Três anos e meio depois da chegada de Jorge Jesus ao Benfica, o Seixal continua a registar enchentes em dia de treino.
Jesus ganhou um campeonato e três Taças da Liga, o que, em três temporadas, está muito longe de ser brilhante.
Para os próximos quatro anos, por exemplo, Luís Filipe Vieira já disse que quer três campeonatos e uma final europeia. É fácil perceber, pois, que Jesus conseguiu poucos títulos até agora.
Mas, então, por que correm as pessoas para os treinos? E por que continua a Luz a registar assistências tão boas?
Porque este "Benfica-projecto-de-JJ", mesmo com todos os erros já cometidos, teve o enorme mérito de conseguir restabelecer com os adeptos uma relação de proximidade que não existia há muitos anos.
Marés vermelhas existem sempre e especialmente quando a equipa está em alta, como agora. A diferença, neste caso, é que os quatro anos de Jesus rompem com a normalidade. Para os padrões nacionais, este tempo é uma eternidade. E, no entanto, na Luz ou no Seixal o entusiasmo não só se mantém como às vezes até parece aumentar.
Para se entender melhor este fenómeno de longevidade basta lembrar o que foi a quarta época de Jesualdo Ferreira no FC Porto ou a de Paulo Bento no Sporting e a que ponto chegou, em qualquer dos casos, a relação dos dois treinadores com as bancadas do Dragão e de Alvalade, respetivamente.
Jesus está em 1° lugar, a equipa joga a um nível alto e há novos "produtos" em acelerada valorização - como Garay, Matic, Ola John ou André Gomes.
Existem excelentes perspetivas para novas vendas milionárias, na linha daquilo que foram os negócios de David Luiz, Javi García, Di María ou Ramires. E em tudo isto não pode deixar de ser reconhecido o mérito do técnico, que nalguns casos (como o de Melgarejo) chega a parecer visionário.
A realidade é que, mesmo neste enquadramento tão positivo, JJ está a apenas seis meses de terminar contrato.
Primeira possibilidade para ainda não ter havido renovação: o Benfica "não pode" ter um treinador que em quatro épocas vence só um campeonato. E precisa de saber; portanto, se JJ conquistará esta Liga.
Segunda possibilidade: Jesus não quer continuar. E se for esta a razão? »
- Nuno Farinha, jornal Record, 28 de Dezembro de 2012