamar superior em relação a quantos o rodeiam, vira as costas ao contraditório, aceita mal opiniões que divirjam das suas e foge da troca de ideias, como forma antiquada de se resguardar, principalmente ao nível dos principais emblemas, num período em que para se ter sucesso no futebol é preciso dominar saberes à margem das táticas tal como eram interpretadas e aplicadas até há dez/quinze anos.
Jesus foi irresponsável porque apresentou uma equipa com valor suficiente para vencer, como se verificou, mas sem proteção para reagir a qualquer eventualidade, uma lesão, ou duas, o que não seria inédito esta época, uma expulsão, um golo adversário.
Como se sente em patamar superior em relação a quantos o rodeiam, vira as costas ao contraditório, aceita mal opiniões que divirjam das suas e foge da troca de ideias, como forma antiquada de se resguardar, principalmente ao nível dos principais emblemas, num período em que para se ter sucesso no futebol é preciso dominar saberes à margem das táticas tal como eram interpretadas e aplicadas até há dez/quinze anos.
Jesus foi irresponsável porque apresentou uma equipa com valor suficiente para vencer, como se verificou, mas sem proteção para reagir a qualquer eventualidade, uma lesão, ou duas, o que não seria inédito esta época, uma expulsão, um golo adversário.
Quem se sentou no banco? Bernardo Silva (jogou 10 minutos), mais Bruno Varela, Mitrovic, João Cancelo, Rúben Pinto, Hélder Costa e Harramiz: que estranha e ousada aposta nos jovens futebolistas da águia! Devido a imperativos de gestão do plantel? Em Outubro? A ser verdade das duas uma: ou Jesus tomou consciência do erro que cometeu ao desvalorizar a participação na Liga dos Campeões a seguir ao colapso de Paris e ficou atrapalhado com o Olympiakos, na Luz, amanhã, por causa das imprevisíveis consequências que outro resultado negativo poderá suscitar, pondo todos os titulares em regime de repouso obrigatório e prolongado, ou, incomodado pela pressão que lhe é dirigida no sentido de olhar com outros olhos para os miúdos, optou por intolerável extravagância, partindo do princípio que, com mais ou menos dificuldade, ganharia.
Se desse para o torto e... perdesse, então não mais o aborreceriam com minudências como essa da formação. É claro que a entidade patronal sairia fortemente penalizada, mas no outro prato da balança o seu ego ficaria imensamente reforçado. Porque é assim que ele se revê, sempre na primeira pessoa do singular: aos outros apenas atribui relevância quando precisa de justificar as derrotas...
Confesso a minha surpresa por se ter recordado de Luís Filipe Vieira, declarando que o investimento em gente jovem e com potencial se trata de um projeto do presidente e que ele, Jesus, mais não é do que peça da estrutura. Imagina-se quanto lhe terá custado aceitar publicamente que ainda há alguém a quem deve obediência, mas mais vale tarde do que nunca. Se a prorrogação de contrato foi de difícil digestão, face à ausência de resultados que o justificassem e por números que ferem a benevolência do mais tolerante dos adeptos, era o que faltava que fosse permitido ao treinador, ao fim de quase cinco anos, continuar a pavonear uma soberba que colide com a história e grandeza do Benfica.
Filipe Vieira talvez entenda mais de futebol do que aquilo que pretende fazer crer. Não sobre estratégias, linhas baixas ou altas, corredores, diagonais, transições, todas essas coisas, mas numa perspetiva mais abrangente do fenómeno. Sabe como é importante a qualidade da formação e a valorização que dela deve ser feita.
Ao contrário, Jesus não lhe dispensa especial atenção. É por isso que este exemplo de Cinfães, além de ato isolado, teve tudo para trazer água no bico. Desconheço por que motivo o presidente, que vê muito mais longe do que o treinador, enveredou por uma solução que tinha tudo para dar errado, mas por ser um admirador da obra erguida, espero que conclua a sua fantástica empreitada, que engloba a construção de uma Casa do Jogador, e não se deixe entorpecer pela megalomania de Jesus.
- Fernando Guerra, jornal A Bola, 22 de Outubro de 2013
domingo, 20 de outubro de 2013
Vítor Serpa: Jesus não foi muito exigente em Cinfães
Para já, não houve tomba-gigantes nesta jornada da Taça. Mas houve festa do futebol, houve clima especial, houve pequenos que tiveram até ao fim a esperança de serem grandes.
Aquele que, para já, mais se destacou foi o Cinfães. Recebeu o Benfica e perdeu apenas por um muito escasso golo. Mas não foi apenas a questão do magro resultado, foi a determinação, a personalidade, a generosidade de uma equipa que sabendo o mesmo que todos nós sabemos sobre a colossal diferença de meios para lutar de igual para igual com o Benfica, fê-lo com coragem e com intensidade de jogo, valorizando - e muito - o espetáculo.
Apesar de ter ganho, apenas, por tão magro um a zero, Jorge Jesus ficou contente. Ao que explicou no final do jogo, porque já sabia que se as coisas não corressem bem as pessoas iam falar. Disso, de facto, Jorge Jesus não pode ter qualquer dúvida. Se as coisas não tivessem corrido bem, o que, no caso, se pode significar se o Benfica não tivesse ganho ao Cinfães, seria mais do que expectável que as pessoas viessem falar no assunto. Mais do que falar seria quase impossível que não criticassem duramente o Benfica e o seu treinador.
Diz Jesus que arriscou muito, ao apostar numa equipa de jovens. A questão que se levanta é esta: se Jorge Jesus não arriscasse uma equipa de jovens (aliás, nem todos) com o Cinfães, com quem haveria de arriscar?
Diga-se, em abono da verdade, que o treinador do Benfica não foi muito exigente. A vitória chegou-lhe para tirar, de cima dos ombros, peso na consciência. Pessoalmente, penso que não devia chegar. O Benfica foi de menos, sobretudo se admitirmos que até teve jovens promessas a confirmarem-se, como foi o caso de Ivan Cavaleiro (e não foi o caso de Funes Mori). Mas concordo que essa foi a única mais-valia que o Benfica pode ter encontrado no jogo. Cavaleiro vai chegar longe!
- Vítor Serpa, jornal A Bola, 20 de Outubro de 2013
sábado, 19 de outubro de 2013
Paulo Gonçalves confirma ter sido ameaçado por Antero Henrique
Paulo Gonçalves e João Gabriel, respetivamente assessor jurídico e diretor de comunicação da SAD do Benfica, foram ouvidos ontem nos Juízos Criminais do Porto no âmbito de um processo por crime de difamação agravada movido por Antero Henrique, diretor-geral da SAD do FC Porto, contra Luís Filipe Vieira, presidente dos encarnados.
Na base da queixa estão declarações proferidas pelo dirigente benfiquista numa entrevista à RTP1, emitida a 17 de julho de 2008, na qual, comentando desenvolvimentos do processo Apito Dourado, equiparou o clima que se vivia no futebol «a um estado siciliano» na sequência de uma alegada ameaça de Antero Henrique a Paulo Gonçalves no final de uma assembleia geral da Liga, em maio de 2008, e terá associado o nome do dirigente dos dragões a dois assaltos realizados à sua residência.
Na sexta-feira, Paulo Gonçalves confirmou perante a juíza a ameaça feita por Antero Henrique.
«Na assembleia geral estava a falar sobre uma questão dos regulamentos da arbitragem e ele, sem permissão, usou da palavra para dizer que esse assunto não era para ser ali tratado, ao que respondi, como provocação, reconheço, que ali era exatamente o local para o fazer e não no Calor da Noite [n.d.r.: casa de alterne no Porto]...», explicou, revelando ao pormenor o que se seguiu: «Estava com o António Oliveira [Estrela da Amadora], Miguel Carvalho [Trofense], Marco Couto [Aves] e no final o Antero Henrique veio na minha direção e pensei que me ia cumprimentar, mas apertou-me a mão, puxou-me e sussurrou-me ao ouvido: ‘Se voltas a falar no Calor da Noite, espero por ti lá fora e levas um estalo. Respondi-lhe, de forma grosseira, ‘Estás maluco Antero? Vai-te mas é f...’ Depois, para evitar problemas, mantive-me mais algum tempo dentro da Liga. Mas quando saí o Antero Henrique estava no seu jipe preto acompanhado de uma pessoa e arrancou ao mesmo tempo que eu. Depois passei no semáforo amarelo e ele ficou no vermelho. Pode ter sido coincidência...»
Este episódio, lembra, foi imediatamente relatado a Luís Filipe Vieira, que deu indicações expressas para que «sempre que me deslocasse ao Porto fosse acompanhado de segurança», garantindo que foi alvo de ameaças através de SMS, cartas anónimas enviadas para a sua residência e inclusive num faxe enviado para o Benfica.
Já João Gabriel negou que na preparação para a entrevista concedida por Luís Filipe Vieira o assunto da ameaça de Antero Henrique tivesse sido aflorado: «O presidente é uma pessoa espontânea e descreveu, perante a insistência da jornalista, o seu estado de alma.»
O julgamento prossegue na próxima sexta-feira, às 14 horas, nos Juízos Criminais do Porto, dia para o qual está previsto o depoimento de Luís Filipe Vieira, presencial ou através de vídeoconferência. Para o dia 8 de novembro, também às 14 horas, serão ouvidas mais três testemunhas arroladas pela defesa do presidente do Benfica.
-Noticia retirada do site do jornal A Bola
Rui Santos demolidor com profissionalização dos árbitros: Sistema faliu e é falso como Judas
A profissionalização da arbitragem não vai resolver nenhum dos seus problemas: a opacidade e a falta de lógica no processo de nomeações e os erros grosseiros protagonizados pelos árbitros. O sistema faliu e querem atirar-nos poeira para os olhos.
O futebol, pela dimensão que a respectiva indústria alcançou, em vez de se livrar das suas imparidades e de expulsar os batoteiros, continua a arranjar esquemas para albergar gente sem escrúpulos, que se desdobra em expedientes para çondicionar a verdade desportiva. É preciso combater a proliferação dos resultados combinados que já é mais do que uma ameaça. Não são apenas os mecanismos que tornam os árbitros mais ou menos favoritos deste ou daquele presidente ou dirigente; deste ou daquele clube. Eram os árbitros, depois passaram a ser os "fiscais de linha" (hoje denominados árbitros assistentes), e a certa altura já se viam jogadores a entrar no carrossel.
Quer dizer: é através do controlo do sector da arbitragem que se chega muitas vezes à vitória quando, em campo, as equipas não são capazes de se superiorizar através de argumentos técnicos, tácticos e físicos, mas hoje em dia a "sofisticação da batota" alcança outros mecanismos a partir dos quais é possível retirar importantes benefícios. Na realidade, há já um caudal de notícias que nos alertam para o que pode estar por detrás dos fundos de jogadores. A não identificação dos nomes relacionada com a titularidade desses fundos e a suspeita de envolvimento de paraísos fiscais em todo o processo, com a cada vez maior certeza de que há gente nos clubes a servir os interesses dos fundos (com benefícios directos e indirectos), torna tudo mais nebuloso e os futebolistas não são mais do que marionetas, convencidos de que os seus créditos também são grandes e compensatórios. Se juntarmos a tudo isto o impacto das apostas online e dos seus "circuitos paralelos", perceberemos que está cada vez mais difícil acreditar no que vemos acontecer dentro das quatro linhas: "Se as pessoas perceberem que os jogos são combinados, vão preferir ver novelas", sentenciou esta semana Maradona.
O controlo da arbitragem foi sempre a maior das preocupações de alguns dirigentes do futebol português, porque era a maneira mais fácil de obter um penálti, uma expulsão, uma falta à entrada da área, um fora-de-jogo numa situação não muito fácil de descortinar ou validar um golo conseguido de forma irregular.
A preocupação continua válida, porque a natureza de certas decisões, sobretudo em lances de dúvida, pode valer muitos pontos (no começo dos campeonatos, ganhar vantagem é muito importante...), mas a industrialização do futebol e as largas somas de dinheiro que movimenta apurou outros mecanismos que colocam em causa a verdade desportiva.
A discussão que, neste momento, domina a actualidade do futebol nacional- a profissionalização da arbitragem - corresponde a uma perda de tempo. São toneladas de areia atiradas para os olhos dos portugueses.
Não é que a profissionalização não encerre algumas coisas positivas, mas o actual regime paraprofissional já oferece às equipas de arbitragem condições muito razoáveis. Condições financeiras, administrativas, logísticas e, também, de treino.
O aumento do número de jogos e, para os internacionais o maior número de jogos no exterior torna mais difícil a dispensa nos respectivos locais de trabalho. A profissionalização apenas agiliza a vida dos árbitros. Quando deveria estar em causa a melhoria do sector, isto é, gerar condições para que o erro de arbitragem não tivesse tanta influência nas finanças dos clubes. Um golo mal (in)validado ou uma decisão errada pode corresponder, em certas situações, a prejuízos de milhões de euros. E é isto que ninguém parece querer discutir...
Quantas toneladas mais vão ter de nos atirar para os olhos para evitar que se compreenda que o rei vai nu e que esta é mais uma forma de perpetuar um sistema que está anquilosado e é falso como Judas?...
O futebol é um jogo maravilhoso. Só não pode ser compaginável com a batotice. Para isso, o input tecnológico é crucial e decisivo. É a partir dele que se pode travar esta sensação de perda. Porque o futebol só conservará a sua dimensão de desporto universal se conseguir expulsar aqueles que colocam em causa a sua credibilidade e integridade.
- Rui Santos, jornal Record, 19 de Outubro de 2013
Octávio Ribeiro arrasador com Jorge Jesus: Quando o FC Porto se agiganta, Jesus agacha-se
Se dúvidas houvesse sobre o facto de Jesus não saber jogar para ganhar frente ao FC Porto, todas se desvaneceriam quando Jorge Jesus respondeu ao ataque de Pinto da Costa. O presidente do rival do norte ironiza com a data em que sairá o castigo de Jesus - "lá para o verão" - e Jesus o melhor que consegue é responder que isso só o valoriza, pois assim se vê a sua relevância no banco do Benfica.
Que resposta tão pífia. É só olhar para o passado recente de contas por prestar na justiça, desportiva e mesmo penal, para descortinar várias respostas bem mais úteis aos interesses do Benfica. Mas Jesus sempre tem sido assim. Quando o FC Porto se agiganta, Jesus agacha-se.
Isto quando não cai mesmo de joelhos. Não se percebe esta atitude continuada de um técnico que enverga o emblema do Benfica há tantos anos e a quem o clube já terá garantido proventos que permitem mais do que uma reforma descansada.
Não está sequer provado se não será mesmo um desejo de Pinto da Costa aquilo que todos tomámos por mais uma ironia do grande declamador de José Régio. Pensemos um pouco: que cenário melhor pode desejar Pinto da Costa no banco do Benfica do que o de Jorge Jesus a inventar táticas mirabolantes sempre que joga contra o FC Porto?
Quem passe em revista os últimos embates decisivos entre Benfica e FC Porto, se deseja um prolongar se vitórias portistas, só pode rezar para que Jesus se mantenha hirto no banco do Benfica por muito tempo. E que o Benfica continue com este o técnico de discurso dócil sempre que se trata de dar troco ao grande patrão do Dragão. Tão estranha é esta subserviência. Ou não?
PS - A Seleção voltou a jogar mal, sem brilho, frente a mais um adversário da cauda da Europa. Algo está mal no ambiente entre os comandados de Paulo Bento. Está chegado o momento de forçar uma conversa com alguns dos craques, olhos nos olhos. Ronaldo e Nani não precisam de privar como amigos, mas têm de ser irmãos de objetivo comum dentro do campo. A incapacidade empática entre estes dois jovens criativos é tão gritante que, ou Paulo Bento concilia água e azeite, ou o melhor será prescindir de Nani para o playoff.
- Octávio Ribeiro, jornal Record, 19 de Outubro de 2013
sexta-feira, 18 de outubro de 2013
Afonso de Melo: Pinto da Costa não mete medo a ninguém
1. Há as encomendas - de entrevistas, de faixas de Campeão, de árbitros amigalhaços para fazerem os fretes do costume, e há as comendas das ditas encomendas. O presidente da Major República de Gondomar aplicou ao presidente do Porto uma comenda de bem comer ou uma bebenda de bem beber, para o caso pouco importa. Foi bonito. Primeiro porque os personagens se merecem amplamente um ao outro; depois porque foi na comarca de Gondomar que o presidente do Porto se tornou no «Campeão Nacional dos arguidos do Futebol português». O único título, ao que sei, que recusa generosamente e pelo qual, também generosamente, resolveu chamar-me a tribunal.
2. E é através dos tribunais, geralmente situados a Oeste de Pecos, que me vou apercebendo da refinadíssima sensibilidade do presidente do Porto. Aborrecido, amachucado, angustiado (segundo testemunhas suas) por uma frase vaga de um artigo meu, que referia haver gente que continua a meter medo nas redacções dos jornais, seguro de que era o alvo único de tão arrasadora pilhéria, avançou de novo para o colo dos juízos à procura de conforto. Acho que ainda vou ter de afirmar na barra que, na verdade, ele não mete é medo a ninguém.
3. Fico a saber - sim, porque não faço tenções de lá pôr os pés - que o museu do Porto, que já foi inaugurado mas estranhamente ainda não abriu, tem um carro pendurado num dos tectos. A imagem trouxe-me à lembrança uma velha viagem de finalistas a Torremolinos. Havia uma discoteca, chamada Piper's, que tinha uma moto pendurada sobre a pista de dança. Para a canalha com pouco mais de 16 anos era um sucesso. Depois crescemos e a ideia que fica é que é simplesmente parolo. Muito parolo!
- Afonso de Melo, jornal 'O Benfica', 18 de Outubro de 2013
António Varela ataca Paulo Fonseca: Perdeu vontade própria e tem falta de fair play
Ninguém percebeu exatamente qual o nível de detalhe que Paulo Fonseca exige para poder observar a cuspidela de Josué em Luís Dias do Arouca, mas tornou-se óbvio que, depois das declarações feitas ontem, nem o microscópio mais potente lhe permitiria alcançar a precisão do jato salivar. Simplesmente, o treinador do FC Porto recusa ver aquilo que os órgãos disciplinares entenderam punir com um jogo de castigo e 383 euros de multa.
A penalização de Josué foi curta, mas o alcance das palavras de Paulo Fonseca é longo. Na verdade, há fenómenos que jamais mudarão, tal o nível de aculturação dos profissionais contratados pelo FC Porto, por muito encartados que sejam. Perdem vontade própria, deixam até de ver aquilo que não lhes convém: faltas inexistentes a punir o V. Guimarães; comportamentos reprováveis dos seus jogadores. Mas não deixam de ampliar o que lhes fere a alma: penáltis inventados no Estoril; golos em fora-de-jogo do Atlético Madrid. A isto chama-se falta de fair play, desrespeito pelo adversário e pelo público.
Nesta errância não entrou Leonardo Jardim, ao declarar cruamente que os treinadores dos três grandes não devem queixar-se das arbitragens, por serem normalmente os mais beneficiados. E não poupou nas palavras: "Seria uma hipocrisia". Tal franqueza valeu-lhe elogios de norte a sul; mas também algumas censuras internas no Sporting mais radical, que não tolera um treinador anjinho na chefia do futebol e clama por justiça no prejuízo, assobiando para o lado no benefício.
Depois do trajeto brilhante no P. Ferreira, pontuado por uma liderança certeira, sem espaventos, e pela competência que o FC Porto entendeu não deixar escapar, Paulo Fonseca deixou-se apagar por uma máquina uniformizadora que castra a iniciativa dos seus, e transformou-se na última grande deceção do futebol português, tal e qual um "paineleiro" das televisões, capaz de ver apenas consoante a cor dos óculos que leva postos. Mais do mesmo.
Jorge Jesus afirmou ontem ter consciência da sua atuação no relvado de Guimarães, pedindo para que os órgãos disciplinares não o transformem em caso exemplar. Já vai tarde. O treinador do Benfica nunca deve perder o sentido da responsabilidade que é liderar a equipa de futebol do clube onde os adeptos são muitos milhões. Mal ou bem, Jesus já sentirá o efeito de sopro de um sistema que busca incessantemente a regeneração. Castigado Josué num "timing" decente, dificilmente haverá contemplações para um treinador-judoca em defesa de adeptos invasores do relvado.
-António Varela, jornal Record, 18 de Outubro de 2013
quinta-feira, 17 de outubro de 2013
Leonor Pinhão: Peço desculpa a Nuno Marçal
Não me importa se a sopa estava a ferver, ou morna, ou fria. Não me importa se o basquetebolista Marçal do Maia Basket é o mesmo basquetebolista Marçal do FC Porto que tanto se enervou quando o Benfica foi ganhar o campeonato da modalidade na casa do Dragão. Já passou, já lá vai.
O que se passou no restaurante Terceiro Anel, para além do pecado do desperdício, foi mau. Mau para o Benfica que, alheio ao incidente como ninguém duvida, vê o seu bom nome envolvido numa cena a todos os títulos lamentável.
Pela parte que me toca, e eu não estava lá, peço desculpa ao basquetebolista Marçal. Faço-o com toda a franqueza. Não sou nem mais nem menos benfiquista do que os discóbolos da sopa. Sou apenas pelo Benfica e pela civilização. As duas coisas ao mesmo tempo, de preferência.
- Leonor Pinhão, jornal A Bola, 17 de Outubro de 2013
Pedro Santos Guerreiro: Toni é que sabe
Toni afirmou há dias, num debate na Benfica TV, que Portugal está cheio de treinadores de bancada, gente que tem mania que sabe de futebol e não se coíbe de opinar sobre os jogos, as equipas e as cores das botas. E para ilustrar esta afirmação, Toni deu um exemplo concreto: eu. Fez muito bem.
Fez mesmo bem, não estou a ironizar, não há melindre. Toni disse que até eu, um jornalista económico, falo de futebol. E brincou dizendo que ele próprio também gostaria de comentar a economia.
Toni tem razão: não dei conta que algum jornal tenha convidado um treinador de futebol para comentar a proposta de Orçamento do Estado que há dois dias a ministra das Finanças apresentou à Assembleia da República.
No meu caso, a humildade é prévia: nesta coluna escrevo quase sempre sobre aspetos da economia do futebol. Felizmente (às vezes infelizmente) nunca, me falta assunto. Os adeptos não têm hoje como não estar atentos a aspetos essenciais ao equilíbrio financeiro dos clubes, aos salários dos jogadores, às suas dívidas, receitas e custos. Só muito raramente escrevo sobre jogos e normalmente só para celebrar um feito da Seleção Nacional ou uma conquista europeia de um clube. Mas se me perguntarem o que acho de extremo-esquerdo qualquer, respondo na ponta da unha, com mais certezas do que Copérnico tinha sobre a centralidade do universo.
O futebol é assim, vive de paixões e de envolvimento. É natural que isso seja irritante para quem tenha estudado, para quem faça disso profissão, para quem tenha triliões de horas de jogos com braçadeira de treinador. Mas é também isso que enche estádios, que faz abrir as goelas, palpitar o coração ou gelar o sangue.
Os jogadores fazem rolar a bola, os treinadores fazem mover as equipas e os adeptos fazem girar os clubes. E não falta quem, já agora, avalie os árbitros. Começando pelos... treinadores.
Já agora: na economia não é assim tão diferente. Não há cão nem gato que não dê opinião sobre impostos, desemprego ou PIB. E neste caso, mesmo que se digam muito erros, ainda bem. Porque é importante que sintamos o que nos rodeia como nosso.
- Pedro Guerreiro, jornal Record, 17 de Outubro de 2013